O Presente
Fátima Baroni Tonezer

Solidão acompanhada: quando o silêncio da casa é ensurdecedor

calendar_month 16 de junho de 2025
4 min de leitura

Hoje quero falar de uma casa normal, em uma família tradicional, a típica família brasileira. A família que muitas mulheres sonham ter ou acreditam que conseguiram. Essa mulher tem alguém do lado, um esposo, às vezes filhos, talvez pets, enfim, casa cheia. Mas o vazio dentro dela não se preenche. Há conversas sobre o que comprar no mercado, quem busca as crianças, os boletos da semana, mas não há trocas de alma, não há partilhas nem atenção afetiva e compassiva.

Essa mulher vive uma solidão acompanhada. E isso, talvez, seja um dos sentimentos mais dolorosos que uma mulher pode experimentar: estar com alguém e ainda assim sentir-se sozinha. Viver numa torre de babel e ficar desesperada com o silÊncio interior ensurdecedor.

MAS COMO ISSO ACONTECE?!

Muitas vezes, essa mulher aprendeu desde cedo a aceitar pouco, foi treinada a ter comportamentos para agradar os outros. Se acostumou a amores frios, ausentes, negligentes, num modelo familiar de submissão e dores invisíveis. E aprendeu a calar para não piorar o clima, acostumou-se a não ser ouvida, a engolir as palavras, os sentimentos, as vontades para não atrapalhar, não ser rejeitada. Aprendeu a adivinhar os “não ditos” para não incomodar, ser boazinha para ser elogiada…

E quando cresceu, achou que bastava “ter alguém” para ser feliz. E foi isso que buscou: um casamento, uma família, uma companhia. Só que o modelo que conhecia era o mesmo de sempre, onde amor não rima com presença emocional, onde conversar é difícil, onde o afeto se esconde atrás de obrigações. Agora ela vive ao lado de alguém com quem não compartilha mais sonhos, nem escuta atenta, nem cuidado mútuo.

Sente-se sozinha na hora de deitar-se, no café da manhã. No dia do próprio aniversário. No susto de uma notícia ruim. Essa solidão é silenciosa. E por isso, tão perigosa.

FALATÓRIO INTERNO: A VOZ NA NOSSA CABEÇA

Porque ela pensa: “Talvez eu esteja exagerando”. Porque escuta: “Mas você tem tudo”. A culpa instalada há tanto tempo assusta e paralisa. Porque tem medo de recomeçar. De ficar sozinha de verdade. Mas o que muitas não percebem é que estar só, de fato, pode ser menos doloroso do que viver ao lado de alguém que não te enxerga. A solidão acompanhada machuca de um jeito sutil, mas constante. Vai minando a autoestima, apagando o brilho, destruindo o amor-próprio, deixando a mulher cada vez menor dentro de si mesma.

Perceber esse silêncio e a solidão pede uma ação. O rompimento deste ciclo. Mas romper com esse ciclo não significa, necessariamente, terminar uma relação. É maior, mais profundo, significa se reconectar com o que você sente, precisa, deseja. Significa parar de se abandonar para manter uma aparência de normalidade. Significa, muitas vezes, começar a conversar, primeiro consigo mesma. E são muitas as conversas difíceis que precisamos ter conosco mesmas.

Sim, é possível transformar relacionamentos. Mas só quando há presença, escuta e vontade mútua. Quando há respeito e cuidado. Caso contrário, é necessário coragem. Coragem de escolher não viver mais sozinha dentro de uma casa cheia. Porque companhia verdadeira começa na própria alma. E nenhuma mulher merece viver num lugar onde o silêncio grita mais alto que o amor.

O primeiro passo é reconhecer o problema. E descobrir como lidar com os fatores desencadeantes, aprendendo a colocar-se em primeiro plano, olhando para suas necessidades e aprendendo a conversar sobre elas. Desenvolver a arte de conversas difíceis e da escuta afetiva. E se este texto fez sentido para você, compartilhe com outras mulheres que também precisam desse alerta. Juntas podemos nos cuidar melhor.

Siga @psicofatimabaroni para mais conteúdos sobre autoestima e amor-próprio.

Até a próxima.

Quer ler outros artigos da Fátima? Então, clique aqui.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

 
Compartilhe esta notícia:

Este website utiliza cookies para fornecer a melhor experiência aos seus visitantes. Ao continuar, você concorda com o uso dessas informações para exibição de anúncios personalizados conforme os seus interesses.
Este website utiliza cookies para fornecer a melhor experiência aos seus visitantes. Ao continuar, você concorda com o uso dessas informações para exibição de anúncios personalizados conforme os seus interesses.