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Anticoncepcional: o que você deve saber antes de usar

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Como fui parar na UTI por causa de pílula anticoncepcional. Este é o início do relato de uma estudante de 22 anos, feito em uma rede social, que alcançou, em poucos dias, milhares de visualizações, compartilhamentos e reações de meninas e mulheres em todo o Brasil.

A jovem expôs que tudo começou com uma pequena dor de cabeça, que se agravou por três semanas até ficar insuportável. Certo dia, ela acordou e não conseguia mexer uma perna, nem uma mão, não conseguia fazer uma ligação ou ir ao banheiro. Após ir ao hospital, uma ressonância revelou o diagnóstico de trombose venosa cerebral, uma doença que pode deixar sequelas graves em cerca de 15% dos casos e levar à morte de 6% a 15% dos pacientes.

Por não ser fumante, ter os exames de sangue normais e não registrar histórico familiar da doença, os médicos concluíram que a causa provável era o anticoncepcional, que a estudante tomava havia cinco anos.

A partir do caso, diversos outros depoimentos se misturaram ao da jovem paulista, dividindo opiniões entre mulheres que passaram por problemas similares e outras que acreditavam na segurança do medicamento. Algumas ficaram receosas em continuar utilizando a pílula e outras, ainda mais radicais, aboliram completamente o uso sem confirmação dos riscos ou indicação médica.

De acordo com a ginecologista Tânia Balcewicz, especialista em reprodução humana, a conduta de parar abruptamente o uso do medicamento não causa problemas significativos à paciente, entretanto, o risco maior nesses casos é a gravidez indesejada, que vem acompanhada pela alta incidência de abortamentos clandestinos e até infertilidade. O uso da pílula até reduz incidência e progressão de doenças que podem provocar infertilidade, como endometriose, cistos ovarianos, miomas, câncer de endométrio, entre outros, mas é importante ressaltar que, se houver suspeita de trombose, câncer de mama, problemas hepáticos graves, entre outros problemas, deve-se suspender imediatamente a pílula, destaca.

A especialista ressalta que, como qualquer medicamento, o uso de anticoncepcionais traz riscos e benefícios à saúde. A escolha de uma pílula ou outro método contraceptivo, segundo ela, deve ser consciente e bem orientada, sendo fundamental para isso uma avaliação médica detalhada, levando assim a uma maior segurança e melhores chances de boa adaptação para cada paciente. Quando você se depara com milhões de informações na mídia sobre o quanto pode lhe ser bom determinado produto, principalmente quando passa a cair no gosto popular, grande parte dos consumidores acaba seguindo a maioria, e assim passou a ser a pílula, que completou 50 anos de mercado em 2010, sendo disparado o principal método contraceptivo utilizado no Brasil e no mundo, diz.

Desde a descoberta do contraceptivo, as pílulas evoluíram muito para a melhoria de seus componentes e redução de doses, mantendo uma eficácia invejável e, com a redução de efeitos colaterais e riscos, até o momento, seus benefícios ainda são muito superiores do que os riscos.

Entre os principais benefícios das pílulas, conforme Tânia, estão a regularização do ciclo e redução do fluxo menstrual, reduzindo ou acabando com as cólicas em 80% das pacientes. Além disso, há a redução da TPM (tensão pré-menstrual), redução da acne, pelos, oleosidade da pele e cabelos nas mulheres, diminuição do risco de endometriose e de cistos de ovário, assim com câncer ovariano e endométrio, entre outros. Sem dúvidas, o principal efeito positivo foi e sempre será a possibilidade do planejamento familiar ou, mesmo sem romantismo, a proteção contra as gestações indesejadas. O efeito negativo que uma gestação não planejada acarreta na vida de uma adolescente, e mesmo em uma mulher madura, supera imensamente todos os possíveis efeitos que uma pílula pode dar. É claro que isso não libera que seja iniciada para todas de uma maneira indiscriminada, e pior sem aquela avaliação anteriormente dita, pontua. Gostaria que chegasse logo o dia que, assim como os antibióticos, as pílulas também necessitassem de receita obrigatória anual para sua compra nas farmácias, pois esse assunto deveria ser encarado com mais seriedade também no Brasil, como já ocorre em outros países, opina Tânia.

 

Pílulas modernas têm maior risco

Apesar dos benefícios citados pela profissional, casos como o da estudante de São Paulo reafirmam os riscos do uso contínuo do medicamento, especialmente pela ocorrência da trombose, que ainda é um dos principais problemas. Segundo a médica, a possibilidade do surgimento da doença tem alarmado as usuárias devido ao alerta de que as pílulas mais modernas têm risco maior da doença acontecer.

A seguir, a ginecologista esclarece algumas das principais dúvidas sobre o tema.

 

O Presente (OP): A pílula anticoncepcional pode realmente ser a causa da trombose?

Tânia Balcewicz (TB): Sim, isso consta em bula e todos deveriam estar cientes antes de iniciar o uso. Se não há outros fatores de influência, o risco ainda assim é muito pequeno, porém os benefícios dos anticoncepcionais na prevenção da gravidez continuam a superar seus riscos. Em uma população de jovens que não tomam pílula, há cinco casos de trombose venosa para cada 100 mil mulheres. Entre as que tomam anticoncepcionais à base de levonorgestrel, esse risco sobe para 15 a 20 casos para cada 100 mil (três vezes mais). Já entre as jovens que tomam drospirenona, esse número sobe para 25 a 30 casos para cada 100 mil (cinco vezes mais). Esses números são muito parecidos. Entre grávidas, esse risco é muito maior: 60 casos de trombose para cada 100 mil mulheres (12 vezes mais) e piora no puerpério. Podemos comparar, por exemplo, com o risco que corremos de morrer atropelados no Brasil. Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o Brasil é o 4º país em mortes no trânsito, cerca de 45 mil pessoas por ano, na proporção de 3,4 mortes por 100 mil habitantes. Ou seja, a nossa chance de morrer em um desastre de automóvel é de uma em 650, e nem por isso deixamos de sair de automóvel.

 

OP: De que forma o anticoncepcional oral atua no corpo da mulher causando o problema?

TB: No sangue há proteínas que atuam a favor e contra a coagulação. Em uma situação normal, elas devem estar em equilíbrio. Quando há um desequilíbrio, o excesso de proteínas pró-coagulantes pode aumentar o risco da formação de coágulos. Os hormônios presentes nos anticoncepcionais podem provocar esse desequilíbrio, principalmente o estrogênio (estradiol) das pílulas combinadas, que favorece a coagulação do sangue.

 

Como fui parar na UTI por causa de pílula anticoncepcional. Este é o início do relato de uma estudante de 22 anos, feito em uma rede social, que alcançou, em poucos dias, milhares de visualizações, compartilhamentos e reações de meninas e mulheres em todo o Brasil.

A jovem expôs que tudo começou com uma pequena dor de cabeça, que se agravou por três semanas até ficar insuportável. Certo dia, ela acordou e não conseguia mexer uma perna, nem uma mão, não conseguia fazer uma ligação ou ir ao banheiro. Após ir ao hospital, uma ressonância revelou o diagnóstico de trombose venosa cerebral, uma doença que pode deixar sequelas graves em cerca de 15% dos casos e levar à morte de 6% a 15% dos pacientes.

Por não ser fumante, ter os exames de sangue normais e não registrar histórico familiar da doença, os médicos concluíram que a causa provável era o anticoncepcional, que a estudante tomava havia cinco anos.

A partir do caso, diversos outros depoimentos se misturaram ao da jovem paulista, dividindo opiniões entre mulheres que passaram por problemas similares e outras que acreditavam na segurança do medicamento. Algumas ficaram receosas em continuar utilizando a pílula e outras, ainda mais radicais, aboliram completamente o uso sem confirmação dos riscos ou indicação médica.

De acordo com a ginecologista Tânia Balcewicz, especialista em reprodução humana, a conduta de parar abruptamente o uso do medicamento não causa problemas significativos à paciente, entretanto, o risco maior nesses casos é a gravidez indesejada, que vem acompanhada pela alta incidência de abortamentos clandestinos e até infertilidade. O uso da pílula até reduz incidência e progressão de doenças que podem provocar infertilidade, como endometriose, cistos ovarianos, miomas, câncer de endométrio, entre outros, mas é importante ressaltar que, se houver suspeita de trombose, câncer de mama, problemas hepáticos graves, entre outros problemas, deve-se suspender imediatamente a pílula, destaca.

A especialista ressalta que, como qualquer medicamento, o uso de anticoncepcionais traz riscos e benefícios à saúde. A escolha de uma pílula ou outro método contraceptivo, segundo ela, deve ser consciente e bem orientada, sendo fundamental para isso uma avaliação médica detalhada, levando assim a uma maior segurança e melhores chances de boa adaptação para cada paciente. Quando você se depara com milhões de informações na mídia sobre o quanto pode lhe ser bom determinado produto, principalmente quando passa a cair no gosto popular, grande parte dos consumidores acaba seguindo a maioria, e assim passou a ser a pílula, que completou 50 anos de mercado em 2010, sendo disparado o principal método contraceptivo utilizado no Brasil e no mundo, diz.

Desde a descoberta do contraceptivo, as pílulas evoluíram muito para a melhoria de seus componentes e redução de doses, mantendo uma eficácia invejável e, com a redução de efeitos colaterais e riscos, até o momento, seus benefícios ainda são muito superiores do que os riscos.

Entre os principais benefícios das pílulas, conforme Tânia, estão a regularização do ciclo e redução do fluxo menstrual, reduzindo ou acabando com as cólicas em 80% das pacientes. Além disso, há a redução da TPM (tensão pré-menstrual), redução da acne, pelos, oleosidade da pele e cabelos nas mulheres, diminuição do risco de endometriose e de cistos de ovário, assim com câncer ovariano e endométrio, entre outros. Sem dúvidas, o principal efeito positivo foi e sempre será a possibilidade do planejamento familiar ou, mesmo sem romantismo, a proteção contra as gestações indesejadas. O efeito negativo que uma gestação não planejada acarreta na vida de uma adolescente, e mesmo em uma mulher madura, supera imensamente todos os possíveis efeitos que uma pílula pode dar. É claro que isso não libera que seja iniciada para todas de uma maneira indiscriminada, e pior sem aquela avaliação anteriormente dita, pontua. Gostaria que chegasse logo o dia que, assim como os antibióticos, as pílulas também necessitassem de receita obrigatória anual para sua compra nas farmácias, pois esse assunto deveria ser encarado com mais seriedade também no Brasil, como já ocorre em outros países, opina Tânia.

 

Pílulas modernas têm maior risco

Apesar dos benefícios citados pela profissional, casos como o da estudante de São Paulo reafirmam os riscos do uso contínuo do medicamento, especialmente pela ocorrência da trombose, que ainda é um dos principais problemas. Segundo a médica, a possibilidade do surgimento da doença tem alarmado as usuárias devido ao alerta de que as pílulas mais modernas têm risco maior da doença acontecer.

A seguir, a ginecologista esclarece algumas das principais dúvidas sobre o tema.

 

O Presente (OP): A pílula anticoncepcional pode realmente ser a causa da trombose?

Tânia Balcewicz (TB): Sim, isso consta em bula e todos deveriam estar cientes antes de iniciar o uso. Se não há outros fatores de influência, o risco ainda assim é muito pequeno, porém os benefícios dos anticoncepcionais na prevenção da gravidez continuam a superar seus riscos. Em uma população de jovens que não tomam pílula, há cinco casos de trombose venosa para cada 100 mil mulheres. Entre as que tomam anticoncepcionais à base de levonorgestrel, esse risco sobe para 15 a 20 casos para cada 100 mil (três vezes mais). Já entre as jovens que tomam drospirenona, esse número sobe para 25 a 30 casos para cada 100 mil (cinco vezes mais). Esses números são muito parecidos. Entre grávidas, esse risco é muito maior: 60 casos de trombose para cada 100 mil mulheres (12 vezes mais) e piora no puerpério. Podemos comparar, por exemplo, com o risco que corremos de morrer atropelados no Brasil. Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o Brasil é o 4º país em mortes no trânsito, cerca de 45 mil pessoas por ano, na proporção de 3,4 mortes por 100 mil habitantes. Ou seja, a nossa chance de morrer em um desastre de automóvel é de uma em 650, e nem por isso deixamos de sair de automóvel.

 

OP: De que forma o anticoncepcional oral atua no corpo da mulher causando o problema?

TB: No sangue há proteínas que atuam a favor e contra a coagulação. Em uma situação normal, elas devem estar em equilíbrio. Quando há um desequilíbrio, o excesso de proteínas pró-coagulantes pode aumentar o risco da formação de coágulos. Os hormônios presentes nos anticoncepcionais podem provocar esse desequilíbrio, principalmente o estrogênio (estradiol) das pílulas combinadas, que favorece a coagulação do sangue.

 

OP: Todo método hormonal tem impacto na coagulação sanguínea, aumentando o risco de trombose, ou somente a pílula?

TB: Todos levam ao aumento do risco, sendo piores àqueles que têm composição combinada (estradiol + progesterona), seja na forma oral, adesivo, injetável ou anel vaginal. Passada a fase aguda de um episódio de tromboembolismo, os métodos hormonais só com progesterona são permitidos, sempre com maior controle.

 

OP: Mulheres que não possuem histórico familiar de trombose e fazem o uso da pílula também correm esse risco?

TB: Sim, mas a incidência na população sem histórico é muito baixa, de cinco casos a cada 100 mil mulheres. Quando não usa pílula, aumenta em três a cinco vezes se passa a tomar. Caso tenha alguns fatores hereditários ou adquiridos predisponentes de trombofilia, este aumento pode ser de 180 vezes, sendo necessária a análise individual e com exames específicos.

 

OP: Há algum exame que comprove que a trombose foi causada pela pílula?

TB: Existem sete exames principais na pesquisa de fatores causadores de trombose. Há alguns fatores de coagulação que quando alterados aumentam muito este risco, contraindicando o uso da pílula combinada com estradiol, mas no momento que se detecta o tromboembolismo não se pode ter a certeza que foi o anticoncepcional o causador isoladamente. Sempre que houver histórico familiar de trombose, sem um motivo explicável, principalmente quando ocorreu em familiares jovens, deve ser indicada a avaliação com estes exames específicos para trombofilia, antes do iniciar o uso de anticoncepcionais.

 

OP: Quem deve evitar tomar a pílula?

TB: Cada situação deve ser avaliada individualmente quanto aos riscos e benefícios. São utilizados os critérios de elegibilidade da Organização Mundial de Saúde (OMS), avaliando-se as contraindicações absolutas ou relativas para melhor definição. As pílulas combinadas têm maiores restrições e riscos quando usadas em inúmeras situações: tabagistas de mais de 15 cigarros ao dia em qualquer idade, e tabagistas acima de 35 anos, enxaqueca com aura, ou cefaleia de aparecimento concomitante ao início da pílula, varizes, obesidade, hipertensão, dislipidemias, câncer de mama, usuárias de medicamentos anticonvulsivantes, e história familiar de trombose, doenças hepáticas, entre outros.

 

OP: Um estudo publicado no periódico científico The BMJ revelou que as pílulas modernas, que surgiram a partir da década de 1990, são as que oferecem maior risco para as mulheres. Há embasamento suficiente para afirmar que as pílulas modernas são mais perigosas que as antigas?

TB: Vários estudos apontam para o risco maior de trombose, usando drospirenona, ciproterona, desogestrel e gestodeno em relação às pílulas mais antigas com levonorgestrel, mas esse risco é bem pequeno. Como existem necessidades específicas de cada paciente, deve-se avaliar o grau de risco individual e o que a paciente procura ou apresenta: acnes, oleosidade de pele e cabelo, ganho de peso com outras pílulas, náusea, cólicas menstruais intensas, fluxo menstrual irregular ou forte, e assim por diante.

 

OP: Existem mulheres, muitas vezes jovens, que iniciam o uso de contraceptivos orais sem indicação médica. De que forma isso pode ser prejudicial para a saúde?

TB: A gravidez indesejada, que ocorre devido aos erros de uso e descontinuação da pílula devido à má adaptação e seus efeitos colaterais, são os mais frequentes problemas encontrados em quem não foi orientada antes de iniciar. No consultório há diariamente pacientes de todas as idades, que iniciaram pílulas de maneira incorreta ou que a escolha foi péssima, por orientação de qualquer um, seja parente, amigo ou médico. É fundamental a consulta para avaliar individualmente cada caso e verificar se os benefícios esperados para um medicamento justificam os riscos inerentes ao uso desse produto. Saber qual é a preocupação principal desta paciente: a cólica, o fluxo, as acnes, o peso, ou a contracepção apenas? Quanto ela pode gastar? Inúmeras vezes gostaríamos de indicar uma pílula que tem menos riscos de engordar e sabemos que para aquela paciente o custo será um fator limitante. Ela tem histórico familiar de trombose, ou problemas de saúde, má adaptação a outras pílulas ou outros métodos? Ela tem capacidade financeira para usar outros métodos contraceptivos de custo elevado, tem filhos, pretende engravidar logo, parceiro fixo? São inúmeros os questionamentos que são abordados quando se avalia a indicação de uma ou outra pílula, ou mesmo outros métodos que podem ser mais adequados. A orientação inicial sobre todas as opções de métodos contraceptivos, sobre os riscos e benefícios deste e de outros métodos, assim como o exame geral e ginecológico inicial e posteriormente anual com consulta e papanicolau fazem a diferença para a segurança e adaptação desta mulher.

Todos levam ao aumento do risco, sendo piores àqueles que têm composição combinada (estradiol + progesterona), seja na forma oral, adesivo, injetável ou anel vaginal. Passada a fase aguda de um episódio de tromboembolismo, os métodos hormonais só com progesterona são permitidos, sempre com maior controle.

 

OP: Mulheres que não possuem histórico familiar de trombose e fazem o uso da pílula também correm esse risco?

TB: Sim, mas a incidência na população sem histórico é muito baixa, de cinco casos a cada 100 mil mulheres. Quando não usa pílula, aumenta em três a cinco vezes se passa a tomar. Caso tenha alguns fatores hereditários ou adquiridos predisponentes de trombofilia, este aumento pode ser de 180 vezes, sendo necessária a análise individual e com exames específicos.

 

OP: Há algum exame que comprove que a trombose foi causada pela pílula?

TB: Existem sete exames principais na pesquisa de fatores causadores de trombose. Há alguns fatores de coagulação que quando alterados aumentam muito este risco, contraindicando o uso da pílula combinada com estradiol, mas no momento que se detecta o tromboembolismo não se pode ter a certeza que foi o anticoncepcional o causador isoladamente. Sempre que houver histórico familiar de trombose, sem um motivo explicável, principalmente quando ocorreu em familiares jovens, deve ser indicada a avaliação com estes exames específicos para trombofilia, antes do iniciar o uso de anticoncepcionais.

 

OP: Quem deve evitar tomar a pílula?

TB: Cada situação deve ser avaliada individualmente quanto aos riscos e benefícios. São utilizados os critérios de elegibilidade da Organização Mundial de Saúde (OMS), avaliando-se as contraindicações absolutas ou relativas para melhor definição. As pílulas combinadas têm maiores restrições e riscos quando usadas em inúmeras situações: tabagistas de mais de 15 cigarros ao dia em qualquer idade, e tabagistas acima de 35 anos, enxaqueca com aura, ou cefaleia de aparecimento concomitante ao início da pílula, varizes, obesidade, hipertensão, dislipidemias, câncer de mama, usuárias de medicamentos anticonvulsivantes, e história familiar de trombose, doenças hepáticas, entre outros.

 

OP: Um estudo publicado no periódico científico The BMJ revelou que as pílulas modernas, que surgiram a partir da década de 1990, são as que oferecem maior risco para as mulheres. Há embasamento suficiente para afirmar que as pílulas modernas são mais perigosas que as antigas?

TB: Vários estudos apontam para o risco maior de trombose, usando drospirenona, ciproterona, desogestrel e gestodeno em relação às pílulas mais antigas com levonorgestrel, mas esse risco é bem pequeno. Como existem necessidades específicas de cada paciente, deve-se avaliar o grau de risco individual e o que a paciente procura ou apresenta: acnes, oleosidade de pele e cabelo, ganho de peso com outras pílulas, náusea, cólicas menstruais intensas, fluxo menstrual irregular ou forte, e assim por diante.

 

OP: Existem mulheres, muitas vezes jovens, que iniciam o uso de contraceptivos orais sem indicação médica. De que forma isso pode ser prejudicial para a saúde?

TB: A gravidez indesejada, que ocorre devido aos erros de uso e descontinuação da pílula devido à má adaptação e seus efeitos colaterais, são os mais frequentes problemas encontrados em quem não foi orientada antes de iniciar. No consultório há diariamente pacientes de todas as idades, que iniciaram pílulas de maneira incorreta ou que a escolha foi péssima, por orientação de qualquer um, seja parente, amigo ou médico. É fundamental a consulta para avaliar individualmente cada caso e verificar se os benefícios esperados para um medicamento justificam os riscos inerentes ao uso desse produto. Saber qual é a preocupação principal desta paciente: a cólica, o fluxo, as acnes, o peso, ou a contracepção apenas? Quanto ela pode gastar? Inúmeras vezes gostaríamos de indicar uma pílula que tem menos riscos de engordar e sabemos que para aquela paciente o custo será um fator limitante. Ela tem histórico familiar de trombose, ou problemas de saúde, má adaptação a outras pílulas ou outros métodos? Ela tem capacidade financeira para usar outros métodos contraceptivos de custo elevado, tem filhos, pretende engravidar logo, parceiro fixo? São inúmeros os questionamentos que são abordados quando se avalia a indicação de uma ou outra pílula, ou mesmo outros métodos que podem ser mais adequados. A orientação inicial sobre todas as opções de métodos contraceptivos, sobre os riscos e benefícios deste e de outros métodos, assim como o exame geral e ginecológico inicial e posteriormente anual com consulta e papanicolau fazem a diferença para a segurança e adaptação desta mulher.

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