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Mudança de comportamento pode indicar dependência química

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Gerente do departamento de apoio técnico do Hospital Filadélfia, assistente social Sandra Stenzel, e gerente da equipe de enfermagem, enfermeira Leila Rodrigues Dias: Os pacientes sempre reverenciam que o grupo de amigos muitas vezes foi o ponto de partida para a experimentação e em seguida a dependência (Foto: Maria Cristina Kunzler)

Um pai ou uma m atilde;e aceitar que o filho eacute; usu aacute;rio de drogas n atilde;o eacute; uma tarefa nada f aacute;cil. Mais dif iacute;cil ainda eacute; admitir que o mesmo precisa de internamento para conseguir se libertar de um mundo que com certeza s oacute; lhe far aacute; mal. E dizer o que ent atilde;o quando este filho eacute; um adolescente ou at eacute; mesmo uma crian ccedil;a?
Infelizmente essa tem sido a realidade para muitas fam iacute;lias. No entanto, quando o problema j aacute; est aacute; instalado, eacute; preciso ver o internamento como uma sa iacute;da, uma esp eacute;cie de possibilidade de liberta ccedil; atilde;o das drogas, e n atilde;o como o ldquo;fim do mundo rdquo;. Este tem sido o caminho tra ccedil;ado por muitas fam iacute;lias do Paran aacute;, que veem no Hospital Filad eacute;lfia, de Marechal C acirc;ndido Rondon, aquela luz no fim do t uacute;nel.
H aacute; dois anos a unidade hospitalar instalou uma ala exclusiva destinada para adolescentes dependentes qu iacute;micos, a qual j aacute; atendeu 238 pessoas entre 12 e 17 anos, incluindo os reincidentes. O tempo de internamento varia entre 30 e 45 dias e o foco eacute; a reeduca ccedil; atilde;o.
No local o paciente tem acompanhamento por uma equipe multidisciplinar, composta por profissionais de Psicologia, Pedagogia, Enfermagem, Servi ccedil;o Social e Educa ccedil; atilde;o F iacute;sica.
O objetivo do internamento eacute; levar o adolescente a uma reflex atilde;o sobre a vida que vinha at eacute; ent atilde;o levando e o que pretende para o futuro. ldquo;Todas as interven ccedil; otilde;es que temos com os pacientes s atilde;o terap ecirc;uticas. Eles participam no hospital de cinco atividades por dia, alternando os profissionais mencionados. Isso significa que durante todo o dia, at eacute; a noite, os adolescentes est atilde;o ocupados rdquo;, mencionam a gerente do departamento de apoio t eacute;cnico do Hospital Filad eacute;lfia, assistente social Sandra Cristina Lunkes Stenzel, e a gerente da equipe de enfermagem, enfermeira Leila Nayra Rodrigues Dias.
A ala de adolescentes eacute; muito diferente daquela imagem que muitas pessoas podem ter de um hospital psiqui aacute;trico, em que os pacientes ficam amarrados na cama e trancafiados em quartos. Muito pelo contr aacute;rio, na ala os jovens podem jogar pingue-pongue, desenhar, pintar, assistir filmes, escrever, al eacute;m de praticarem alguns exerc iacute;cios, tudo isso em um ambiente agrad aacute;vel. ldquo;Utilizamos dentro do nosso tratamento a quest atilde;o motivacional e fazemos com que o paciente tenha comprometimento, inclusive com a mudan ccedil;a de atitudes rdquo;, afirma a assistente social Sandra. ldquo;Existem princ iacute;pios ativos das interven ccedil; otilde;es, que vai desde o feedback agrave; responsabilidade, orienta ccedil; otilde;es claras, estrat eacute;gias, empatia e autoefic aacute;cia. Trabalhamos estes princ iacute;pios ativos para que eles possam entender que existe sim a possibilidade deles estarem retomando a vida sem que haja a continuidade da depend ecirc;ncia rdquo;, acrescenta a enfermeira Leila.

Sinais
O adolescente que eacute; usu aacute;rio de drogas apresenta geralmente uma mudan ccedil;a de comportamento, dependendo do entorpecente que estiver sendo consumindo. ldquo;Se for maconha o usu aacute;rio apresenta sonol ecirc;ncia e aumento de apetite; o crack e a bebida causam emagrecimento e, junto com a coca iacute;na, agressividade. Dos adolescentes que atendemos, 95% ou mais abandonaram a escola. Isso n atilde;o significa que todo adolescente que abandona a escola eacute; dependente qu iacute;mico, mas eacute; um ponto preocupante que tem que ser investigado. A mudan ccedil;a de atitude frente ao h aacute;bito escolar com uma queda no rendimento deve ser observada mais de perto pelos pais rdquo;, revela a assistente social.
A enfermeira, por sua vez, ressalta ainda que h aacute; uma altera ccedil; atilde;o do comportamento dentro de casa. O filho passa a n atilde;o ter mais atitude de respeito e de assimila ccedil; atilde;o agrave;s orienta ccedil; otilde;es, se torna negligente com o autocuidado e n atilde;o respeita hor aacute;rios de alimenta ccedil; atilde;o e sono. Al eacute;m disso, ocorrem desvios de objetos dentro de casa, o adolescente passa a pedir com fre-
qu ecirc;ncia dinheiro e sem comprovar a necessidade. ldquo;A mudan ccedil;a de atitude e comportamento do adolescente na resid ecirc;ncia j aacute; eacute; um significativo que alguma coisa diferente est aacute; acontecendo. O que pode levar os pais a n atilde;o perceber eacute; que muitas vezes trabalham o dia todo e n atilde;o disponibilizam tempo para a fam iacute;lia, deixando o di aacute;logo de lado rdquo;, informa.

Amigos
Questionadas se certos ldquo;amigos rdquo; podem ser influentes para que o adolescente se torne usu aacute;rio de drogas, as profissionais revelam que dentro das abordagens que fazem com os pacientes estes sempre reverenciam que o grupo de amigos muitas vezes foi o ponto de partida para a experimenta ccedil; atilde;o e em seguida a depend ecirc;ncia. ldquo;Os pais t ecirc;m que ter a preocupa ccedil; atilde;o de saber exatamente a companhia de seus filhos, onde est atilde;o indo e que atividades est atilde;o executando. Esta eacute; uma melhor forma de futuramente ter a certeza se existe ou n atilde;o o h aacute;bito da bebida ou de alguma subst acirc;ncia psicoativa rdquo;, orientam, acrescentando: ldquo;Os adolescentes nos dizem que, agrave;s vezes, experimentam o entorpecente sob influ ecirc;ncia de uma pessoa, tanto que eles dizem que t ecirc;m os amigos da droga e os outros amigos. Ao fazer uso de drogas, gradativamente eles v atilde;o trocando a companhia e passam a conviver com os usu aacute;rios rdquo;, emendam.

Momento de pedir ajuda
A assistente social e a enfermeira do Hospital Filad eacute;lfia ressaltam que quando os pais t ecirc;m conhecimento que o filho utiliza drogas, a busca pela ajuda precisa ser imediata. ldquo;Quanto antes o adolescente for encaminhado para tratamento, maiores as possibilidades de uma melhora. O que preocupa eacute; que geralmente quando os pais descobrem que o adolescente j aacute; est aacute; fazendo uso de entorpecentes, isso vem ocorrendo h aacute; muito tempo, e a iacute; o mesmo j aacute; est aacute; bastante comprometido e existe uma depend ecirc;ncia instalada, que vai necessitar de interna ccedil; atilde;o rdquo;, analisam.
Segundo as profissionais, eacute; de interesse do grupo de ldquo;amigos rdquo; em que convive que o adolescente mantenha a depend ecirc;ncia. Por isso, se ele n atilde;o faz essa separa ccedil; atilde;o eacute; dif iacute;cil o menor conceber a ideia de se tratar. ldquo; Eacute; l oacute;gico que muitas vezes o adolescente deseja o tratamento, mas a pr oacute;pria depend ecirc;ncia qu iacute;mica faz com que ele resista a esta ideia. Ent atilde;o vai se deixando levar pelo h aacute;bito e vai adiando, o que vai fazer com que haja uma dificuldade na recupera ccedil; atilde;o porque vai haver danos f iacute;sicos e emocionais, e cada vez mais arraigado o processo da depend ecirc;ncia qu iacute;mica rdquo;, afirmam Sandra e Leila.
Dos casos que chegam at eacute; o Hospital Filad eacute;lfia, revelam, os adolescentes n atilde;o conseguiriam largar o v iacute;cio sem o internamento. ldquo;Dentro da nossa experi ecirc;ncia, entendemos que eacute; necess aacute;rio este primeiro instante em que vai haver a motiva ccedil; atilde;o nesta ideia da liberta ccedil; atilde;o da droga. Existem algumas outras formas de ajuda, como grupos de apoio e de igreja, que fazem bons trabalhos, mas entendemos que o organismo est aacute; solicitando a subst acirc;ncia que fez o adolescente cair na depend ecirc;ncia. Por isso, os pacientes que chegam at eacute; n oacute;s precisam do internamento para que possam passar pelo per iacute;odo de desintoxica ccedil; atilde;o. N atilde;o podemos dizer que eacute; imposs iacute;vel largar o v iacute;cio sozinho, mas os casos que nos chegam os adolescentes n atilde;o conseguiriam sem o tratamento rdquo;, declaram.

Reca iacute;da
Ap oacute;s a interna ccedil; atilde;o, muitos pacientes retornam para o Hospital Filad eacute;lfia em consequ ecirc;ncia da reca iacute;da. Em alguns casos, houve adolescente que se internou por at eacute; cinco vezes. A gerente do departamento de apoio t eacute;cnico e a gerente da equipe de enfermagem da unidade hospitalar n atilde;o veem isso como algo negativo ou que seja frustrante, pois, na verdade, a equipe entende que a reca iacute;da eacute; um passo a mais para a recupera ccedil; atilde;o. ldquo;A reca iacute;da eacute; de certa forma at eacute; esperada de acontecer. O que desejamos eacute; que o adolescente tenha o tratamento do hospital como uma refer ecirc;ncia, para que ele retorne e saia mais forte para tentar novamente. N atilde;o entendemos a reca iacute;da como um fracasso, mas como uma forma do adolescente perder um pouco da onipot ecirc;ncia, pois ocorre de agrave;s vezes eles acharem que podem consumir droga s oacute; mais uma vez e, com a reca iacute;da, descobrem que n atilde;o d aacute;. Neste sentido, estamos abertos para tantas reinterna ccedil; otilde;es forem necess aacute;rias rdquo;, concluem.

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