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Esportes Angélica Kvieczynski

Ex-ginasta da seleção brasileira, toledana conta que colocou a vida em risco para manter peso

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Angélica Kvieczynski, ex-atleta de ginástica rítmica, usava laxante e parou de beber água para se sentir magra (Foto: Divulgação)

No “Encontro com Fátima Bernardes” desta quinta-feira (18), Fátima Bernardes recebeu a ex-atleta de ginástica rítmica da seleção brasileira, Angélica Kvieczynski, de 27 anos, para falar sobre o transtorno alimentar que desenvolveu na adolescência ao tentar manter a forma para melhorar o desempenho no esporte. Foram 10 anos de muitos treinos e campeonatos pelo Brasil, mas, nos bastidores, uma cobrança sem fim para alcançar o corpo “ideal”.

“Apesar de estar lá, estar rendendo, muitas vezes, eu saia da quadra e escutava dos árbitros: ‘Você fez, mas está gorda’… Eu via as pessoas me olhando, eu mesma me via. A gente acaba se vendo como um monstro e deixa a situação um pouco maior”, conta Angélica, umas das atletas mais premiadas da seleção.

 

Transtorno Alimentar

“Eu tomei laxante por muito tempo. Eu não conseguia vomitar. Colocava o dedo na garganta, mas não conseguia, fazia muito barulho, então o laxante foi a forma que encontrei. Conheci ele por uma veterana quando entrei na seleção. Ficava à noite inteira sentindo cólicas intestinas horrorosas, sentada no vaso sanitário um pouco mole, sem dormir. Mas, no dia seguinte, estava menos na balança.”

“Fiquei muito tempo sem conseguir ir ao banheiro, tive que fazer tratamento. A gente parava de beber água, porque, se você se pesar agora e beber uma garrafinha d’água e pesar depois, o peso vai ser maior”.

 

Depressão

“Foi uma fase muito difícil na minha vida. Quando o atleta sofre lesão, é terrível. Você sente que a sua carreira, praticamente, acabou. Você não sabe se vai se vai ter força para se recuperar, não sabe se vai conseguir voltar ao nível que tinha. Eu tive uma lesão, estava numa adolescência rebelde, demorei muito a amadurecer sexualmente. Meu primeiro selinho foi com 16 e eu menstruei com 18 anos… Uma bomba de hormônios, aí lesionei, cheguei a pesar 74kg, quando o habitual era 55kg – e eu sempre querendo menos. Naquele momento, eu falei: ‘Meu Deus, e agora?’. Operei e estava engordando mais. Comia para me sentir bem, daí me sentia mal por ter comido. Não queria mais sair do quarto, não queria que as pessoas me vissem. Comecei a desrespeitar a minha mãe, comecei a ser grossa, a ser ruim com a minha família, com as pessoas que me ajudavam. Coloquei uma armadura, porque eu achava que todo mundo queria me prejudicar naquele momento. Essa era a interpretação que eu tinha e ia me afundando cada vez mais. Minha mãe tentou me ajudar, mas eu me trancava no quarto e ficava sozinha. Eu não queria saber da ginástica, não queria ver nada na minha frente. Achei que estava acabada”.

 

Bullying dentro da equipe

“Tem uma certa rivalidade e nem sempre isso é saudável. Eu escutei de outras atletas: ‘Não merece ganhar medalha porque é uma gorda'”.

 

Relação com o corpo

“Eu não gosto de balança, não concordo. Eu acho que tem meios mais saudáveis para gente conseguir manter o peso. A ginástica rítmica exige que você seja magérrima, por questões de lesão mesmo, é muito impacto, mas tem meios de você controlar isso de uma forma mais saudável através da composição corporal… Hoje, tenho uma vida muito mais saudável. Repensei sobre isso, muitas pessoas me ajudaram”.

“Hoje, eu subo de frente na balança, antes me pesava de costas”.

 

Autoestima

“A minha autoestima está bem melhor. Eu ainda me pego na frente do espelho me apertando, ainda estou me adaptando a beber água, mas o que pesa é que sou professora, estou formando opinião, então eu preciso ser exemplo”.

 

Carreira como treinadora

“Eu sou treinadora e, quando a gente vê os olhinhos brilhando, querendo chegar longe, nossa! (eu penso) em como eu vou proteger essas meninas de tudo isso que eu vivi. Eu não quero que elas vivam isso. Quero que tenham uma qualidade melhor”.

 

Com Gshow

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