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Fátima Baroni Tonezer

A fossa do que poderia ter sido!

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Sim, eu sou da época em que quando estávamos tristes, dizíamos que estávamos “na fossa”. Hoje é “tô deprê”. Mas, de qualquer maneira, quais são os nossos dilemas, as nossas questões, os dramas?

Ser a pessoa compreensiva demais, muitas vezes, nos atropela. Em nome da empatia, de compreender o outro, a maneira como fazemos a gestão das coisas, somos atropeladas pelas próprias emoções.

AS NARRATIVAS… AS MINHAS, AS SUAS, AS NOSSAS…

Ser empática, saber se colocar no lugar do outro é muito bom, mas é preciso saber administrar quando os meus sentimentos estão criando narrativas que eu não devo acreditar, para evitar sofrer pela fantasia do que poderia ser, entrar na “fossa”, pelo que poderia ter sido ou por um futuro imaginário que acaba sendo um luto pelo final de algo que eu imaginei, minha expectativa.

Essa expectativa vem carregada de sentimentos que, se não percebidos e vistos, podem acabar atropelando você em nome de ser compreensiva com o outro. Entender esse meu comportamento é importante para evitar me colocar vulnerável para pessoas que vão usar essa atitude contra mim, em benefício próprio. Esse querer ser necessária pode colocar armadilhas no caminho, que levam ao sofrimento. Porque denuncia um abandono de si mesma, um se esquecer, um não dar ouvidos aos próprios desejos e necessidades. Colocar sempre o desejo e a necessidade do outro em primeiro lugar é uma armadilha.

EU NÃO SEI LIDAR COM O DESCONFORTO!

A empatia passa pela necessidade de sustentar o desconforto do outro e o seu próprio. Ver o outro desconfortável e suportar, no sentido de perceber que isso é dele, pertence a ele, e eu não vou conseguir resolver. Porque alguns de nós tem essa coisa de querer resolver as tretas do outro, impedir que o outro sofra.

É importante entender a matemática do custo emocional de querer resolver as coisas dos outros. O quanto isso muda a dinâmica da relação, o resultado matemático é sempre injusto, pois na relação um tem muito a oferecer e oferece, enquanto o outro só recebe. A conta é negativa, quem oferece muito vive num déficit, um saldo negativo. E nessa conta é preciso entender que quem está no déficit não sabe receber o que o outro tem a oferecer e se coloca no lugar de resolvedor das situações.

Isto leva ao fato de que está sempre trabalhando pelo outro. O outro se coloca na posição de que é bom estar ali, porque está sempre recebendo, não precisa dar retorno. E é claro que a equação não fecha. Fica negativo sempre. O outro permanece na relação porque é bom ou porque está sendo nutrido, sempre recebendo. Há pessoas, inclusive, que ficarão bravas quando você estabelecer limites. São as que se beneficiam e já se acostumaram a receber tudo quando você não colocava limites claros e seguros.

E neste momento, não estou falando de relações tóxicas ou narcisistas. Mas das relações que travamos quando nos colocamos no lugar da “boazinha”, da compreensiva, da que está sempre à disposição para ajudar todos que precisam.

Na próxima semana vamos continuar falando dos papéis atribuídos à mulher que está nos deixando exaustas, com a autoestima baixa, em relacionamentos conturbados, com os outros e conosco mesmas. Fica comigo.

Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

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