Como encarar as perdas e as dores do caminho!
Descobrir qual é nosso lugar na relação e no mundo não é sobre achar culpados ou desculpar o outro. É sobre olhar para dentro e perceber o que tenho aceitado para caber nesta relação. E como isto está me machucando e exaurindo as forças e a saúde.
É continuar silenciando porque calar evita conflitos. Se submetendo à vontade, desejo ou ordem do outro para agradar, ser aceita e ter a falsa impressão de ser amada e pertencer. Às vezes, para caber e permanecer numa relação, a mulher “abandona o próprio corpo”, isto é, vai para “outro lugar”, abstraí os sentimentos, se distraí com outras coisas, pois se ficar presente não vai suportar o abuso, a dor, a agressão.
O VAZIO QUE PREENCHE A RECONSTRUÇÃO
Esse aniquilamento das emoções, das necessidades orquestrado pelo medo da solidão e da rejeição, implica no autoabandono. E nesse processo, a mulher torna-se indisponível para ter relações saudáveis, seja afetiva ou qualquer outra que faça parte da vida humana. É preciso coragem para enfrentar o caminho. Se o medo do abandono e do sofrimento nos mantém no lugar do sofrimento, do encaixe forçado para receber migalhas, sair da situação pode ser assustador.
E uma das maiores angústias relatadas por mulheres que saem de relacionamentos abusivos é o vazio. Aquele espaço antes ocupado pela presença, mesmo que tóxica, do outro agora está vazio. E esse vazio assusta. É fundamental entender que esse vazio não é uma falha, não é fraqueza. Ele é parte essencial do processo de cura.
É nesse espaço vazio que uma mulher pode finalmente se reencontrar, redescobrir seus gostos, suas vontades, sua essência que foi sufocada. Tolerar a angústia do vazio é uma habilidade que se aprende. Não fugir dele com novos relacionamentos precipitados, não o preencher com distrações infinitas, mas, sim, habitá-lo temporariamente, com coragem e autocompaixão.
AS CONSEQUÊNCIAS DAS ESCOLHAS CORAJOSAS
Mudar implica em consequências. Talvez a família não entenda. Talvez amigas se afastem. Talvez a situação financeira fique temporariamente difícil. Talvez a solidão pareça insuportável no início. Mas há outras consequências também: recuperar a paz interior, dormir sem sobressaltos, não “pisar em ovos” o dia todo, reconquistar a própria voz, ter energia para investir em si mesma, construir relacionamentos genuínos baseados em respeito mútuo.
TORNAR-SE PROTAGONISTA
Aceitar as consequências de nossas escolhas é assumir o protagonismo da própria vida. É entender que cada decisão tem um preço e que continuar onde estamos também tem.
Sair da exaustão emocional é um ato revolucionário de amor-próprio. Não é egoísmo, não é fraqueza, não é desistência. É coragem. É escolher a vida, mesmo quando ela assusta. É aceitar o desconforto temporário da mudança em troca da possibilidade de uma existência mais leve, mais verdadeira, mais sua.
Se você se reconheceu nestas palavras, saiba: você não está sozinha. Buscar ajuda profissional é um primeiro passo corajoso. A psicoterapia oferece um espaço seguro para elaborar essas perdas, desenvolver recursos internos e construir uma nova narrativa para sua vida, uma narrativa onde você é a protagonista, não a coadjuvante de histórias alheias. A mudança dói, mas a permanência pode doer mais. E você merece mais do que uma vida de exaustão.
Se este artigo tocou você, guarde e releia quando estiver a ponto de se abandonar de novo, consumida pela culpa ou medo. E envie para outra mulher que precisa deste alerta. Não precisamos passar por isso sozinhas. E na próxima semana vamos continuar nessa jornada de reconexão e vida, conversando sobre dores, exaustão, culpas e silêncios.
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Até a próxima.
