Eu acredito que todos os homens e as mulheres nascem com talentos. Mas, se olharmos o que já foi escrito, falado ou descrito a respeito de hábitos e das vidas psicológicas, muito pouco ou quase nada se tem sobre mulheres talentosas, brilhantes, criativas. Na verdade, muito foi escrito, porém, a respeito das fraquezas e defeitos dos seres humanos em geral e das mulheres em particular.
Por outro lado, temos muitas mulheres artistas, cantando e exaltando o lugar das mulheres. Uma destas cantoras é Iza (@izaoficial), com sua música “Dona de mim”, onde ela canta […] Já me perdi tentando me encontrar. Já fui embora querendo nem voltar. Penso duas vezes antes de falar […] Sempre fiquei quieta, agora vou falar. Se você tem boca, aprende a usar. Sei do meu valor e a cotação é dólar. […] Me perdi pelo caminho. Mas não paro, não. Já chorei mares e rios… Mas não afogo, não […].
Essa música é um grito de alguém que está se buscando e descobrindo que tem valor.
O QUE ISSO SIGNIFICA?
Fomos ensinadas a dar prioridade ao outro, a cuidar de todos. E algumas mulheres amam com tanta intensidade que se esquecem de si. Se doam inteiras, se moldam para caber em espaços apertados, silenciam o incômodo, aceitam migalhas, tudo em nome do amor, da aceitação e do pertencimento. Mas no fundo, não é amor o que sentem. É medo. Medo de não serem queridas, medo de serem deixadas, medo de não serem suficientes.
E esse medo, geralmente, não nasce na vida adulta. Ele se forma bem antes, na infância ou adolescência, quando aquela menina aprendeu que, para ser aceita, precisava agradar. Quando entendeu que mostrar tristeza, raiva ou vulnerabilidade era perigoso. Quando percebeu que, se não fosse “boazinha” o tempo todo, o amor podia ir embora.
Essa menina cresceu e virou mulher. Mas dentro dela, o padrão se repete: ela aprendeu a amar os outros, mas não a si mesma. Aprendeu a cuidar, mas não a se cuidar. Aprendeu a se adaptar, mas não a se expressar. Amar, para ela, sempre significou se abandonar um pouco ou muito.
POR QUE ISSO ACONTECE?
Na Psicologia, especialmente na Terapia do Esquema, chamamos esse padrão de esquema de subjugação. É quando a pessoa se acostuma a sufocar suas necessidades, opiniões e emoções para evitar conflitos ou rejeição. É um jeito de sobreviver emocionalmente, especialmente se, lá atrás, ela foi punida, ignorada ou criticada por ser quem era.
E isso não é fraqueza, é adaptação. É a forma como o cérebro aprendeu a garantir um mínimo de afeto e pertencimento, mesmo que isso custasse demais. Só que na vida adulta, esse padrão cobra um preço alto: relações desequilibradas, cansaço profundo, sensação de invisibilidade e, muitas vezes, tristeza.
É POSSIVEL MUDAR ESSA SITUAÇÃO?
Sim, é possível aprender a amar sem se abandonar. Exige coragem, mergulhar dentro de si e questionar o que está sentindo, o que está precisando naquele momento. Entender por que está calando, se por amor ou por medo!
É um processo de se escolher aos poucos. De estabelecer limites sem culpa. De dizer “não” sem medo de perder o amor do outro. De confiar que a mulher que você é hoje pode cuidar daquela menina ferida e mostrar a ela que amor também pode ser espaço, respeito, reciprocidade. E, sim, pode doer. Porque escolher a si mesma, depois de anos vivendo para os outros, pode parecer egoísmo, mas não é. É autocuidado e reconstrução.
Acredite, você não está sozinha. Muitas mulheres estão vivendo esse desafio em silêncio. Por trás de sorrisos, de uma vida aparentemente “em ordem”, há um coração exausto de tanto se adaptar. Se esse texto te tocou, talvez seja hora de se olhar com mais compaixão, buscar ajuda. De conversar com outras mulheres que também estão nesse caminho de retorno a si mesmas. Amar sem se abandonar é possível. E começa quando você decide, pela primeira vez, que sua voz merece ser ouvida, inclusive por você mesma.
E se este texto tocou você, compartilhe com outras mulheres que também precisam desse alerta. Juntas podemos nos cuidar melhor.
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Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755