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Aplicativos de relacionamento são a sensação do momento

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Há opções para todos os gostos e intenções: para evangélicos, para pessoas com IMC alto, para aqueles que já superaram a crise dos 40 e até mesmo para servidores públicos. Tinder é o preferido na região

 

Todos os dias, celular em mãos e muita atenção na telinha na hora de avaliar perfis. É mais ou menos assim o ritual diário de quem usa aplicativos on-line de relacionamento. Dedo polegar para a direita… Dedo polegar para a esquerda e, neste caso, começa a interação com candidatos a um encontro ao vivo.

Foi assim por um bom tempo com Rafael Ávila, 31 anos, que utilizou o Tinder por cerca de dez meses. Ele perdeu a conta de quantos liked ou nope assinalou para conseguir alguns matches (quando dois usuários curtem um ao outro e podem, então, trocar mensagens). Quando eu morava em Marechal Cândido Rondon, dei uns dois mil matches, mas nem todos resultaram em conversas ou encontros, conta ele, que há aproximadamente um ano mora em Cascavel.

O ex-rondonense diz que muitas conversas via aplicativo acabaram em encontros do jeito tradicional, ao vivo, cara a cara. Mas até agora, nenhum namoro. Sem crise! Cheguei a sair com umas 20 meninas em Marechal. Com algumas até sai mais de uma vez, revela, acrescentando: Vejo que o Tinder é mais para curtição. Uns usam para fazer amizades, mas a maioria usa para conhecer e ficar sem compromisso. Quem quer namorar tem que procurar outros meios, opina.

Para Rafael, ver a foto da pessoa no celular e conversar por chat é tranquilo, já ao vivo é mais complicado, porque, na visão dele, nem sempre a pessoa é como se imaginou ser. Quando ia para um encontro, eu não criava muita expectativa. Já sai com menina que não curti e foram altas manobras para o encontro terminar logo e eu levar ela para casa. Contudo, de uma forma geral, mais me surpreendi positivamente do que me decepcionei, avalia.

Rafael parou de usar o Tinder já faz um tempo, mas super indica o aplicativo de relacionamento. É uma ferramenta muito legal, praticamente só tive experiência bacana. Quando morei em Marechal e não conhecia muitas pessoas, foi a partir dele que fiz algumas amizades, menciona.

 

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Rafael Ávila aprova os aplicativos de relacionamento: Pelo Tinder, dei uns dois mil match, mas nem todos resultaram em conversas ou encontros. Cheguei a sair com umas 20 meninas

 

PAIXÃO

Já na opinião de Rosana*, 38 anos, o Tinder não vale a pena. A avaliação que ela faz do aplicativo de relacionamento é uma só: péssimo!

Ela comenta que usa a ferramenta há três meses, conseguiu vários matches e já saiu com duas pessoas, depois de trocar muitas mensagens pelo celular. A rondonense, inclusive, chegou a engatar um namoro. Quando baixei o aplicativo era mais para curtição, mas depois me apaixonei de verdade por uma pessoa que conheci no Tinder, expõe.

 

ENCONTROS FREQUENTES

Mariana*, 34 anos, não chegou a se apaixonar, mas diz que ficou muito afim de uma pessoa que conheceu pelo Tinder. Não chegamos a namorar, mas ficamos nos encontrando por alguns meses, conta. Para ela, o aplicativo é bastante interessante para quem está solteiro. Você acaba conhecendo muitas pessoas, principalmente próximas de onde você mora, ou da mesma cidade, e tem a oportunidade de, quem sabe, ficar com uma que pode se tornar o seu companheiro, ou, por que não, um esposo, entende.

A palotinense menciona que usou o Tinder por cinco meses e trocou mensagens com cerca de 15 pessoas. Destas, saiu ao vivo com cinco.

 

* Nome fictício para preservar a fonte, que preferiu não se identificar

PARA TODOS OS GOSTOS

A grande oferta de possíveis paqueras transformou os aplicativos de relacionamento não apenas em um novo e vasto campo de possibilidades a ser explorado por milhões de solitários – só o Tinder possui mais de 250 milhões de usuários ativos em todo o mundo – como também inaugurou um novo mercado, cada vez mais segmentado.

Hoje há aplicativos de relacionamento para todos os gostos e intenções: para evangélicos (Divino Amor), para pessoas com o IMC?alto (Amor de Peso), para aqueles que já superaram a crise dos 40 (Coroa Metade) e até mesmo para servidores públicos (Namoro Estável – aplicativo com maior número de usuários locados em Brasília).

Mas, se você não se identifica com nenhum grupo específico, pode buscar por aplicativos cujo principal filtro é a intenção: se deseja um relacionamento sério, pode tentar o Kickoff, cujo slogan já avisa que esse não é um app de azaração; se está naquela fase solteiro sim, solitário nunca, vá de Tinder; e se quer apenas pôr fim ao namoro e não sabe como, é possível recorrer ao Binder.

 

Mídias sociais maximizam possibilidades, mas limitam oportunidades

A psicóloga rondonense Fátima Tonezer diz que houve uma transformação na dinâmica dos relacionamentos e que a popularidade dos aplicativos é representativa de uma mudança comportamental que impacta a forma como as interações ocorrem. Tudo começa pelo marketing, que maquia a realidade. Mostra rostos lindos, corpos esculturais, relacionamentos perfeitos e assim por diante, e isso impacta na autoestima das pessoas porque elas se comparam o tempo todo, e infelizmente a comparação quase sempre lhes é desfavorável. Quando a pessoa vai criar um perfil em redes sociais e aplicativos, por exemplo, ela acaba utilizando as estratégias do marketing. Usa a melhor foto, no ângulo que melhor lhe favorece, as melhores palavras, o melhor pensamento. Coloca somente atributos positivos. Neste processo todo acaba maquiando muitas coisas, pontua.

Conforme a profissional, as mídias sociais mostram como a pessoa gostaria de ser e como ela acha que os outros gostariam que ela fosse. Nas mídias sociais eu tenho o controle do que eu quero que você saiba de mim ou pense de mim. Quando eu vou te passar uma mensagem, tenho condições de corrigir, apagar, escrever de novo. Posso usar o corretor a todo momento. Quando as coisas são ao vivo e a cores é diferente. O que eu falar estará dito e não terá como voltar atrás, expõe.

 

POSSIBILIDADES

Os aplicativos de relacionamento fazem sucesso porque maximizam as possibilidades de encontrar um parceiro. Mas a migração do ambiente real para o campo virtual por causa da facilidade de se encontrar alguém com as características desejadas facilita de fato ou pode ser um limitador de oportunidades?

Para Fátima, é a segunda opção: um limitador de oportunidades. Segundo ela, com as mídias sociais perde-se a facilidade da abordagem, perde-se a arte da conquista, perde-se a troca real de um olhar ou um sor-

riso, o que no aplicativo a pessoa não vai ter. Ao conversar pessoalmente é possível ter uma ideia melhor da pessoa, identificar aquilo que te atrai nela. Você consegue fazer uma leitura mais adequada, ou seja, ter mais informações sobre ela do que virtualmente, onde só há foto, menciona.

A psicóloga diz que o contato ao vivo tem mais riscos, contudo, produz resultados mais imediatos. Eu posso me aproximar de você e você me descartar na hora. É algo imediato, diferente do mundo virtual, onde você pode ficar três meses, meio ano ou um ano conversando por redes sociais ou aplicativos e quando se encontrar pessoalmente verificar que não rola química, declara.

De acordo com a rondonense, procurar uma companhia virtualmente é mais cômodo, no entanto, pode fazer a pessoa viver com muita ansiedade, criando expectativas e fantasias que irão resultar, posteriormente, em frustração e mais ansiedade. Pode acontecer de quando a pessoa conhecer o parceiro pessoalmente perceber que ele não tem todas as características que ela imaginou que tivesse. Quebra-se, então, a fantasia. Essa situação pode fazer a pessoa duvidar da sua capacidade de se relacionar, e isso vai baixar ainda mais a autoestima dela, alerta.

PRIVAÇÕES

Apesar de a forma como as pessoas se comunicam e se conhecem nos tempos atuais ter sido ampliada, o desejo original, de encontrar alguém, continua o mesmo. A procura por um par ainda é espontânea, mesmo no ambiente virtual, mas a interação via aplicativos, não. No campo virtual não há o contato da pele, o olho no olho, e as pessoas precisam disso. Sem falar que pelos aplicativos as pessoas deixam, muitas vezes, de expor toda a verdade ao seu respeito, salienta.

Antes de existir as mídias sociais, Fátima lembra que as estratégias de conquista se resumiam à abordagem cara a cara. No passado, muitas vezes, a pessoa ingeria bebida alcoólica para criar coragem e chegar, se apresentar, puxar conversa. Então, poderíamos dizer que agora, nos tempos de mídias sociais, as pessoas estão bebendo menos. Não! As pessoas estão cada vez mais enclausuradas, mais trancadas, enaltece. Ficam presas em seus celulares. Se iludem pois acreditam que têm muitos amigos, centenas de seguidores nas redes sociais e muitas vezes até mesmo um relacionamento amoroso. Mas, e na vida real?, questiona.

 

CURTIÇÃO DE FATO?

Na visão da psicóloga, se a pessoa criou um perfil num site ou aplicativo de relacionamento é porque, via de regra, ela não está acompanhada e não está feliz. Muitas delas têm medo de encarar as pessoas e acreditam que virtualmente é mais fácil conseguir encontrar um parceiro, entende.

Para muitos usuários de aplicativos de relacionamento o ponto x dessa mídia é a curtição. As pessoas podem usar um aplicativo de fato para curtir. Agora, devem observar quando isso começa a ser uma mentira. Por exemplo, me cadastrei, entrei, olhei, mantive contatos, exclui… ou não exclui, mas não entro há um mês. Quando é assim realmente é um passatempo, é curtição. Agora, quando a pessoa fica curtindo de manhã, de tarde, de noite e de madrugada, ela estará mentindo para si mesma, destaca.

Conforme a profissional, tudo é uma questão de frequência e quantidade. Com que frequência você tem determinado comportamento?, indaga. O cuidado que eu tenho que ter comigo são as minhas justificativas. Será que não estou justificando demais?, frisa.

Ela chama a atenção para o fato de as mídias controlarem as pessoas o tempo inteiro. Elas têm que sorrir assim, falar tal coisa, ter corpo sarado, se vestir de determinado modo, estar em lugares badalados… Então, é preciso ficar atento a um detalhe: o externo é fundamental, mas não pode ocupar todo o espaço do interno, enfatiza.

O mais importante, orienta, é a pessoa olhar para si. Por que eu estou naquela mídia? Por que para mim é mais fácil apertar o botão ou deslizar o dedo na tela do que olhar nos olhos de uma pessoa e dizer o que estou pensando? Se a pessoa voltar o olhar para si, e não somente para o externo, buscando resolver as suas dificuldades, poderá, sim, se divertir com as mídias. Passará a utilizá-las de uma maneira mais tranquila, fluída. Não vai ter tanta expectativa e tanto sofrimento, evidencia.

 

FRUSTRAÇÃO

A frustração pode ocorrer em qualquer relacionamento. Mas será que na vida real ela é menos impactante que na virtual?

De acordo com a psicóloga rondonense, do ponto de vista da quantidade de expectativa e ansiedade agregada, sim. Ao vivo tudo é muito mais rápido. Não dá tempo de criar tantas fantasias. Quando crio ilusões e fico alimentando isso por um certo tempo, a frustração será maior. A frustração no aqui e agora também é ruim, mas é mais imediata, ressalta, acrescentando: O problema da cultura atual é que as pessoas não aprendem a lidar com as suas emoções, e a frustração faz parte das emoções.

 

O SEGREDO É…

Fátima afirma que as ferramentas tecnológicas (celulares, smartphones, tablets entre outros) e as mídias sociais não são ruins. A questão é como você as usa. Tudo tem um ponto positivo. Nem tudo é ruim. Mas em tudo deve haver um ponto de equilíbrio. Se eu uso esse ponto de equilíbrio em mim, eu posso fazer qualquer coisa. Este é o segredo. É eu ter autocontrole e o controle externo. Você pode usar as mídias, só não pode deixar que elas te usem, destaca, emendando: A felicidade que a gente procura não é uma estação. A felicidade são os trilhos, a jornada. É o caminhar. Agora tenho motivo para sorrir, daqui pouco terei motivos para estar triste ou braba. Isso é a felicidade. Você poder viver e sentir todas as emoções, finaliza.

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