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Elio Migliorança

Na contramão da crise

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Um apelo emocionado foi o que os prefeitos do Oeste do Paraná ouviram na última sexta-feira (17) do secretário-chefe da Casa Civil do Governo do Estado, Valdir Rossoni, para que interfiram e dialoguem com os diretores das escolas estaduais com o objetivo de demover os professores da adesão à greve a partir do dia 15 de março. Uma greve não é boa para ninguém e prejudica sempre aqueles que menos podem se defender, no caso os alunos. Mas a reflexão sobre o apelo do secretário e a decisão do magistério paranaense deve ir além do que as aparências mostram. Que o Brasil vive uma crise sem precedentes é fato e todos estão carecas de saber disso. Um argumento utilizado para louvar a gestão do Governo do Estado é apontar a situação caótica em que se encontram principalmente os Estados do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, dois rios indo águas abaixo. É o resultado da irresponsabilidade administrativa dos governadores destes e outros Estados também quebrados, uma cultura da maioria dos políticos que apostam na memória curta do eleitor e acreditam que a pior coisa que podem fazer é governar gastando apenas aquilo que arrecadam. Todos os governadores do passado que contribuíram para que a situação chegasse a esse ponto deveriam ser responsabilizados e também os órgãos de fiscalização que aprovaram as contas. Isso criaria uma nova cultura na gestão pública.

Voltemos ao tema inicial: o apelo do secretário e a greve dos professores. Tentar jogar a opinião pública contra o magistério não é uma boa ideia se considerarmos que na última greve houve um acordo transformado em lei e não cumprido pelo governador. O discurso do secretário de que o governo faz um esforço gigantesco para honrar compromissos foi emocionante, mas faltou dizer que em outros casos recentes este cuidado com o dinheiro público não foi nada edificante. Enquanto retira direitos dos professores para poupar recursos, o governo Beto Richa abriu mão de R$ 678,4 mil em favor de Orlando Pessuti, que governou o Estado durante nove meses e está aposentado como ex-governador recebendo R$ 30,5 mil mensais pelo resto da vida.

O governo questionava no Supremo Tribunal Federal (STF) o pagamento do montante referente a dois anos e meio em que a pensão vitalícia dele ficou suspensa. No final do ano passado, ao ser intimado para se manifestar nos autos, o governo não se pronunciou, o que levou à extinção do processo e ao pagamento daquele astronômico valor dos atrasados. A aposentadoria dos ex-governadores é um daqueles pepinos azedos embutidos nas constituições estaduais e que nós, contribuintes, estamos condenados a pagar. E quando o titular vem a falecer a viúva continua recebendo aquele valor até o fim da vida. Dos ex-governadores do Paraná apenas Alvaro Dias abriu mão do benefício; sete estão recebendo o benefício e mais três viúvas de ex-governadores.

Desde janeiro de 2011 dorme numa gaveta do STF uma ação direta de inconstitucionalidade em que a Ordem dos Advogados do Brasil questiona esta aposentadoria vitalícia. Sob relatoria da ministra Rosa Weber, o processo está parado e sem previsão de julgamento. Se isso já é difícil de engolir, agora colocaram uma “vaca” no alto dum poste: prefeitos e vereadores têm direito a 13º salário. É possível acreditar que vivemos num país sério? Pense nisso e reze para não acontecer, é a nossa última esperança.

 

miglioranza@opcaonet.com.br

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Na contramão da crise?

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Com expectativa de injeção líquida do 13º salário para reformas e ampliações nos últimos meses do ano, setor de construção civil pode sentir leve recuperação da crise enfrentada em 2016

Reformar o banheiro, a cozinha, ampliar a área de festas, trocar o piso ou renovar a pintura da casa são algumas mudanças no visual das residências que geralmente acontecem às vésperas do fim de ano.

Seja pelas necessidades não emergenciais que surgiram durante os 12 meses que se passaram ou pelo planejamento feito pelos moradores durante o ano todo, além de preparar a casa ou apartamento para receber o novo ano, a escolha dos últimos meses do calendário para iniciar reformas e ampliações também se deve à injeção do 13º salário no mercado, o que, neste ano, caminha a passos lentos, resultado da crise econômica que ainda assola o país.

Essa injeção de fim de ano começava normalmente em meados de setembro, mas neste ano estagnou, então não posso afirmar que o mês de novembro e mais os 15 dias de dezembro podem recuperar esse tempo e colocar este ano em um patamar normal, destaca o empresário Elizeu dos Reis (Tadeu), da Tadeu Materiais de Construção.

Na visão do empresário, boa parte da população regional tem poder aquisitivo para fazer este tipo de investimento nesta época do ano, contudo, ele avalia que pelos momentos vividos em 2016 no cenário nacional as pessoas estão bastante inseguras para assumirem compromissos financeiros. Estamos vendo cautela no setor neste ano, não só em Marechal Cândido Rondon, mas em todo o país. Na nossa região especificamente, pelo fato de termos o agronegócio ainda somo abençoados, mas 2016 está sendo bastante atípico em comparação aos anos anteriores, opina. Não podemos cair no pessimismo, acredito que este cenário tende a melhorar e teremos sim pessoas fazendo investimentos, reformas e ampliações neste fim de ano, completa.

Tadeu destaca que um dos fatores que implicou diretamente nas baixas deste ano foi a falta de flexibilização das linhas de crédito. Hoje o cenário mudou. Em anos anteriores a pessoa chegava na sua cooperativa ou no banco e o crédito estava disponível, com um juro atrativo, mas isso mudou e é um fator que acaba bloqueando o investimento, diz. Apesar disso, um fato que determina, na minha visão, a construção civil é o otimismo do mercado como um todo. Se a economia melhorar, se as linhas de crédito para o agronegócio tiverem taxas atrativas, haverá reflexos imediatos no setor. Eu sou otimista, acredito que 2017 será melhor que 2016, conclui.

O empresário Silvio Ceser Bauermann, que administra as lojas da Demapal em Marechal Rondon e Palotina, considera que 2016 foi um ano bastante diferente do que o setor estava acostumado. Vínhamos em uma sequência de anos bons, destaca.

Apesar de o segmento ter sentido uma queda nas vendas desde maio deste ano, tanto nos materiais básicos quanto para acabamento, ele aponta que foi no segundo semestre que a crise econômica que já assombrava boa parte do país chegou à região Oeste do Estado. Acredito que até mesmo na quantidade de projetos enviados para aprovação das prefeituras houve uma queda de demanda, avalia.

Considerando 2014 como um dos melhores anos para o setor e tendo o período como referência, Bauermann menciona que, em termos de faturamento, a queda não foi tão expressiva. O que mudou, na verdade, foi o perfil das compras realizadas, expõe. O consumidor formiga diminuiu muito, mas em contrapartida saíram prédios e construções maiores, então uma demanda acaba suprindo a outra, exemplifica. Podemos estimar uma queda de 10% ou 12% no faturamento, o que é natural, mas se não fossem essas obras de padrão maior a queda seria muito mais significativa como foi a procura da classe média/baixa por esse tipo de investimento, que passou de 30%, complementa o empresário.

 

Cenário animador

Com a perspectiva de que novas linhas de crédito voltem ao mercado e de que as classes C e D voltem a consumir no mercado de construção civil, Bauermann diz que desde a metade do mês de setembro foi possível perceber uma reação do mercado, ainda que pequena. Sentimos o consumidor um pouco mais animado do que vinha em junho, julho e agosto, então a previsão é de melhora, avalia. Não acredito que deve voltar ao que estávamos em 2014 em curto prazo, mas já vimos uma animação das pessoas voltarem a falar em construir, de quem constrói para vender falar em reiniciar obras, revela.

Para ele, os dois últimos meses de 2016 serão os melhores momentos para quem esperou para investir em reformas e ampliações, já que, segundo o gerente comercial, o decréscimo das vendas e a diminuição das obras durante o ano podem culminar em uma oferta de mão de obra qualificada e em promoções e melhores condições para aquisição de materiais de construção. Acredito muito nessas reformas de fim de ano porque, em outros anos, tínhamos uma dificuldade de não conseguir mão de obra para essa época. As pessoas tinham o 13º para investir, a injeção do dinheiro líquido, porque poucos têm comprometimento, e quando procuravam um profissional para o serviço não encontravam, ressalta.

Ele afirma também que, como nunca, as indústrias estão repassando uma alta oferta de produtos para o repasse ao consumidor em melhores condições e promoções. Será possível conseguir até uma mão de obra de mais qualidade com um valor menor, porque o mercado se assentou. É a oferta e demanda do mercado. No nosso setor as indústrias estão com produtos sobrando nos estoques, ou seja, o investimento vai compensar para quem teve que aguardar neste ano, argumenta. Na contramão da crise teremos demanda de mão de obra e oferta de material, por isso acredito que já neste mês haverá um acréscimo significativo em referência ao 13º salário, afirma o empresário.

 

Impacto na construção civil

De uma forma ou de outra, todos os setores sentiram a crise que entrou em uma fase mais aguda em 2015. Entretanto, conforme o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil Oeste do Paraná (Sinduscon-Oeste/PR), Edson Vasconcelos, a construção civil teve cenários diferentes no Brasil.

Em regiões onde as empresas de incorporação perderam a referência do estoque versus consumo vegetativo, hoje sofrem mais em alguns lugares. Além disso, houve a sobreposição de empresas com capital aberto em Bolsa, que fizeram com que suas ambições de lançamento fossem maiores que a média. O estoque alto e a falta de confiança dos compradores, somado com a alta na taxa de juros, foi uma mescla de inibidores de diminuição das vendas do mercado imobiliário, afirma.

Vasconcelos ressalta, também, que a falta de capacidade de investimento da união, Estados e municípios contribuíram para a estagnação da construção de obras públicas, com abrangência uniforme em todo o país. No Paraná, olhando mais a capital, a recessão é bem mais visível e o nível de estoque é próximo de dois anos de consumo vegetativo. Já em nossa região, temos um metabolismo bem menor que 2012 e 2013, porém nossos estoques são próximos de um ano. Tendo uma clara preocupação que o setor da construção civil possui, diminuindo seus lançamentos, entendemos que já em 2017 teremos falta de algumas opções de empreendimentos, sendo isso reflexo do equilíbrio do estoque, enfatiza. Não podemos esquecer, também, da taxa de juros e da reeducação da população quanto à poupança, em que temos que voltar ao consumo com uma estrutura mínima que diminua a crise cíclica, conclui.

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