Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar (Immanuel Kant)
O sentimento de estar sempre “inacabado” desperta a vontade de aprender diariamente, pois leva-nos a reconhecer nossas limitações e a cultivar a humildade necessária para superá-las. Dentro das organizações, porém, essa postura nem sempre prospera: muitas ideias são rejeitadas porque determinados indivíduos, amparados por sua autoridade formal, acreditam possuir as únicas soluções válidas.
Empresas verdadeiramente inteligentes são feitas de pessoas inteligentes e inteligência, aqui, vai muito além da lógica ou da matemática. Ainda assim, diversas organizações restringem-se a avaliar seus colaboradores quase exclusivamente pela competência técnica. Multiplicam-se treinamentos focados apenas em capacitação profissional. Esse fenômeno extrapola o mundo corporativo: até universidades de prestígio mensuram a qualidade de seu ensino só pelo domínio técnico de seus estudantes. Claro que esse domínio é fundamental, mas está longe de ser suficiente.
No âmbito educacional, muita coisa precisa mudar. O estudante costuma ser avaliado apenas pelo que consegue reproduzir em exercícios padronizados; se o professor altera ligeiramente o problema, surgem dificuldades evidentes. Daí floresce a “decoreba”: conteúdos memorizados que se dissipam poucos dias depois da prova.
Inteligência, portanto, deve ser entendida como uma capacidade ampla — um conjunto de condições que sustenta diversos desempenhos e funções mentais. Várias definições históricas reforçam essa amplitude:
- “Função de conhecimento dirigida para o mundo exterior.” — Binet
- “Faculdade geral de adaptar conscientemente o pensamento a novas exigências.” — Stern
- “Capacidade de pensar abstratamente.” — Terman
- “Capacidade de resolver, com o pensamento, problemas novos.” — Claparède
Desde a Grécia Antiga, pensadores buscam mapear a inteligência. Primeiramente filósofos, depois cientistas, e hoje uma constelação de especialistas dedicam-se ao tema. Muito mudou desde Sócrates; contudo, quando falamos em testes de inteligência, parece que os séculos passaram mais devagar.
A obra A Origem das Espécies (1859), de Charles Darwin, inspirou as primeiras investigações científicas sobre o assunto. Seu primo, Francis Galton, criou testes que hoje soam singelos — como distinguir o peso mais leve entre dois cartuchos ou identificar o som mais agudo percebido pelo ouvido humano — mas que faziam sentido à luz da teoria da seleção natural: um animal de audição aguçada teria maior chance de sobrevivência.
Em 1905, Alfred Binet deu grande salto ao conceber, na França, um teste destinado a diferenciar crianças com deficiência mental daquelas que fracassavam na escola por outros motivos. Surgiu daí a escala que, aprimorada em Stanford, ficaria conhecida como Stanford-Binet. Ela migrou para os Estados Unidos e permanece em uso, muitas vezes fora do contexto original. Robert Sternberg aponta limitações importantes: além de prever desempenho acadêmico apenas em certas condições, o teste nasceu de uma amostra modesta (5 013 indivíduos) e socialmente enviesada em favor das camadas mais altas.
Depois de Binet vieram as escalas de Wechsler e inúmeros outros instrumentos. Quer sejam exames de QI, quer sejam provas de seleção universitária (como os vestibulares brasileiros), todos descendem dessas primeiras tentativas de quantificar a inteligência humana — tentativas que, embora pioneiras, carregam pressupostos e restrições que ainda hoje precisamos repensar.
Quem é Osnei Francisco Alves

Osnei Francisco Alves é especialista na área de gestão, estratégia empresarial, marketing, comunicação, tecnologia, educação, entre outras. Escritor de livros e artigos científicos. Atualmente, gerente executivo do Senac em Marechal Cândido Rondon.
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