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Marechal Legado físico e espiritual

De Marechal Rondon para o mundo: pastor Mário Hort já viajou para 21 países e conheceu 69 cidades; sua missão de evangelizar continua

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Sede de conhecimento e dedicação à evangelização são virtudes que fazem do pastor rondonense Mário Hort um símbolo de inspiração na história (Foto: O Presente)

 

Uma vida dedicada à evangelização resume a longa caminhada do pastor rondonense Mário Hort. Por meio de uma linguagem simples, com relatos históricos, testemunhos e encontros de pessoas da vida real, ele difunde o evangelho através de pequenos livretos que podem ser lidos em poucos minutos, mas que, ao mesmo tempo, podem transformar vidas a partir de suas mensagens.

Sua história com o trabalho da evangelização em Marechal Cândido Rondon começou em 1973, quando retornou dos estudos na Alemanha ao lado da esposa Natália Port. Na época, uma pequena capela de madeira era o palco dos cultos da Igreja de Deus no Brasil. No entanto, Hort conseguiu projetar muito mais que uma simples estrutura. “Eu disse que seria o trampolim para evangelizar e alcançar o mundo. Na época parecia uma ideia um tanto absurda, porém foi assim que aconteceu e agora estou voltando de Moscou”, relata o pastor.

Além do trabalho local, a Igreja de Deus no Brasil de Marechal Cândido Rondon abrange em seu ministério as cidades de Nova Santa Rosa, Maripá e Guaíra, além do trabalho evangelístico das Organizações Ecos da Liberdade. Atualmente conta com o auxílio de cinco pastores, cada um com sua função específica para que o trabalho de toda Igreja seja atendido. “Desde o início atendíamos comunidades da região Oeste do Paraná, mas o foco estava aqui e no trabalho radiofônico, no qual me aprofundei bastante porque entendia que o microfone e a comunicação seriam as chaves para o progresso e a comunhão entre os homens”, enfatiza Hort.

Com a ideia de fazer a igreja crescer em prol da evangelização, o trabalho do pastor foi edificado, conforme suas próprias palavras, de tijolo em tijolo, e assim construiu sua caminhada. “Quando chegamos à igrejinha de madeira propomos construir ao redor dessa capela, porque se a derrubássemos não teríamos onde fazer os cultos. Levou quatro anos para a primeira construção ficar pronta e depois mais dez anos foram necessários para a segunda, que hoje é o nosso salão social. Passados outros dez anos veio o Auditório Ecos da Liberdade”, conta.

A estrutura, considerada arrojada para os padrões da época, é hoje um dos locais mais requisitados para a realização de grandes e importantes eventos no município. Com capacidade para 1.256 pessoas, o auditório já foi, entre outros, palco para congressos, palestras, formaturas e casamentos. “Não sou um homem de ter visões ou alucinações proféticas. No entanto, lembro que em 1994 estava em Curitiba para tratamento de saúde. Naquele dia não estava me sentindo bem e às seis horas da tarde Deus me inspirou a construir um edifício para o ano 2000. Eu vi o edifício pronto para a celebração do novo milênio”, revela o pastor.

A ideia foi vista como equivocada por muitas pessoas. “Diziam que não tinha espaço, mas teve. A visão foi Deus que me deu. Não posso negar, não veio da minha própria inteligência, mas veio de uma inspiração divina muito clara, absurda para a época, até mesmo contrariada por todos que ouviam a minha ideia”, aponta.

O objetivo, segundo Hort, era ter um auditório que servisse à sociedade para a realização de eventos da comunidade local, regional e até internacional. Seu sonho era poder dar condições de festividades e celebrações magníficas como as que já aconteceram e ainda acontecem. “Só para fazer os cultos aos domingos eu considerava que não seria um uso suficiente para um auditório desse tamanho. Eu queria que a sociedade fosse beneficiada com o uso no centro da cidade, que é algo magnífico e deve ser bem usado. Quando vejo hoje as formaturas das faculdades, outros programas, celebrações de palestras, com palestrantes de renome chegando a Marechal e usando o nosso auditório, vejo realizado meu sonho de construir um auditório-templo, próprio para congressos e eventos da cidade, sendo que à época tínhamos apenas o velho cinema da nossa cidade”, destaca.

O pastor menciona que a primeira igreja construída ao redor da antiga tinha espaço para 300 pessoas. O segundo edifício, mais tarde, para 600. A estrutura, no entanto, era, para ele, muito baixa e não servia como um templo. “Eu sonhava o sonho das noivas. Para mim é algo encantador quando vejo uma noiva entrando hoje no auditório. Eu construí esse auditório para receber a noiva no altar com uma grande beleza. Meu sonho foi casar em uma igreja grande, com um corredor comprido e levar minha noiva. Mas, na realidade casei na menor igreja que conheci no mundo. A noiva precisava andar na minha frente porque não tinha espaço para andar ao lado”, relembra, acrescentando: “Mas disse que os meus jovens tinham que casar em um lugar bonito, com uma festividade de casamento digno, por isso que também temos uma igreja e um auditório construídos dessa forma”, enaltece.

 

ORGANIZAÇÕES ECOS DA LIBERDADE

Departamento interno da Igreja de Deus no Brasil de Marechal Cândido Rondon, as Organizações Ecos da Liberdade (Orgel) servem de extensão para que as ações de rádio e literatura possam se tornar um trabalho interdenominacional e internacional.

Através da Orgel torna-se possível a distribuição da literatura produzida pela própria organização, os programas radiofônicos Ecos da Liberdade, produzidos na Central de Evangelismo do Estúdio Ecos da Liberdade, e também a produção dos discos do Conjunto Ecos da Liberdade e cantores da comunidade.

 

RÁDIO

Hoje a comunicação através do rádio e da internet se configura como alavanca para o trabalho evangelizador do pastor rondonense. Trazendo na bagagem um microfone avançado para os padrões da época, o primeiro programa para rádio foi gravado assim que chegou a Marechal Rondon. “Um gravador de rolo fez o início do estúdio Ecos da Liberdade e deu para mim uma abertura singular. Naquela época a Difusora era a única (rádio) da região e chegava até o Paraná e Argentina. Era o meio de comunicação mais importante. Isso me deu ânimo e com isso também fui eleito o orador do departamento de rádio internacional.

Os programas gravados semanalmente por Hort alcançam dez emissoras diferentes em todo o Brasil. Localmente, através da Rádio Difusora, o programa vai ao ar aos domingos, às 09 horas. “A questão da vida é fazer do pouco o máximo. Conseguimos com isso uma abertura na comunicação. O rádio foi e é muito importante para mim, por isso sempre valorizei os meios de comunicação”, salienta.

Com foco na evangelização, os programas têm duração de 20 minutos e são frutos de longas pesquisas e trabalhos, como é o caso da recente viagem do pastor para Moscou, na Rússia. “Faço programas com conteúdos que posso pesquisar e viajar para buscar. Fiz essa viagem recente para trazer discussões de importância global, não somente local e regional”, declara, comentando que os programas são repetidos em distintas cidades do Brasil de onde sequer têm as informações. “Como também estão nos sites podem ser tocados e ouvidos a qualquer hora. É como a literatura. Não é um jornal para amanhã. É uma informação para que daqui a dez anos, de preferência, ainda esteja atual”, frisa.

 

ESCRITA E LITERATURA

Após ser acometido por um infarto em 2007 e contrariar diagnósticos médicos que previam um transplante de coração, Hort resolveu alterar um pouco a rota de sua trajetória. “Quando eu achei que havia chegado o meu fim, Deus só me mandou para outro campo através da minha limitação. Tenho grandes limitações físicas, mas minha mente continua muito boa. Deus fechou uma porta para me redirecionar para outra missão: a escrita. Entendo que o maior legado que eu posso deixar são os 145 temas escritos que estão disponíveis para serem lidos e reimpressos. Entendo ainda que a literatura, por mais que seja um artigo no jornal, pode fazer uma transformação grande na vida das pessoas. Considero que a escrita é infinita, mas é preciso ter assuntos de relevância. Por isso vou longe. Ao nosso redor só tem aquilo que se repete”, relata.

Para ele, as pessoas representam a força da comunicação em seu trabalho e o porquê da existência dele. “As pessoas que tomam uma literatura da Ecos da Liberdade sabem que serão informadas de diferentes partes do mundo e diferentes fundos culturais, não apenas o que pastores, padres e comunidades locais usam de nossa literatura para pregar em suas igrejas de diferentes denominações”, cita.

A escrita é, hoje, um elo de comunicação de Hort com o mundo e para o mundo. “Sei de pessoas que fazem coleção dos livretos. Teve uma pessoa que me escreveu e disse que tem 57 números diferentes das minhas mensagens. Ele é um presidiário de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Mas também tenho informações de religiosos da Argentina que buscam a leitura para ter exemplos, informações culturais e religiosas do mundo inteiro para sua comunidade, então eu me entendo como alguém que pode auxiliar pessoas individuais, como também líderes e pastores que fazem uso dessas pesquisas para seus trabalhos em diferentes comunidades”, ressalta.

Na visão do pastor, independente do meio de comunicação no qual a informação é propagada, é preciso ter conteúdo e trabalhar assuntos fortes e consistentes. “Inclusive, alunos de faculdade já me pediram autorização para usar minhas informações em seus trabalhos. Considero que o mais importante de tudo é procurar questões que não estão à flor da pele, mas, sim, fruto de conquistas”, destaca.

 

VIAGENS

Em busca de informações e sede de conhecimento, Hort já viajou para 21 países e conheceu 69 cidades por todo o mundo com a missão de entrevistar pessoas e pesquisar sobre o cristianismo nesses locais e regiões. “Fui a Moscou escrever sobre a questão da existência de cristãos convictos e encontrei apenas cinco pessoas que puderam falar comigo no idioma inglês, mas trouxe informações sobre a Igreja Ortodoxa, a Igreja Luterana e das missões evangélicas que lá existem”, exemplifica. Além do português, ele também domina os idiomas alemão, inglês e espanhol.

A primeira viagem internacional em prol da missão aconteceu depois do episódio do infarto. “O médico me disse que eu poderia ter três horas, três dias ou três semanas de vida, mas como não faleci eu tentei fazer uma viagem para a Alemanha, e de lá fui para a Turquia, de onde parti para a Inglaterra escrever sobre a princesa Diana. Depois disso eu considero que fiz meu maior aprendizado, quando fui recebido pelo pastor Christian Führer, que deu início às chamadas ‘orações pela paz’ na Igreja de São Nicolau de Leipzig, no Leste da Alemanha – que mais tarde resultariam nos ‘protestos de segunda-feira’”, lembra, destacando ser este o fato mais marcante das suas viagens.

De todos os itens que compõem sua bagagem nos momentos das viagens um deles é essencial: o tema que será avaliado. “Primeiro eu preciso saber o porquê estou indo para esse lugar. O tema abordado precisa ser estudado em casa para depois eu ir e não o contrário. O principal é saber sobre o que quero perguntar e o que quero escrever”, pontua, emendando: “Eu estive recentemente na Igreja Ortodoxa de Moscou e isso me trouxe uma informação que eu jamais teria se não tivesse ido até lá. Lá me disseram que perderam 1,6 mil igrejas quando o comunismo tomou deles todas as propriedades e agora o governo de Vladimir Putin já ajudou a construir 500 igrejas após o término da União Soviética. Com isso comprovo que não trago somente a mensagem religiosa, mas também a cultura que envolve os cristãos de diferentes partes do mundo para que possamos entender pessoas em diferentes situações culturais”.

As viagens requerem dedicação e a experiência do pastor rondonense. Para escrever somente sobre um tema ele se dispõem a ficar sete dias em cada local. “Não procuro ficar nem mais, nem menos. Fico esse tempo no local para tomar conhecimento, mesmo já tendo lido antes. E isso porque eu entendo que nós estamos muito isolados na América do Sul. Entendo que a minha informação que chega a um presídio ou a um hospital, por exemplo, pode abrir fronteiras. Sabendo da abrangência e consideração que eu obtive, eu decidi continuar escrevendo”, revela.

Falar sobre assuntos de fora, em terras internacionais, rende certas críticas a Hort, que, por sua vez, entende que falando de assuntos ardentes de outros países acaba atingindo localmente. “Eu trago da Holanda, por exemplo, o que um pai fez com a sua filha há 80 anos e acerto o mais próximo de quem eu nunca pensaria. São assuntos que se refletem na nossa realidade, mas se eu falasse diretamente sobre aqui seria criticado”, pondera.

Depois de 35 anos pregando no púlpito, Hort está fora há 12 anos, mas com os passos sendo seguidos por seu filho e genros. “Eu entendo que todas as construções são passageiras. Se não são renovadas em pouco tempo elas caem. As pessoas morrem, mas a escrita fica. O que deixo é um legado espiritual, intelectual, de informações. A informação é o conhecimento que liberta. Esta é a palavra de Jesus Cristo”, evidencia.

 

Hort considera que seu maior legado consiste nos 145 temas escritos que estão disponíveis para serem lidos e reimpressos (Foto: O Presente)

 

NOVOS DESTINOS E ESCRITOS

Com 69 anos, Hort causa, na mesma medida, espanto e admiração com sua disposição para viagens em busca de novos conhecimentos. Há uma semana retornou do seu último destino e já pensa nos próximos, sendo um deles o Egito. “No ano passado estive com a minha esposa em Israel e foi uma das experiências mais importantes, pois pude trazer conhecimentos e informações das terras bíblicas, do berço do cristianismo. Considero ir para o Egito, no Rio Nilo, conhecer as terras importantes para as histórias bíblicas”, revela.

Outro local seria a vila Paradise, no Estado norte-americano da Califórnia. “Esses seriam meus sonhos caso continue. A própria vida é quem escreve a nossa trajetória e é preciso aceitar ir para onde se abrem as portas e onde se sabe que há assuntos de relevância. Não vou só para dizer que eu estive. Tenho objetivo do porquê vou, o que vou fazer no local e sobre o que vou escrever”, finaliza.

 

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