Como a responsabilização precoce molda mulheres exaustas?
Já conversamos em outra oportunidade sobre a adultização infantil e suas consequências na vida das crianças que sofrem com isso. E é importante ressaltar que essa adultização não se refere somente à erotização e à sexualização precoce, mas também à busca de preencher padrões sociais e atender crenças familiares.
Quando a criança é tirada de seu lugar de ingenuidade, de ser cuidada, e se coloca sobre ela a responsabilidade de dar conta de inúmeras tarefas com o propósito de prepará-la para o futuro. Para evitar que a criança caia em golpes, tiramos a ingenuidade dela e instalamos a ansiedade e a angústia.
MARCAS PROFUNDAS DE RESPONSABILIDADES PRECOCES
Muitas mulheres, ainda na infância, foram ensinadas a assumir responsabilidades que não eram suas. Tornaram-se cuidadoras precoces: ajudavam a criar irmãos, mediavam conflitos familiares, assumiam papéis de adultas em corpos de meninas. Esse aprendizado deixou marcas profundas. Aprenderam, cedo demais, que só seriam valorizadas se estivessem disponíveis para os outros.
Na vida adulta, esse padrão se repete. Essas mulheres se tornam incansáveis provedoras de cuidado, para filhos, parceiros, pais, colegas de trabalho. Sempre prontas a dar, sempre com dificuldade de receber. Elas acreditam que sua identidade está ligada ao quanto conseguem sustentar, resolver, acalmar. Mas em silêncio, muitas vezes, estão exaustas.
A criança/mulher recebe tantas críticas, comparações e passa a se criticar tanto que esquece de aprender a se acolher, a olhar para si com compaixão e gentileza.
O VALOR QUE ELA BUSCA FORA JÁ EXISTE DENTRO DELA!
Esse ciclo de responsabilização precoce cria uma distorção: cuidar de si passa a parecer egoísmo. É como se a própria vida tivesse menos importância do que a dos outros. Mas o corpo fala: doenças psicossomáticas, ansiedade, depressão e um cansaço sem fim são sinais de que não é possível sustentar o mundo sem se perder nele.
É preciso ressignificar. Cuidar de si não é abandonar quem se ama. É equilibrar, é reconhecer que o autocuidado é também uma forma de garantir que haverá forças para continuar cuidando. Mulher nenhuma nasceu para ser alicerce de todos.
O verdadeiro autocuidado começa quando ela se dá o direito de existir para além das demandas do outro.
O valor que a mulher busca fora, já existe dentro dela, só precisa ser reconhecido. E se este texto tocou você, compartilhe com outras mulheres que também precisam desse alerta. Juntas podemos nos cuidar melhor, porque amizade entre mulheres é cura.
E vamos continuar conversando sobre dores, exaustão e silêncios.
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Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755