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Fátima Baroni Tonezer

Adultização infantil ou infantilização adulta?

calendar_month 1 de setembro de 2025
4 min de leitura

O que vem primeiro, o ovo ou a galinha? Ditados à parte, este é um assunto sério, que ganhou destaque nas mídias em agosto deste ano. Vivemos tempos em que as fronteiras entre infância e vida adulta parecem cada vez mais borradas. Este é um tema que abrange tanto a psicologia do desenvolvimento infantil quanto as consequências sociais e emocionais que surgem na vida adulta. É psicológico, emocional, político e social. Porque não tem como desconectar nossa infância e seus acontecimentos da nossa vida adulta e nossas decisões e escolhas.

O QUE É ADULTIZAÇÃO INFANTIL?

O que vem acontecendo há muito tempo é que cada vez mais as crianças vêm sendo expostas precocemente a conteúdos, responsabilidades e pressões que não correspondem à sua idade, física e mental, e isso chama-sa adultização infantil. Meninas cobradas a “serem vaidosas”, meninos estimulados a “serem fortes”, crianças submetidas a rotinas exaustivas de estudo e desempenho. Tudo isso rouba algo essencial: o direito de viver a infância em sua forma mais pura, feita de brincadeiras, erros, descobertas e proteção.

E não estamos falando disso somente pela erotização e sexualização de nossas crianças. Sim, isto é um absurdo inominável. E muitas vezes, cometidos por pais desavisados, que, na ânsia de mostrar seus rebentos e ganhar curtidas, descuidam do uso que essas fotos e material pode ter nas redes, por pessoas mal-intencionadas.

Para além desse ponto, muitos outros acontecem disfarçados de “preparar meu filho para o mundo”. Pais orgulhosos porque o filho/a deixou as fraldas com um ano e pouco; estimulam a criança a ler e escrever antes da fase de alfabetização; expõem a criança a telas desde o berço; meninas que se maquiam desde pequenininhas, criança que não gosta de brincar, prefere jogar videogame.

São muitas situações e listar todas é extenso. Mas a ideia é entender que qualquer atividade que retira da criança a exploração do mundo, com suas possibilidades e tridimensionalidade, está pulando etapas do desenvolvimento saudável. E nos primeiros anos de vida nosso cérebro ainda não está preparado para lidar com pressões, tarefas e emoções que não são adequadas para nossa idade. Aliado ao fato de que quando uma criança está sendo criança, correndo, explorando o mundo, desafiando, logo se busca um diagnóstico que engessa a criatividade e desenvolvimento normal da infância.

INFANTILIZAÇÃO ADULTA

São homens e mulheres que, por diferentes razões, traumas, dependência emocional, falta de preparo para lidar com a autonomia das demandas da vida, permanecem presos em papéis imaturos, esperando que alguém cuide, decida ou assuma responsabilidades por eles.

E esse é o outro extremo da adultização infantil. Adultos, com ou sem filhos, mas que não desenvolveram maturidade para assumir responsabilidades nem para cuidar de si próprios, muito menos para educar ou proteger alguém. Para a psicanálise, a maturidade emocional não é uma questão de idade.

Adultos que permanecem infantilizados carregam feridas psíquicas profundas que nunca foram elaboradas. Vieram de famílias onde terapia era tabu e abusos eram normalizados ou silenciados. Sem consciência, reproduzem padrões que aprenderam, movidos pela compulsão à repetição, esse mecanismo inconsciente que nos empurra a reviver, no presente, dores do passado.

CUIDAR DO DESENVOLVIMENTO SAUDÁVEL

A infantilização impede que o adulto ocupe seu lugar de autoridade e responsabilidade. Surge a inversão de papéis. A criança é chamada a preencher funções que não lhe cabem, seja sustentando financeiramente, seja regulando o estado emocional do adulto. A Psicologia mostra que estes dois fenômenos se entrelaçam: crianças adultizadas tendem a crescer com lacunas emocionais, desenvolvendo dificuldades em se autorregular, em confiar e até em sustentar relacionamentos saudáveis. Enquanto a infantilização na vida adulta pode ser reflexo justamente de uma infância em que não houve espaço para ser criança, ou em que as responsabilidades foram desproporcionais.

Cuidar da infância é também cuidar da vida adulta do futuro. E escolher crescer, mesmo depois de uma infância roubada, é um ato de amor-próprio. E se este texto tocou você, compartilhe com outras mulheres que também precisam desse alerta. Juntas podemos nos cuidar melhor.

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Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

 
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