Fale com a gente

Geral

Mulheres rondonenses encaram dificuldades com esperança

Publicado

em

Enquanto no Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta segunda-feira (08), muitas mulheres ser atilde;o exaltadas por conta de sua posi ccedil; atilde;o de lideran ccedil;a social ou destaque na profiss atilde;o, muitas outras sequer ser atilde;o lembradas. Se mesmo as que possuem boas condi ccedil; otilde;es de vida e trabalho est atilde;o sujeitas a passar por percal ccedil;os (e passam), qu ecirc; dizer das que enfrentam uma luta di aacute;ria de dificuldades e situa ccedil; otilde;es cr iacute;ticas.
Viver trancada em pouco mais de quatro metros quadrados dia e noite; n atilde;o poder acordar de manh atilde; e abrir a janela para contemplar o sol. N atilde;o poder sentir o sol na pele, nem estender as roupas ao sol para secar. Estar privada de fazer uma caminhada ou praticar esporte, visitar uma amiga ou estar em contato com a natureza. Algumas mulheres vivem assim. Eacute; o caso de Catarina de Sousa, que est aacute; presa na cadeia p uacute;blica de Marechal C acirc;ndido Rondon. Vai ser a primeira vez que ela vai passar o Dia da Mulher nesta condi ccedil; atilde;o, mas nada comparado ao Natal e anivers aacute;rio sem as pessoas que ama, revela. ldquo;Meus familiares n atilde;o puderam vir, foi muito triste, senti muita solid atilde;o e ang uacute;stia rdquo;, conta.
Catarina, 38 anos, est aacute; presa h aacute; oito meses por tr aacute;fico de drogas em raz atilde;o de ter tentado passar entorpecente para o marido que estava preso. ldquo;Ele estava tendo crises e sofrendo muito. Eu fui querer ajudar e acabei presa. Agora me arrependo muito, mas tenho que pagar pelo meu erro rdquo;, afirma, ressaltando que n atilde;o tem qualquer v iacute;cio.

Saudades
A cela de cerca de 30 metros quadrados, hoje dividida com outras seis mulheres, j aacute; foi ocupada por 12, conta. A superlota ccedil; atilde;o foi uma das fases mais dif iacute;ceis encaradas por Catarina e as demais detentas. Por eacute;m, o que mais a castiga eacute; a saudade da fam iacute;lia. ldquo;Viver longe dos filhos e do marido eacute; o mais dif iacute;cil rdquo;, salienta. Ela tem seis filhos, sendo um casado, outros adolescentes e as mais novas s atilde;o as g ecirc;meas de cinco anos. As crian ccedil;as e os jovens moram em quatro resid ecirc;ncias diferentes, com familiares. ldquo;As pequenas eu s oacute; consegui ver depois de sete meses que eu estava presa rdquo;, conta.
Catarina tem audi ecirc;ncia na pr oacute;xima semana e tem esperan ccedil;a de ser solta. O maior sonho dela eacute; reconstituir sua fam iacute;lia. ldquo;Eu s oacute; desejo voltar para casa, estar com meus filhos, trabalhar, ter uma vida normal rdquo;, diz.

Ponto de vista
Hoje a rotina de Catarina eacute; cozinhar para as colegas de cela e cuidar da contabilidade da venda interna de lanches, al eacute;m de assistir agrave; TV. Ela eacute; evang eacute;lica e acredita que a deten ccedil; atilde;o tamb eacute;m teve pontos positivos para ela e para as colegas. ldquo;Depois que fui presa meu marido deixou as drogas e n atilde;o tem mais o v iacute;cio rdquo;, menciona. Outro aspecto positivo eacute; o apoio que ela oferece para as demais detentas. ldquo;Nesse per iacute;odo que estou aqui (na cadeia) pude ajudar algumas das meninas a sair da afli ccedil; atilde;o por meio da ora ccedil; atilde;o. Algumas choravam muito e viviam se lamentando, sem ver o dia que iriam sair daqui e agora j aacute; sa iacute;ram e est atilde;o bem rdquo;, relata.

Vaidade
O fato de estarem isoladas do restante da sociedade n atilde;o impede que as mulheres detidas deixem de lado a vaidade. Como a quarta-feira eacute; o dia de visitas, a v eacute;spera eacute; especial para os cuidados pessoais. ldquo;Na ter ccedil;a-feira a gente faz as unhas, pinta o cabelo, hidrata, faz chapinha, se prepara e na quarta a gente usa a melhor roupa. Somos detentas, mas n atilde;o deixamos de ser mulher rdquo;, lembra Catarina.

Luta
A vaidade eacute; uma palavra que j aacute; n atilde;o faz mais parte do vocabul aacute;rio da trabalhadora associada agrave; Cooperativa de Agentes Ambientais (Cooperagir), Dulce Schmitt. Ela trabalha h aacute; dez anos recolhendo materiais recicl aacute;veis em Marechal C acirc;ndido Rondon. Neste tempo, ela passou da condi ccedil; atilde;o de ldquo;catadora de lixo rdquo; no dep oacute;sito junto ao Horto Municipal para ldquo;agente ambiental rdquo;, a partir da cria ccedil; atilde;o da cooperativa.
Se para a detenta Catarina o sol eacute; raro e faz muita falta, para Dulce, 62 anos, o sol eacute; intenso sobre sua cabe ccedil;a durante as jornadas di aacute;rias na rua, em busca de pap eacute;is, pl aacute;sticos e outros materiais. Durante a vida inteira Dulce trabalhou sob o sol, seja no campo, como boia-fria, seja na cata ccedil; atilde;o. ldquo;Quando era boia-fria ficava muito cansada por causa do calor e quando parava para descansar era descontado do sal aacute;rio. Agora n atilde;o, na cooperativa a gente pode parar pra tomar f ocirc;lego rdquo;, relata. Pele clara e olhos azuis, nunca usou oacute;culos escuros e passou a usar filtro solar h aacute; dois anos.

Condi ccedil; otilde;es
Ela est aacute; feliz por trabalhar na cooperativa, pois as condi ccedil; otilde;es melhoraram muito. Quando trabalhavam ela e o marido (in memoriam) por conta, nem sempre tinham renda, agora tem sal aacute;rio mensal. Quando ficou doente e n atilde;o teve ganho, a coisa apertou e chegou a faltar comida na mesa. Agora tem amparo da Previd ecirc;ncia Social e seguro de vida. Algumas vezes ia ao mercado e passava vontade de comer frutas como uva, melancia, ameixa; h aacute; pouco tempo adquiriu condi ccedil; otilde;es de comprar.
Dulce tem oito filhos, 24 netos e um bisneto. Na medida do poss iacute;vel procura ajudar os filhos e netos financeiramente, ao inv eacute;s de ser ajudada por eles. ldquo;N atilde;o teria coragem de lsquo;tirar rsquo; deles para mim, preferia passar vontade mesmo rdquo;, confessa.

Dia comum
Mesmo com problema de pulm atilde;o, a rondonense trabalha faceira, principalmente depois que passou a contar com um carrinho el eacute;trico. A idosa, que nunca recebeu flores em homenagem ao Dia da Mulher, se contenta em ouvir mensagens alusivas agrave; data no r aacute;dio. ldquo;S atilde;o bonitas e a gente fica emocionada rdquo;, diz.
Para Dulce, a pr oacute;xima segunda-feira ser aacute; mais um dia como todos os outros, em que ela vai orar pedindo a Deus sa uacute;de e for ccedil;a para mais um dia de trabalho.
A esperan ccedil;a de Dulce eacute; poder se aposentar para levar uma vida mais tranquila, por eacute;m, sem parar de trabalhar. ldquo;Eu gosto de trabalhar, me sinto bem. Quando me aposentar quero ter uns bichos para criar, um canto para plantar, e comprar uma m aacute;quina de lavar grande para lavar roupa para fora rdquo;, finaliza.

lt;galeria / gt;

Copyright © 2017 O Presente