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Você realmente tem um sono reparador?

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Uma recente pesquisa divulgada nos Estados Unidos revela que mulheres com mais de 40 anos não dormem o suficiente. O estudo aponta que uma em cada três mulheres entre 40 e 59 anos dorme menos de sete horas por noite, enquanto outra parcela relata dificuldades em adormecer em quatro ou mais noites por semana. Cerca de um quarto das entrevistadas afirma ter dificuldade em continuar dormindo em quatro ou mais noites por semana. Já aproximadamente a metade disse não acordar se sentido completamente descansada.

Embora realizada na América do Norte, a pesquisa serve de alerta para habitantes de municípios de porte médio no Brasil, que vivem dias cada vez mais agitados. Tampouco se trata de uma exclusividade das mulheres, pois os homens também estão sofrendo com os distúrbios do sono, além de pessoas de diversas faixas etárias.

Acordar com repetitivos toques do despertador atormentando o ouvido faz pensar não ser possível se tratar do horário de se levantar. Em seguida você se mantém deitado por cerca de 20 minutos, que passam como um estalar de dedos, e se levanta não para um novo, mas para mais um dia com a constatação de ter dormido menos que o necessário. Esses podem ser indícios de que você teve uma noite de sono ruim. É preciso ir adiante: a qualidade do sono está diretamente ligada com a qualidade de vida das pessoas, uma vez que ao dormir o organismo desenvolve funções essenciais como o fortalecimento do sistema imunológico, secreção e liberação de hormônios e consolidação da memória.

 

Transtornos gerados

“As mulheres não são as únicas a serem acometidas por esses males. Estudos revelam que a população adulta de maneira linear sofre com os transtornos do sono, pois atualmente a qualidade do sono do adulto brasileiro é ruim, cujo índice mostra que 20% da população tem algum problema para dormir. Essa segunda pesquisa vale para Campinas (SP), uma cidade grande”, comenta o professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Toledo e médico neurologista em Marechal Cândido Rondon, Bruno Rigon. Contudo, pode ser estendido a municípios de médio porte.

Segundo ele, é necessário pensar em causas como estresse, sono ruim e doenças como insônia, ronco, apneias obstrutivas do sono e diversas outras patologias que alteram a qualidade do sono. “As insônias são divididas em comórbida, que é secundária a uma doença, por exemplo depressão ou ansiedade causando insônia, e primária. As insônias primária e secundária podem ser divididas em três grupos: insônia inicial, aquelas que impossibilitam de iniciar o sono; insônia de manutenção, em que a pessoa inicia o sono, desperta e tem dificuldade para dormir; e insônia terminal, aquela que você começa a dormir, mas a partir de um momento acorda e acaba por não dormir novamente. A pessoa tem redução de qualidade em qualquer uma das situações, fazendo com que a quantidade do sono seja insuficiente para ter um dia sem sono ou sem sonolência excessiva diurna”, explica.

Rigon ressalta que um sono ruim gera problemas a curto e longo prazo. A curto prazo, menciona, traz perda do desempenho intelectual, da capacidade laboral, ou seja, de trabalhar, perda de atenção gerando risco de acidente de trabalho e de trânsito porque o indivíduo está com sonolência excessiva diurna. “A longo prazo passa a ser mais complexo, pois a insônia ou o sono ruim pode alterar a pressão, aumentar a chance de derrame, demência e infarto. Esse último vale para quem tem sono ruim associado com a síndrome de apneia obstrutiva do sono, ou seja, quem ronca ou não ronca e tem pausa na respiração. É muito grave, não é apenas o caso de dormir mal e ter um dia seguinte ruim. Quem dorme mal ao longo dos anos está colocando a sua vida em risco”, alerta o neurologista.

 

Esgotamento e insônia

Bastante característica dos tempos modernos, a Síndrome de Burnout, que refere-se ao estado de esgotamento físico e mental – cuja causa está intimamente ligada à vida profissional -, pode interferir na qualidade do sono. “Nela o indivíduo sente fadiga, cansaço e falta de vontade. Já na hora de dormir ele não consegue iniciar ou manter um sono de qualidade. Com certeza uma vida sobrecarregada gera consequências no sono”, adverte Rigon.

Um dos principais sintomas de quem tem sono ruim é a sonolência excessiva diurna, quando no dia regular ou seguinte existe uma chance maior de dormir. Quem deseja avaliar seu grau de sonolência pode procurar na internet a calculadora da Escala de Epworth. Trata-se de um teste por meio do qual é avaliado o grau de sonolência utilizando situações monótonas comuns como indicadores para identificar sonolência excessiva ou mórbida.

“Se pontuar mais de dez significa que você tem sonolência excessiva diurna e deve procurar um especialista, pois nem sempre o indivíduo tem a percepção de que a qualidade do sono dele é ruim, só de que tem sono durante o dia, mas não sabe o porquê. A resposta é demorada, precisa investigar e o grande exame é a polissonografia, por meio do qual o paciente dorme em uma clínica com parâmetros de monitorização para identificar o que está alterado e pode justificar a insônia ou alteração da qualidade do sono e propor diversos tratamentos, com medicamento, psicoterapia e atividade física. O arsenal terapêutico é amplo e de maneira geral o resultado é bom, tanto que as pessoas têm melhorado de forma satisfatória”, destaca o médico.

 

Recurso

De acordo com o ele, o aparelho celular pode ser um complicador em termos de sono. “Muitas pessoas têm o hábito de dormir com o celular próximo da cama, então o WhatsApp não para em momento algum, o Facebook atualiza a noite inteira e o telefone pode tocar a qualquer momento. Essas são situações que podem piorar a qualidade do sono e no dia seguinte o cidadão ter consequências imediatas ou ao longo dos anos virar um problema grave”, enfatiza, emendando: “Grande parte dos meus pacientes trata insônias comórbidas associadas a outras patologias, aos transtornos de humor, depressão e ansiedade, além de doenças neurológicas como Parkinson, Alzheimer e outras. Há casos de insônia primária, porém menos comum. Sobre a prevalência, posso dizer que 20% a 30% dos pacientes têm algum transtorno de sono”.

 

Higiene do sono

O neurologista salienta que diversas condições são determinantes para o indivíduo dormir de forma reparadora. “Para isso é preciso ter um ambiente calmo, escuro, sem estímulos, de preferência que não seja após longas refeições e que seja adequado, ou seja, numa cama sem vínculo cognitivo com outra coisa, como assistir TV, estudar, trabalhar, se alimentar, jogar ou escrever no celular. A higiene do sono se constitui em criar um ambiente com maior chance de dormir bem”, expõe.

Conforme Rigon, é preciso saber quais fatores pioram ou reduzem a capacidade de iniciar ou manter um sono de qualidade, como alimentação, hábito de assistir TV e programas estimulantes durante a noite, incidência de luz, barulho, alteração no humor – se houve estresse – e a mudança na rotina, como passar a dormir sentado por algum motivo ou numa cama que não é a sua.

Já a quantidade de tempo está ligada à fase da vida, mesmo porque um recém-nascido dorme de 18 a 20 horas por dia. “Ao longo da vida a nossa demanda por quantidade de sono vai diminuindo até a terceira idade, quando alguns indivíduos dormem seis horas e isso é suficiente. Para adultos de meia idade é recomendando de seis a oito horas, mas existem aqueles que precisam dormir menos de seis horas”, diz.

O médico frisa que ter um sono reparador é a base do que se chama qualidade de vida. “Uma condição médica muito grave e rara é a insônia familiar fatal, quando indivíduos desenvolvem uma patologia na qual não dormem e depois de 30 a 60 dias eles morrem. Isso quantifica a importância do sono. Nós não sabemos todas as respostas sobre a importância e tudo o que acontece em nível cerebral durante o sono. Por exemplo, você está dormindo, entretanto o seu metabolismo cerebral não reduz. A quantidade de energia que o cérebro precisa para dormir é muito semelhante e em alguns momentos quem sabe até maior àquela exigida para estar acordado. O cérebro não está parado. Pelo contrário, ele está trabalhando de maneira diferente”, pontua.

 

Orientações

Entre as orientações para uma boa noite de sono, Rigon sugere manter a regularidade no horário de ir à cama. “É preciso manter o costume de dormir às 22, 23 horas ou zero hora. O segundo ponto é que a cama serve unicamente para dormir, levando-se em consideração o ponto sono. Outra questão é que a atividade física é extremamente necessária, mas ninguém deve dormir em seguida. Ela deve ser feita pelo menos três horas antes do momento que a pessoa está habituada a se deitar. Por isso é imprescindível qualidade e um sono reparador para ter um novo dia repleto e efetivo”, finaliza Rigon.

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