Por que sentimos culpa após uma perda? Será que eu fiz tudo o que podia? A culpa tem o estranho hábito de aparecer justamente quando estamos mais frágeis. Ela sussurra: “Você devia ter feito mais.” “Por que não esteve mais presente?” “E se você tivesse (ou não tivesse) dito aquilo?”.
A culpa no luto é uma resposta emocional complexa que pode surgir quando a pessoa enlutada começa a lembrar eventos do passado relacionados ao falecido ou a uma situação específica. É como se a mente tentasse encontrar explicações, culpados ou formas de mudar o que já passou, mesmo que, racionalmente, isso seja impossível.
A culpa pode se manifestar de várias maneiras: pelas palavras ditas ou não ditas, pelas decisões tomadas antes da perda, por acreditar que poderia ter evitado o desfecho e até, em alguns casos, por continuar vivendo após a partida de alguém amado.
POR QUE SENTIMOS CULPA AO PERDER ALGUÉM?
A sensação de culpa durante o luto tem bases emocionais e psicológicas profundas. Ela está ligada ao amor que sentimos, ao nosso senso de responsabilidade e, muitas vezes, à dificuldade de aceitar que algumas coisas estão fora do nosso controle.
Alguns especialistas apontam que a culpa no luto pode ter relação com a busca por controle, já que, diante da morte, algo definitivo e incontrolável, a culpa pode surgir como uma tentativa inconsciente de recuperar algum tipo de poder sobre a situação. E pelo vínculo afetivo. Quanto mais profundo o laço, mais a pessoa tende a se questionar se foi suficiente, se demonstrou amor, se esteve presente.
Sim, a culpa é uma das emoções possíveis dentro do processo de luto. Assim como a tristeza, a raiva e a negação, ela pode fazer parte do caminho que cada pessoa percorre para ressignificar a perda. Especialmente para mulheres que sempre carregaram o papel do “cuidar de todos”, a culpa se mistura ao luto como uma sombra. É como se a mente não aceitasse que há coisas que não estavam no seu controle.
RESSIGNIFICANDO A CULPA PELA PERDA!
Mas há uma verdade que precisa ser dita: você fez o melhor que podia com os recursos, o tempo, o entendimento e as forças que tinha. O amor que você ofereceu não se mede apenas nos gestos visíveis. Ele estava no olhar, na preocupação silenciosa, no cuidado cotidiano, na presença possível. Culpar-se é uma tentativa inconsciente de recuperar o controle daquilo que, na verdade, foi maior que você. Mas acolher sua humanidade é o passo mais terno e verdadeiro para atravessar essa dor.
Você não precisa ser perfeita. Você só precisa ser honesta consigo mesma.
E permitir-se ser perdoada. Sentir culpa não significa que você fez algo errado. Significa apenas que você amava.
A culpa no luto é um sentimento legítimo e humano. Ela revela o quanto aquela pessoa foi importante e como o vínculo deixou marcas profundas. Mas é essencial lembrar que o luto não é um julgamento, é um processo. Com o tempo, apoio e autocompaixão, é possível transformar a culpa em saudade e amor que permanece.
É possível acolher a culpa com mais gentileza e cuidado. No entanto, quando a culpa se tornar persistente e impedir a retomada da vida, pode ser importante buscar apoio psicológico. E se este texto tocou você, compartilhe com outras mulheres que também precisam desse alerta. Juntas podemos nos cuidar melhor.
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Até a próxima.
Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755