O Presente
Fátima Baroni Tonezer

Deixa de ser dramática!

calendar_month 30 de junho de 2025
4 min de leitura

Renato Russo, cantor de rock pop brasileiro, no álbum Quatro Estações, lançado em 1989, canta na música “Há tempos” um resumo do que acontece conosco, humanos, e principalmente mulheres, atualmente. Ele começa cantando… Parece cocaína, mas é só tristeza. Talvez, tua cidade. Muitos temores nascem do cansaço e da solidão. Descompasso, desperdício… Herdeiros são agora da virtude que perdemos. […] E continua: Disseste que se tua voz tivesse força igual à imensa dor que sente, teu grito acordaria não só a tua casa, mas a vizinhança inteira.

Quando uma mulher explode “por pouca coisa”, chora por um comentário banal, sente raiva de si mesma por estar “exagerando” e ouve o de sempre: “Você é muito sensível”, “Está fazendo tempestade em copo d’água”, “Era só uma brincadeira”, não é drama, é dor acumulada. É a soma de anos engolindo palavras, silenciando sentimentos, fingindo que estava tudo bem. Era cada “deixa pra lá” que engoliu para não confrontar. Cada “não” que queria dizer e não disse. Cada noite mal dormida. Cada lágrima engolida em silêncio.

LEI DA SOBREVIVÊNCIA SOCIAL: SER FORTE

Ela aprendeu que para sobreviver tinha que ser forte demais. Forte ao ponto de ninguém notar que estava desmoronando por dentro. Muitas mulheres vivem assim: sobrecarregadas por feridas que nunca tiveram espaço para serem sentidas. E quando essas dores não são reconhecidas, elas se acumulam, no corpo, na mente, nas relações. Elas se transformam em ansiedade, insônia, estafa, irritação, choro sem explicação.

Porque o que não é elaborado, retorna como sintoma. O que é negado, não deixa de existir. Continua cobrando seu preço silenciosamente.

Carl Jung, psiquiatra e psicólogo suíço, tem uma frase que diz isso: “o que resiste, persiste”. Esta frase revela que quando alguém resiste a aceitar ou integrar aspectos dolorosos ou não aceitos socialmente, eles tendem a persistir e se manifestar de outras formas.

Por isso, chamar de drama o que é, na verdade, um grito por acolhimento, é perpetuar o ciclo da invalidação emocional. Um ciclo que muitas carregam desde a infância: “Engole o choro”, “Não faça cena”, “Você é muito exagerada”. Essa mulher cresceu sem aprender a nomear o que sentia, a se ouvir ou ser ouvida.

E agora, adulta, sente-se errada por sentir. Mas não é erro sentir. Sentir é humano.

SER BOAZINHA PARA SER SUFICIENTE!”

Aprendemos enquanto crianças a ser “boazinhas”, a menina “bonita” que não incomoda. O que precisa mudar não é a emoção, mas o modo como ela foi ensinada a lidar com essas emoções e sentimentos. Não, ela não é dramática, é intensa, é profunda, tem necessidades que não foram atendidas. E está cheia de histórias que ainda doem.

Mas há um caminho a ser percorrido: a validação. Quando uma mulher começa a dar nome ao que sente, quando aprende a se ouvir sem se julgar, quando encontra lugares seguros para desabafar, o que era peso começa a se transformar em consciência. E com consciência, vem a libertação. Ela entende, então, que sentir não é fraqueza. É maturidade emocional. E que quanto mais se permite sentir com verdade, menos precisa explodir para ser ouvida. Porque agora, finalmente, ela se escuta. E isso muda tudo. E Renato Russo termina cantando: Meu amor… Disciplina é amor. Compaixão é liberdade. Ter bondade é ter coragem.

O que falta para você ter coragem de ser quem você é? Vamos conversar sobre caminhos possíveis? E se este texto fez sentido para você, compartilhe com outras mulheres que também precisam desse alerta. Juntas podemos nos cuidar melhor.

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Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

 
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