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Onde estão os alunos?

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Paulo Roberto Weber Filho começa a pegar no batente todos os dias às oito da manhã. Trabalhar todos os dias neste horário não é novidade para 98 milhões de brasileiros que estão em idade economicamente ativa e exercem uma profissão.

A diferença deles para Paulo, no entanto, é que após a jornada de trabalho, das 19 horas às 22h55 o jovem de 16 anos se dedica a concluir o Ensino Médio, fazendo parte de um seleto grupo de estudantes das escolas públicas que mantêm a dedicação tanto em sala de aula quanto no trabalho.

Pelo desejo em adquirir uma nova experiência e contando com o incentivo da mãe, há dois anos ele começou a trabalhar em meio período. Hoje, a carga horária do trabalho passou para o dia todo, fazendo com que a mochila entrasse em cena somente à noite. “Mas é tranquilo”, garante. “Comecei a trabalhar para ter o meu próprio dinheiro, mas sempre prezei por manter o estudo. Em nenhum momento foi complicado lidar com as duas jornadas, não é uma rotina puxada”, diz.

A distinção de Paulo e de outros estudantes que antes de concluírem o Ensino Médio entram no mercado de trabalho, mas ainda assim mantêm a frequência e as notas em alta, acontece porque começar a trabalhar em idade escolar está listado como um dos motivos que levam ao abandono da sala de aula. A gravidez precoce, o envolvimento com drogas, a desestruturação familiar e um ensino com poucos atrativos para os alunos também estão no repertório citado por especialistas como os motivos por trás da desistência na reta final da caminhada escolar.

Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) revelam que entre os municípios da comarca rondonense, Marechal Cândido Rondon é o que tem o pior índice de evasão escolar nos últimos anos de estudo da rede pública: 6,1%. O número é o mesmo registrado por Pato Bragado, seguido por Nova Santa Rosa, com índice de abandono de 4,6%; Mercedes, com 4,1%; Entre Rios do Oeste, com 2,1%; e Quatro Pontes, que registra índice menor que um por cento: 0,9%.

As informações são oriundas das taxas de rendimento das escolas públicas de cada município, calculadas com base nas informações de rendimento e movimento dos alunos, coletadas na segunda etapa do Censo Escolar 2016.

De acordo com o chefe do Núcleo Regional de Educação (NRE) de Toledo, Léo Inácio Anschau, no âmbito do NRE, o índice de estudantes que deveriam estar no Ensino Médio, mas estão fora de sala de aula, passa de 40%. Em nível nacional, o número sobe para 50%. “Esses números por si só mostram que a eficiência do Ensino Médio não está alcançando os objetivos que nós gostaríamos que fossem alcançados”, lamenta. 

 

Reprovação

Nos municípios beira lago, outro motivo pode estar ligado ao abandono dos bancos escolares. Apesar da falta de estudos acerca do tema, a facilidade de encontrar o “ganha-pão” informalmente com o contrabando e o descaminho também pode afastar cada vez mais os alunos da escola, que antes de deixarem a sala de aula normalmente apresentam problemas no desempenho educacional.

Apesar de a taxa de abandono do Ensino Médio dos municípios da comarca rondonense não estarem no zero, há motivos para celebrar, já que no comparativo com 2015 nenhum dos municípios registrou aumento no índice.

A taxa de reprovação, no entanto, saltou em todas as cidades, sendo que Entre Rios do Oeste tem o índice que mais assusta: 23,4%. Em 2015, o número era 5,3%.

O chefe do NRE explica que existe um trabalho desenvolvido pedagogicamente no planejamento das escolas e no acompanhamento de todas as instituições abrangidas pelo núcleo. “Na semana passada foi tratado desse assunto em uma atividade pedagógica com os diretores das unidades educacionais da Comarca de Marechal Cândido Rondon e também Toledo. Estamos fechando o primeiro semestre de 2017 e o olhar diferente em relação à aprendizagem, ao acesso e à permanência do estudante na escola é fundamental, e esses temas de evasão escolar, reprovação e repetência serão abordados na semana pedagógica”, diz.

Anschau concorda que a dificuldade financeira das famílias, gravidez precoce, o envolvimento com drogas e a desestruturação familiar são alguns dos motivos por trás da evasão do Ensino Médio, porém, ressalta que o envolvimento dos estudantes com o descaminho é uma informação que foge do alcance do Núcleo de Educação. “Temos problemas específicos da busca desses estudantes para que eles permaneçam na escola com acompanhamento dos pais. O nosso trabalho e o da escola é totalmente voltado para o pedagógico, apesar de termos outros programas que desenvolvemos com a rede de proteção”, explica. “Quando perdemos o aluno os motivos são inúmeros, que fogem ao educandário e ao Núcleo, mas são motivos que sempre são abordados”, complementa. 

 

Busca ativa

No âmbito do Núcleo Regional, que abrange 16 municípios do Oeste paranaense, há uma rede de proteção constituída nas seis comarcas contempladas, onde todos os agentes estão envolvidos para a proteção e busca dos estudantes que se afastam das unidades escolares.

São envolvidas entidades como Ministério Público, Poder Judiciário, Conselho Tutelar, Secretaria de Saúde, Secretaria de Assistência Social, além do NRE e das próprias escolas. “Todo o trabalho é feito com cada um dos estudantes primeiro a partir da escola. Quando não há sucesso, busca-se auxilio nos Conselhos Tutelares, no NRE e se ainda assim não houver sucesso encaminha-se para o Ministério Público”, revela Anschau. “É um trabalho de busca ativa constante com resultados positivos”, avalia.

Segundo o chefe do NRE, as unidades educacionais da região ainda não atingiram a idade e série compatível com o desenvolvimento educacional dos alunos, ou seja, os estudantes não estão com a idade certa para a série que estão cursando. “Temos no Ensino Médio estudantes maiores de 18 anos e eles respondem por si mesmos, então é muito difícil termos um programa que dê para ele a condição do acesso e da permanência na escola porque não conseguimos interferir na permanência dele”, explica.

Anschau tem a percepção de que em algumas comunidades escolares a repetência e a evasão no Ensino Fundamental são pequenas e se agravam no Ensino Médio, por isso, é preciso entender se a escola tem condições de, passo a passo, acompanhar todos essas situações. “Nós do Núcleo estamos nos atentando para que isso venha se efetivar na prática, conversando com as escolas que têm esses índices maiores para melhorar os números do NRE”, comenta.

Nesta semana, o chefe do Núcleo revela que serão realizadas reuniões com diretores e equipes pedagógicas nos polos de Palotina, Guaíra e Terra Roxa para que efetivamente as escolas coloquem em pauta na discussão da semana pedagógica os temas ligados à reprovação e ao abandono escolar.

 

Motivos para comemorar

Mesmo afirmando que em algumas unidades escolares existem problemas localizados de reprovação e evasão, Anschau aponta que o Núcleo Regional como um todo evoluiu. No comparativo dos índices de 2012 e 2016 também levantados pelo Inep no âmbito do NRE, a taxa de aprovação do Ensino Médio nas escolas públicas subiu de 75,72% para 80,04%; a taxa de reprovação caiu de 15,97% para 13,54% e a taxa de abandono de 8,3% para 6,4%.  “Nosso objetivo é alcançar em 2021 as metas estabelecidas para cada uma das unidades escolares no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)”, aponta.

Outro ponto positivo está no número de alunos por turma, que entre os municípios do núcleo está condizente com o estabelecido pela legislação vigente e que, de acordo com Anschau, não é considerado um problema para o desenvolvimento educacional dos alunos.

A legislação permite que no 6º e 7º anos o número de alunos seja entre 25 e 30 por sala, no 8º e 9º anos entre 30 e 35 e no Ensino Médio até 40 alunos por sala. “Nas escolas particulares, o número em muitos casos é superior a isso e o resultado deles é melhor, apesar de sabermos que o desempenho não está atrelado única e exclusivamente a isso. O número que temos hoje é condizente com a realidade e trabalho pedagógico efetivo que deve ser praticado”, constata.

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