As escolhas diárias que colocam o “conhecido” em risco
No artigo anterior falei sobre como, ao escolher um caminho, renunciamos outros tantos possíveis. E como, também, alimentamos a fantasia de que a outra opção seria melhor: “lá, eu teria sido feliz”. É a cultura que alimenta a insatisfação como força de manobra, que nos torna eternas consumidoras. E nos leva a viver exaustas.
Mas depois de falar da importância de escolher-se e descobrir o que faz bem, através da auto-observação e autoconhecimento, a pergunta do título surgiu incomoda. Ao abrir espaço na nossa rotina para incluir atividades que nos façam bem, o autocuidado necessário para nossa saúde física e mental, como lidar com as mudanças necessárias, quebrando a dependência e a culpa?
“EU NÃO AGUENTO MAIS”
Essa frase ecoa nos consultórios de psicologia com uma frequência alarmante. Mulheres exaustas, que carregam o peso invisível de relacionamentos que drenam sua energia vital, chegam ao limite sem saber como nomear o que sentem.
A exaustão emocional não surge do nada. Ela é construída dia após dia, em relacionamentos onde o afeto se confunde com controle, onde o cuidado vira sacrifício e onde o amor se transforma em prisão. Um lugar onde a mulher se sente invisível e sem voz.
O PESO DA DEPENDÊNCIA EMOCIONAL
Muitas mulheres permanecem em relacionamentos abusivos não por falta de força, mas porque a dependência emocional cria uma teia complexa de vínculos. A autoestima minada, o medo do desconhecido, a esperança de mudança do parceiro e até mesmo a vergonha do “fracasso” mantêm essas mulheres presas em ciclos de violência psicológica, emocional e, muitas vezes, física.
O abuso raramente começa com agressões físicas. Geralmente, inicia-se de forma sutil: um comentário depreciativo aqui, um controle disfarçado de cuidado ali. Aos poucos, a vítima vai perdendo a noção de quem é, do que merece e do que é saudável em uma relação.
O LUTO DAS MUDANÇAS NECESSÁRIAS
Sair de um relacionamento abusivo não é apenas tomar uma decisão lógica. É enfrentar múltiplas perdas simultaneamente: a perda da identidade construída na relação, dos sonhos compartilhados, da segurança, mesmo que falsa, da rotina conhecida e, muitas vezes, da estrutura financeira.
Esse processo exige atravessar um luto profundo. E luto dói. A negação, a raiva, a barganha, a tristeza profunda, todas essas fases precisam ser vividas para que a aceitação genuína aconteça. Aceitar não significa concordar com o que aconteceu, mas sim reconhecer a realidade como ela é, sem fantasias ou ilusões.
Se este artigo tocou você, guarde e releia quando a carga emocional invisível estiver insuportável, e a mudança esteja gritando urgência. E envie para outra mulher que precisa deste alerta. Não precisamos passar por isso sozinhas. E na próxima semana vamos continuar nessa jornada de reconexão e vida, conversando sobre dores, exaustão, culpas e silêncios.
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Até a próxima.
