O Presente
Fátima Baroni Tonezer

Luto silencioso de uma mulher que “precisa” ser forte

calendar_month 4 de agosto de 2025
4 min de leitura

Hoje peço licença, mas preciso falar de luto. O Brasil acompanhou recentemente a morte da cantora, atriz e apresentadora Preta Gil, em Nova Iorque, em 20 de julho. Muito se falou de sua doença, da sua importância, de sua história marcada pela gordofobia, racismo etc. E seu velório ainda continua sendo pauta.

E particularmente, eu estou vivendo um luto. A perda de meu pai também foi no mês de julho. E viver essa fase, que por mais preparadas que estejamos, acaba chegando como uma rasteira, que nos abala e desestrutura. Me fez parar para refletir e senti vontade de compartilhar aqui.

Comecei a estudar a morte e o luto em 2014. Na época, decidi estudar para entender e aprender a lidar com a morte pela notícia da doença de uma amiga querida. Na nossa cultura repetimos a exaustão que esta é a única certeza que temos na vida. Mas o fato é que ninguém gosta de pensar sobre a finitude, própria ou do outro. Estudar sobre o assunto me ajudou a ajudar muitas pacientes, que no decorrer do processo terapêutico sofreram perdas e atravessaram o luto. Agora, é a minha vez de lidar com isso.   

ELA PERDEU O PAI!

E com ele, se foi também uma parte dela que ninguém mais vê. Não por que ela não sinta. Mas porque o mundo não lhe dá o direito de parar. Ela continua respondendo mensagens, cumprindo tarefas, sorrindo com os filhos, cuidando da casa, mantendo a performance no trabalho. Por fora, parece inteira. Por dentro… um cansaço, um vazio, uma estranheza que não tem nome.

Ninguém imagina que ela tem chorado no banho, perdido o sono, revirado lembranças no silêncio da madrugada. Ela não teve tempo de se despedir como gostaria. Não teve tempo de desabar. E quando tenta… ouve frases como:
“você é forte”, “ele está num lugar melhor”, “segue em frente”.

E QUANDO O OUTRO É VOCÊ MESMA?

Sim, porque tem isso também. Fomos tão treinadas a performar, a sermos fortes, dar conta de tudo, que nem precisamos do outro nos cobrar. Já introjetamos as ordens, e nós mesmas nos cobramos a não perder tempo, a não reclamar, não ser fraca. Que alguém precisa dar conta, e que este alguém é você. Afinal, a vida não para enquanto você chora.

E acredita também que não pode deixar o outro preocupado com seus sentimentos, sua tristeza. Então, vestimos a máscara  do “está tudo bem” e seguimos mostrando nossa força e disposição. Mas se não olhamos para nossos sentimentos, se não vivemos o luto, a vida vem cobrar. Como? Quando? É individual, mas a conta chega.

NINGUÉM PERGUNTA SE ELA PRECISA DE COLO!

É assim, passado os primeiros dias, as pessoas seguem suas rotinas. E se ela está conseguindo respirar, isto é, acordar e cumprir suas funções, está tudo certo. Afinal, já abracei, já disse palavras de conforto, agora é vida que segue. E essa mulher, exausta, sobrecarregada, atravessando o luto, está lutando duas batalhas: a de sentir e a de continuar funcionando. Está tentando acolher a dor e, ao mesmo tempo, sobreviver às exigências de uma sociedade que não aceita que mulheres parem.

Luto não combina com pressa. E não se cura com força forçada. É preciso permitir-se cair um pouco. Se acolher, se respeitar, se escutar. É preciso dizer: “hoje, não consigo”. “hoje, só quero chorar”, “hoje, preciso de silêncio”, e tudo bem. Ela sabe que vai passar, que ficará a saudade e as boas lembranças. Mas depois. Primeiro, é preciso sentir e dar vazão aos sentimentos, a dor.

O luto ensina, com dureza, que somos humanas. E humanas não vivem de aparências. Vivem de coragem, inclusive a coragem de sentir. Quantos lutos vivemos. Pela perda de uma pessoa especial, importante. Luto pelo emprego… pela amizade… pelo sonho acalentado por tanto tempo. Mas sabe, você não precisa ser forte. Não precisa lidar com isso sozinha.

Não é “feio” nem sinal de fraqueza desabar, pedir ajuda, se recolher. Você pode pedir ajuda. E se este texto tocou você, compartilhe com outras mulheres que também precisam desse alerta. Juntas podemos nos cuidar melhor.

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Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

 
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