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Osnei Alves

Incertezas da vida e esperança humana: uma visão à luz da espiritualidade e do bem comum

calendar_month 14 de outubro de 2025
4 min de leitura

Não estamos apenas no universo, o universo está em nós. Não conheço nenhum sentimento espiritual mais profundo do que este (Neil de Grasse Tyson)

A reflexão sobre o bem comum atravessa séculos e permanece como uma das questões centrais da filosofia, da ética e da espiritualidade. O ser humano, em sua natureza relacional, encontra sentido não apenas em buscar o próprio bem, mas em harmonizar essa busca com a dos outros, formando uma comunidade capaz de partilhar valores, recursos e esperanças. Como lembra Aristóteles, “o homem é um ser político” (ARISTÓTELES, 1998), ou seja, sua realização pessoal não se dissocia da vida em sociedade.

O bem comum não se reduz a um conceito abstrato, mas se concretiza quando o indivíduo compreende que sua própria felicidade está intimamente ligada à dos demais.

Todavia, a modernidade trouxe consigo dilemas: de um lado, o consumismo excessivo, que aprisiona o ser humano à materialidade e enfraquece sua espiritualidade; de outro, práticas religiosas rígidas que negam o valor do mundo criado, caindo em formas de ascetismo que distorcem a fé. O equilíbrio entre esses extremos exige lucidez e discernimento: nem a negação do mundo, nem a idolatria das coisas materiais. Como afirma Morin (2000), “a sabedoria consiste em saber navegar num oceano de incertezas através de arquipélagos de certezas”.

Além disso, a experiência da vida revela continuamente nossa fragilidade diante do imprevisível. Por mais que a ciência avance e a tecnologia se desenvolva, o ser humano permanece vulnerável às intempéries da natureza, às limitações estruturais e à liberdade dos outros. A Bíblia lembra essa condição quando afirma: “Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. […] Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?” (BÍBLIA SAGRADA, 1993, Mt 6,25-26). Essa mensagem não prega passividade, mas convida à confiança na providência, sem deixar de lado a responsabilidade humana pelo cuidado com a criação e com a comunidade.

Em síntese, a vida humana se desenrola entre incertezas e esperanças. Nem o objetivismo rígido que vê tudo como determinado, nem o subjetivismo ilusório que reduz a realidade a desejos pessoais podem oferecer respostas plenas. Cabe ao ser humano cultivar a prudência, a serenidade e a confiança em Deus, sem deixar de lado a responsabilidade pela história que constrói. Como escreveu o apóstolo Paulo: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto” (BÍBLIA SAGRADA, 1993, Rm 8,28).

A vida humana, nesse contexto, não se reduz a uma luta pelo controle absoluto, mas se constrói no equilíbrio entre razão e emoção, entre a praticidade do viver e a espiritualidade que transcende o imediato. As emoções, quando acolhidas, tornam-se guias preciosos para orientar escolhas e fortalecer vínculos, pois revelam a vulnerabilidade como fonte de aprendizado e compaixão. A espiritualidade, por sua vez, amplia horizontes, oferecendo sentido diante das incertezas e despertando a consciência de que a felicidade não está apenas na posse de bens materiais, mas no cultivo de relações verdadeiras, na solidariedade e na comunhão com o transcendente.

A vida humana se desenrola entre incertezas e esperanças. Nem o objetivismo rígido, que vê tudo como previamente determinado, nem o subjetivismo ilusório, que reduz a realidade a desejos pessoais, conseguem oferecer respostas plenas. O caminho está em cultivar a prudência, a serenidade emocional e a confiança em Deus, sem abandonar a responsabilidade pela história que construímos diariamente. Como escreveu São Paulo: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus” (BÍBLIA SAGRADA, 1993, Rm 8,28).

Assim, espiritualidade, emoção e felicidade aparecem como dimensões integradas da existência: a espiritualidade nos conecta ao eterno, as emoções nos aproximam do humano, e a felicidade se manifesta como fruto de uma vida equilibrada entre fé, amor e responsabilidade.

Referências

ARISTÓTELES. Política. Brasília: Ed. UnB, 1998.

BÍBLIA SAGRADA. Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. 2. ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.

Quem é Osnei Francisco Alves


  • Osnei Francisco Alves é especialista na área de gestão, estratégia empresarial, marketing, comunicação, tecnologia, educação, entre outras. Escritor de livros e artigos científicos. Atualmente, gerente executivo do Senac em Marechal Cândido Rondon.
    consultorosnei@gmail.com

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