Fale com a gente

Geral Fórmula 1

Alunos da rede pública criam carrinho que atinge média de 70 km/h e conquistam vaga em competição mundial da F1

Publicado

em

Foto: Divulgação

A dedicação aplicada no projeto de conclusão de seis estudantes do curso técnico de mecânica do Instituto Federal do Paraná (IFPR), de Curitiba, rendeu a eles uma oportunidade internacional.

Os jovens desenvolveram um protótipo de carro de corrida profissional e, com o modelo, ficaram entre as primeiras colocações da etapa nacional da competição F1 in Schools, organizada oficialmente pela Fórmula 1.

Com a conquista do segundo lugar, eles se juntarão a outro grupo selecionado de outro país para compor uma equipe colaborativa e disputar o mundial da categoria, em 2023.

A professora do IFPR e técnica da equipe, Danniella Rosa, destacou que esta foi a primeira vez que estudantes da rede pública de ensino conquistam a vaga para o mundial.

“Quando veio o resultado foi extraordinário porque eu não fazia ideia, realmente, que a gente iria conseguir a vaga, apesar de saber que o projeto estava muito bom. Foi uma surpresa muito grata. É a primeira vez de uma escola pública, é a primeira vez de um instituto federal no Brasil, e estamos ansiosos pelo que vem pela frente”, disse.
A etapa nacional da competição foi em São Paulo, em abril deste ano. Por conta da pandemia da Covid-19, nesta edição, as equipes não puderam acompanhar presencialmente o evento, o que trouxe um desafio a mais para os participantes.

Os estudantes tiveram que enviar os carrinhos por correio e assistiram à competição por meio de uma transmissão feita pela internet.

Vélos escuderia

A competição envolve mais critérios do que somente a corrida dos carrinhos na pista. Os participantes precisam criar uma escuderia, com marca própria, apresentar projeto de administração e desenvolvimento, tudo como uma escuderia profissional.

No caso da equipe de Curitiba, a escuderia recebeu o nome de “equipe Vélos”. A equipe foi composta pelos estudantes: Hendrius Carlos Fontes, Vinicius Belinovski Liça, João Victor Lopes, Augusto Ernani Aristides da Silva, Rafaela Manso e Pedro Augusto Romano Burigo.

Os professores que acompanharam o desenvolvimento do projeto foram Danniella Rosa (técnica da equipe), Wagner Frederico Chiesorin Uhlmann (também técnico), além de Rogério Gomes e Juciane da Luz Alves Branco, todos do IFPR.

Rafaela Manso comentou que a iniciativa de participar surgiu dos próprios alunos, motivados após ouvir a professora Daniella comentar sobre a competição.

“Desde o primeiro ano, a professora já tinha comentado dessa competição com a gente e já queríamos participar, mas achamos prudente segurar até o 3º ano para a gente ter conhecimento suficiente para entrar na competição. Inclusive, usamos a competição como nosso projeto de TCC para finalizar o curso”, destacou.
Durante o desenvolvimento do carrinho e da proposta da escuderia, o projeto motivou o gosto dos alunos pelas competições automotivas.

“Não era muito fã de fórmula 1, mas depois que entrei na equipe, virei um super fã, acompanho as corridas e gostei muito de participar por ter me trazido essa experiência. Não perco uma corrida. A gente fez toda a parte da engenharia do carro”, disse Pedro Burigo.

Os carrinhos tiveram custo médio de R$ 1,5 mil e foram produzidos no próprio Instituto Federal do Paraná. Segundo a professora, os alunos desenvolveram um projeto de inovação e conseguiram, por meio de edital, angariar o recurso junto ao instituto.

Escolha do modelo ideal

Após uma mentoria fornecida pela competição oficial, os alunos se dividiram em diferentes funções no projeto. Eles trabalharam num projeto de engenharia reversa, no qual criaram três modelos de carrinho diferentes.

Com a ajuda de um sensor, escanearam os três modelos e passaram para um software de modelagem 3D, fizeram o acabamento e levaram os carrinhos para o túnel de testes. Após fazer simulações com as três opções, escolheram o modelo mais aerodinâmico, que serviu de base para a criação do carrinho finalista.

“As peças, aerofólio, rodas, foram feitos na impressora 3D, e a gente teve que seguir rígidos parâmetros de construção. A regra da competição é muito rígida, então, na etapa nacional, pudemos ver como nosso carro foi na pista, efetivamente”, comentou Rafaela.
Nas avaliações da etapa nacional, os juízes consideram não somente o desempenho do carro, mas o projeto da escuderia como um todo: a gestão do projeto, estratégias de marketing, e outras áreas exigidas.

O integrante Pedro Romano Burigo destacou que um dos critérios avaliados na classificação nacional foi a criação de um projeto social. Ele e os colegas de grupo decidiram desenvolver ações voltadas ao ensino para pessoas surdas.

“A nossa ideia foi fazer vídeos de matemática básica em Libras, no Youtube. A gente postou e a gente conseguiu um retorno muito bom, várias pessoas comentando, apoiando. A gente pretende continuar o projeto”, destacou o estudante.

A equipe Vélos consquistou, além do segundo lugar geral, o prêmio nas categorias “Pesquisa e desenvolvimento” e “Escrutínio”, que avalia o carro que mais se encaixou nas regras da competição.

Funcionamento do carrinho

O carrinho desenvolvido pelos estudantes é impulsionado pelo disparo de uma cápsula de CO2, que libera o ar que atinge a parte traseira do protótipo, arremessando-o para a frente na pista, em alta velocidade (média de 70 quilômetros por hora).

Na competição, as equipes recebem uma peça de isopor e usam essa peça para desenvolver o carrinho. Durante o desenvolvimento dos modelos, os alunos recebem aulas e têm acesso a programas profissionais que são os mesmos usados pelas equipes da F1.

O desenho de cada carrinho é livre a todas as equipes. Na parte de baixo do protótipo, é necessário um encaixe que acopla o modelo à pista de corrida, para que ele não escape ao ser impulsionado.

“A gente usou um conceito que entrou nos regulamentos da F1 neste ano, que é o efeito solo. O carrinho tem uma área de baixa pressão na frente e na parte traseira tem uma área de alta pressão na parte do assoalho. A gente buscou compensar o peso mais concentrado na parte de trás. O carrinho é pensado para ser tanto rápido quanto seguro. “, disse Vinicius Liça, integrante da equipe.

O modelo desenvolvido pela Equipe Vélos pesa 53,4 gramas e fez o percurso na pista de 20 metros em 1,486 segundo. O recorde mundial da categoria é de menos de um segundo.

Os participantes contam que, em julho, será anunciado o país que deve sediar a etapa mundial do F1 in Schools de 2023, do qual eles farão parte. A partir do anúncio, eles também saberão quem será a outra equipe, de outro país, com quem vão competir.

Depois de juntar as duas equipes de países diferentes, os participantes terão até março de 2023 para desenvolver um novo projeto de escuderia e de protótipo, que será levado para o mundial.

Para concorrer internacionalmente, os participantes vão precisar fechar patrocínios, arrecadar recursos e fazer prestação de contas.

 

Com G1

Clique aqui e participe do nosso grupo no WhatsApp

Copyright © 2017 O Presente