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Diabetes gestacional requer atenção

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Qual o dia mais feliz da vida de uma mulher? Quando se forma na universidade, compra o primeiro carro, se casa… São inúmeros os acontecimentos que marcam a vida de uma mulher para sempre. Mas, um dos mais esperados por muitas delas é o positivo no teste de gravidez. E foi assim com Michelli Wengrat Gregory. Descobrir que estava grávida da primeira filha foi um momento muito especial. Porém, passado o período de euforia e com o desenrolar dos acompanhamentos do pré-natal, ela descobriu ter uma condição que atinge até 25% das gestantes: a diabetes gestacional.

A doença se caracteriza pelo aumento do teor de açúcar no sangue, com consequências que podem ser graves tanto para a mãe quanto para o feto. E traz a necessidade de investigação sobre os possíveis fatores de risco.

O diabetes ocorre quando o pâncreas – órgão responsável pela produção de insulina – não é capaz de cumprir sua tarefa de metabolizar quantidade suficiente de açúcar circulante no sangue. Por conta da atuação dos hormônios da gestação, há uma chance maior do desenvolvimento de diabetes durante a gravidez. Além disso, na gravidez é comum a mulher diminuir a prática de atividade física e, muitas vezes, ocorre um considerável aumento de ingestão calórica.

A DESCOBERTA

Durante o pré-natal, os médicos pedem para fazermos uma série de exames, e foi a partir de um deles que descobri que eu tinha a diabetes gestacional, conta Michelli. O tratamento não é difícil, mas também não é simples, pois precisa de muita dedicação por parte da gestante. Depois que eu descobri passei a fazer consultas também com um nutricionista e um endocrinologista para tratar e controlar a situação, comenta. Michelli lembra que tinha uma caderneta, na qual anotava quais eram os níveis de glicose todos os dias e mostrava nas consultas com os médicos. Eu tinha que fazer o exame para medir minha glicose quatro vezes ao dia e anotar. Fazia em jejum, no café da manhã, no almoço e na janta, menciona, acrescentando. Tinha que ficar monitorando o dia inteiro.

Para controlar o nível de açúcar no sangue, Michelli precisou mudar radicalmente a sua alimentação. Orientada por um nutricionista, ela cortou o consumo de massas, açúcar, entre outros alimentos que poderiam fazê-la perder o controle da situação e trazer riscos para ela e o bebê.

Apesar de algumas restrições e cuidados a mais que teve que ter durante a gravidez, Manuela, a primeira filha, nasceu totalmente saudável. Se você cuidar bem, não tem porque se preocupar, garante. Na maioria das vezes a diabetes gestacional não continua após o nascimento. Geralmente, quatro ou cinco dias depois após o parto, a mãe não tem mais a condição de diabetes, explica a ginecologista e obstetra Sônia Maria Coelho.

 

FUTURAS GESTAÇÕES

Contudo, dependendo do histórico familiar ou de alguns outros fatores, a mãe pode não somente desenvolver a diabetes como também tê-la novamente em futuras gestações. Esse foi o caso de Michelli, que continuou com a condição após o nascimento da primeira filha e na gravidez do segundo filho teve novamente a diabetes gestacional. Tem casos em que a gestante não só adquire a diabetes gestacional durante a gravidez como também a situação persiste depois, diz Sônia.

Michelli lembra que a segunda gestação foi mais complicada por conta da diabetes gestacional. Foi mais difícil de controlar do que da primeira vez. O Jorge (segundo filho) nasceu com hipoglicemia, além de ter de ficar cinco dias internado após o parto para ser acompanhado de perto, conta.

Apesar das adversidades que enfrentou durantes as gestações, hoje os dois filhos de Michelli, Manuela, de seis anos, e Jorge, de dois, estão bem e saudáveis. Os dois nasceram saudáveis. Eles carregam a genética e pode ser que venham a ter diabetes no futuro, mas hoje eles estão ótimos, não desenvolveram nenhum problema por conta da diabetes gestacional, comenta.

 

DIAGNÓSTICO

A condição é pouco conhecida por muitas mulheres. De acordo com a ginecologista e obstetra Sônia Maria Coelho, a diabetes gestacional é geralmente a do tipo dois, em que a pessoa adquire, não nasce com ela. Na gravidez, a gestante passa a ter intolerância ao açúcar, e isso acaba sendo um fator em que descobrimos que ela tem essa intolerância ao carboidrato, expõe.

Para confirmação do diagnóstico a gestante faz alguns exames, como de glicemia em jejum. Quando uma gestante está com a glicemia mais alta, mesmo fazendo o primeiro teste em jejum, fazemos um teste de tolerância à glicose quando ela está com 24 semanas, informa Sônia. A médica explica que se neste segundo exame os resultados forem acima de 144, a gestante já é classificada como diabética. E uma vez diabética, vamos pedir para que ela faça um controle, tanto com um nutricionista, porque, às vezes, a dieta dela não é correta, quanto com um endocrinologista, para acompanhar o caso, menciona.

A obstetra diz que a investigação da diabetes gestacional é feita em todas as gestantes, mesmo aquelas que não tiveram um diagnóstico prévio da doença. Entre 24 e 28 semanas de gestação deve-se realizar TOTG (teste oral de tolerância à glicose) com ingestão de 75 gramas de glicose oral, relata.

 

FATORES QUE INFLUENCIAM

Alguns pontos influenciam para que uma gestante desenvolva a diabetes gestacional. Entre eles, segundo Sônia, estão a idade (acima de 35 anos), sobrepeso, obesidade ou ganho de peso na gravidez, histórico familiar de diabetes em parentes de primeiro grau, crescimento fetal excessivo, hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez, antecedentes obstétricos de abortamento de repetição, malformações, morte fetal ou neonatal, entre outros.

Se uma gestante estiver ganhando muito peso durante a gravidez, mas estiver comendo normalmente, nós investigamos. Porque se está ganhando muito peso, já sabemos que alguma coisa não está certa, comenta a médica. Outro ponto destacado por ela é o fato de o bebê estar grande demais. Fazemos os exames rotineiros, da altura interina, e ela é sempre mais ou menos condizente com a idade gestacional. Então, se a gestante está com 18 semanas, a altura será de 18 centímetros. Porém, quando a gestante é diabética, e ela está, por exemplo, com 24 semanas, esta altura pode estar com 27 a 28 centímetros, e aí já não está certo. São alguns indícios que nos alertam quanto à condição da mãe, comenta.

 

TRATAMENTO

Não existe remédio para tratar a diabetes gestacional. O que é recomendado para as gestantes nesta situação é que façam consultas, além do ginecologista, com um nutricionista e um endocrinologista. Também é indicado a adoção de uma rotina saudável, com a prática de exercícios físicos. Fazer exercícios é muito importante, porque é muito comum o sedentarismo durante a gravidez, destaca Sônia. A gestante precisa fazer atividades para poder queimar esse açúcar, essas calorias que ela consumiu. O que acontece é que geralmente a gestante consume mais do que gasta, alerta.

A obstetra diz que o tratamento vai consistir basicamente na orientação alimentar que permite o ganho de peso adequado tanto da mãe quanto do bebê. O ganho de peso deve ser em torno de 300 a 400 gramas por semana, a partir do segundo trimestre de gravidez, informa. Sônia explica que o valor calórico total deve ter 40% a 45% de carboidratos, 15% a 20% de proteínas e 30% a 40% de gorduras. Como citei, a prática de atividades devem fazer parte do tratamento, respeitando, todavia, as contraindicações obstétricas. O que recomendamos é o monitoramento das glicemias capilares de quatro a sete vezes por dia e pós-prandiais, especialmente em gestantes que usam insulina, expõe.

O principal, para a médica, é que a gestante siga as recomendações do ginecologista, nutricionista e endocrinologista, para que a gestação seja tranquila e o bebê nasça sem complicações. É importante sempre fazer um bom pré-natal, estar atento e realizar todos os exames que são solicitados, enaltece a ginecologista.

Michelli sabe bem dos cuidados que devem ser tomados, e faz um alerta às gestantes nesta condição sobre a importância de seguir todas as orientações. É importante as gestantes prestarem atenção nisso, porque é um problema sério, que pode gerar dificuldades futuras para as crianças. É necessário sempre estar atenta a todos os cuidados necessários, recomenda.

 

PARTO E PÓS-PARTO

A médica ginecologista comenta que as gestantes com ótimo controle metabólico e que não apresentam antecedentes obstétricos de morte perinatal, macrossomia ou complicações associadas, como hipertensão, podem aguardar a evolução espontânea para o parto.

Já no pós-parto Sônia menciona que a maioria das mulheres apresentam normalização das glicemias nos primeiros dias. Além disso, é importante estimular o aleitamento materno e evitar a prescrição de dietas hipocalóricas durante o período de amamentação. Ainda é recomendável reavaliar a tolerância à glicose a partir de seis semanas após o parto. Em torno de 15% a 50% das mulheres com a diabetes gestacional desenvolvem diabetes ou intolerância à glicose após a gestação, finaliza.

 

RISCOS PARA O BEBÊ

O diabetes é de alto risco para o bebê no período gestacional e neonatal. Condições que ocorrem com maior frequência nas diabéticas e seus bebês incluem malformações congênitas, prematuridade, problemas respiratórios e complicações metabólicas como hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue do bebê).

Os riscos para o bebê estão relacionados ao início e à duração da doença, assim como à sua gravidade durante toda a gestação. Esses riscos sofrem influência também de outras complicações da gravidez, como, por exemplo, pré-eclâmpsia (hipertensão arterial específíca da gravidez), que é duas vezes mais comum em pacientes diabéticas em comparação a gestações normais, e cuja ocorrência aumenta com a gravidade da doença. A pré-eclâmpsia é frequentemente associada ao parto prematuro, o que contribui também para complicações no recém-nascido.

O aumento do açúcar no sangue materno no início da gravidez conduz, ainda, à elevação das taxas de abortos espontâneos e malformações fetais. Por outro lado, o desenvolvimento neurológico de bebês de mães diabéticas bem controladas é semelhante ao das crianças normais. No entanto, diabetes mal controlado pode resultar em anormalidades no desenvolvimento da criança.

Se os níveis do açúcar estiverem perto do normal e não houver outras complicações, o bebê poderá nascer naturalmente, com nove meses, através de parto normal, inclusive.

PREVENÇÃO

Um programa de cuidados antes mesmo de ficar grávida, com controle rigoroso da glicemia e do peso materno antes e durante toda a gravidez pode diminuir os riscos de aborto e malformações fetais, entre outras complicações decorrentes do diabetes.

Então, destaque para a importância do pré-natal de consulta médica durante o planejamento da gestação. O controle glicêmico rigoroso durante a gravidez está associado a menores taxas de mortalidade perinatal. O risco pode ser reduzido drasticamente pelo controle da glicemia durante a gravidez.

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