Fale com a gente

Marechal

Carne fraca não assusta rondonenses

Publicado

em

 

Mirely Weirich/OP

 

Na fila do açougue, a dúvida entre qual corte levar para casa trocou de lugar no critério do consumir. Agora, a preocupação é com a marca da carne. Desde que as informações da Operação Carne Fraca chegaram à mídia e bombardearam a população acerca de um esquema de funcionários do Ministério da Agricultura que teriam recebido propina para liberar carne para venda sem passar pela devida fiscalização, a possibilidade de que produtos adulterados e até vencidos podem ter chego ao prato da população deixou os consumidores em alerta. Continuo consumindo, mas estou analisando bem melhor o que estou comprando, conta o metalúrgico Lauri Hoffmann, que ficava com dúvida a sessão de embutidos de um supermercado de Marechal Cândido Rondon.

Entre comentários jocosos sobre a mistura de papelão em carnes e embutidos, há aqueles que cogitam abandonar os cortes em definitivo por não ter certeza do que está indo para a churrasqueira aos domingos. Estes, contudo, são a minoria. Não sentimos diferença em volume de venda e não acredito que vá mudar o estágio de consumo, afirma o gerente comercial do Supermercado Allmayer, Eduardo Berndt.

Na visão dele, o impacto deve acontecer justamente no produto em que seo Lauri estava em dúvida sobre levar ou não para casa: os embutidos. É um produto processado, então pode restar uma dúvida pelo fato de o consumidor não conseguir ver exatamente o que está ali. Talvez os menos conhecedores possam ser suscetíveis a essa informação e deixar de consumir, mas isso não vai abalar o mercado de maneira alguma, vislumbra Berndt.

Não notamos nenhuma diferença em vendas tanto em carnes quanto em embutidos, até porque se o cliente vem para o supermercado, é porque ele sabe da qualidade, porque ele confia no produto, destaca o gerente do supermercado Copagril, Gilmar Zanatta. Apesar da grande repercussão da Carne Fraca, ele avalia que os consumidores estão vendo que os fatos aconteceram em frigoríficos isolados, por isso não devem mudar seus hábitos de consumo no município.

 

PICANHA A R$ 25

Com países de peso nas exportações de carnes do Brasil anunciando suspensão temporária do produto em suas fronteiras – como China, União Europeia, Hong Kong e Arábia Saudita -, há quem já fale sobre a possibilidade de queda no preço dos cortes. Porém, a conta não é tão simples quanto colocar na ponta do lápis que sem o mercado internacional, que consome 20% dos 9,6 milhões de toneladas de carne bovina produzidas anualmente, o excedente invada o varejo e barateie o preço da carne. Vincular a queda de preço à especulação da operação não faz sentido algum porque isso tudo é muito recente. O embargo é temporário, o produto já está nos portos, está sendo enviado e simplesmente está sendo analisada a entrada nesses países. Ao meu ver, nos próximos dias essas situações serão resolvidas porque não há razão que não embargar provisoriamente, opina Berndt.

De acordo com ele, se houver neste momento alguma alteração de preço no valor da carne bovina será por conta das commodities, tendo em vista que a soja e o milho já estavam em queda. Descendo as commodities é natural que o preço caia porque facilita a criação. Não vai cair, mas se acontecer, vai ser por conta das commodities, garante. Até porque quando se fala que queda de preço da carne bovina, esta é a criação que leva mais tempo, por isso não é em três dias que você sente no mercado a sobra no produto. Um animal desses leva de oito a 20 meses para ser abatido, então se houvesse uma sobra de carne bovina no mercado, ela seria repercutida daqui alguns meses e não imediatamente, completa.

 

IMPACTO NA ATIVIDADE

Para Berndt, no cenário de crise vivido nos últimos anos pelo Brasil e somado ao fato de o agronegócio ter sustentado o país, sendo sua base de desenvolvimento, a Operação Carne Fraca foi exposta à população de forma especulativa e inconsequente. Uma coisa é descobrir, autuar e restringir o mercado a uma empresa que de fato não está trabalhando dentro das normas que deveria, mas generalizar e penalizar uma atividade inteira por uma minoria não está correto, critica.

Ele cita que, considerando que o Brasil possui mais de 4,8 mil unidades sujeitas à inspeção federal, e apenas 21 estão supostamente envolvidas em irregularidades, são menos de 0,5% frigoríficos que foram citados em dois anos de investigação. Vejo que o governo demorou a vestir a camisa do agronegócio, porque nunca tivemos uma carne com tanta qualidade como tivemos nos últimos anos, não só carne, mas todos os produtos, ressalta. Se nós temos fiscalização da Vigilância Sanitária dentro do nosso supermercado, da nossa padaria, imagine como é isso em nível de indústria. Nós temos um efetivo nessa questão sanitária a ponto de sermos um dos maiores exportadores para um mercado extremamente exigente, então se teve o problema, notifica, autua e penaliza, mas preserva o mercado, complementa.

O gerente comercial lembra do caso registrado pela Alemanha em 2013, quando foi identificada carne de cavalo em lasanha congelada sendo vendida como carne bovina. A Alemanha imediatamente notificou, penalizou e preservou o mercado, porque o país tratou de maneira isolada e o mercado foi preservado. É essa a falha que o Brasil está tendo hoje, não está preservando a atividade que é o carro-chefe do desenvolvimento econômico brasileiro, opina.

Por outro lado, ele também cita o sensacionalismo promovido pela população brasileira acerca do fato. Nós promovemos isso. Nós gostamos do escândalo, vamos atrás da fofoca, de fazer piada, porque temos uma cultura de patriotismo para ser criada ainda e confiar mais em nós mesmos. Essa situação infelizmente fomos nós que criamos, entende.

Mirely Weirich/OP

Copyright © 2017 O Presente