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Fátima Baroni Tonezer

Uma vida de exaustão!

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Está claro que vivemos numa sociedade do cansaço, como tão sabiamente escreveu o filosofo sul-coreano Byung-Chul Han em seu livro Sociedade do Cansaço (2015). Um ensaio onde o autor fala dessa época de velocidade e esgotamento, que ressalta o aspecto da hipervalorização de indivíduos inquietos e hiperativos, que se obrigam a ser multitarefas, como sinônimo de reconhecimento e sucesso.

E nessa sociedade do cansaço há especialmente uma parcela significativa da população mundial que está exausta por lutar uma guerra inglória. Estou falando das mulheres. Aproveitando o momento em que acabamos de “comemorar” o Dia das Mães, com a desculpa de reconhecer a importância desta na vida familiar e social, mas que sabemos que no final é tudo marketing e vendas. Tanto que nem o corretor de texto deixou eu escrever “dia das mães” em letras minúsculas.

Mas voltando ao tema que escolhi abordar hoje. Vivemos em um mundo que prega a super produtividade e alta performance, e muito se fala sobre Ortorexia Psicológica (busca da perfeição em tradução livre), da FOMO (medo de perder algo, em tradução literal), entre outros, mas acaba sendo mais informação, mais fumaça. A realidade é que sobre a mulher recai uma carga extra e injusta de cobranças e autocobranças.

SER A MELHOR VERSÃO 4.0!

Da mulher se espera muitas tarefas, em várias áreas da vida – casa, trabalho, vida social e pessoal. Desde tempos imemoriais, o papel atribuído a mulher foi mudando e acrescentando tarefas. Não é muito claro na história quando a mulher foi “deixada” em casa para cuidar dos filhos e tarefas domésticas, depois plantar e colher, e por aí foi até chegar a multitarefa de hoje. Ou seja, sobre os ombros femininos recaiam o funcionamento da casa, educar os filhos, atender as necessidades do marido, já que na sociedade ideal a mulher não trabalhava.

A sociedade foi evoluindo e ficando mais complexa e “naturalmente” a mulher saiu de casa para entrar no mercado de trabalho. A mulher foi estudar e trabalhar, mas nem por isso os serviços de casa deixaram de ser responsabilidade dela.

ESTAMOS EXAUSTAS!

E o cenário de 2024 mostra mulheres esgotadas. Não por acaso o Burnout é mais recorrente em mulheres. E por que isso acontece? Percebo em minha experiência clínica e organizacional, pelos estudos, trabalho com grupos e pela minha própria vida que a carga feminina só foi aumentando. Já conversamos na série de artigos de abril sobre a culpa. Como recai sobre nós, mulheres, a culpa e a responsabilidade do sucesso ou insucesso da vida de todos. Como profissional preciso ser a melhor. E para isso, haja estudo e preparo. Mas as condições de trabalho são desiguais. Aquilo que está bom no rendimento masculino, no feminino é visto e avaliado como insuficiente. Além das diferenças salariais e de condições de trabalho e das oportunidades de trabalho e carreira.

E junto com essa carga, totalmente disfuncional e injusta, na maioria das casas, os afazeres domésticos são da mulher – lavar, passar, cozinhar, cuidar. E mesmo quando ela tem condições de pagar alguém para executar, a obrigação de contratar, ensinar, corrigir é dela. O companheiro pode até fazer as compras no mercado, mas a lista do que precisa ser comprado foi feita pela mulher, na maioria da vezes.

Quando o filho é elogiado, o pai é lembrado. Se faz alguma coisa errada, a culpa é da mãe geralmente. Tanto que, se por um arranjo familiar, é o pai quem acompanha o dia a dia dos filhos na escola, a mãe é referida como ausente e péssima mãe. Mas raramente se questiona a ausência do pai do ambiente escolar.  Ainda recai sobre a mulher a necessidade de estar sempre bem-informada, sabendo do que está rolando no feed, na novela, no BBB etc. Afinal, precisa  saber para participar da conversa. Na maioria das casas, a responsabilidade pelos cuidados de pais idosos ou adoentados também acaba ficando com as filhas.

E lembrando, tudo isso de salto alto, maquiada, com extensão de cílios, design de sobrancelhas, malhada, com a dieta em dia, magra e, principalmente, sem surtar. Porque se reclamar é louca, gosta de se vitimizar, é descontrolada. Mas como sair da exaustão?

Tenho deixado em meus artigos muitas dicas e informações de como lidar com a culpa e esse esgotamento, como ser mulher no século XXI. Cuidando da saúde mental, cultivando a autoestima e o amor-próprio. No próximo artigo vamos conversar sobre estratégias para sair desse esgotamento e exaustão e cultivar nosso amor-próprio. 

Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

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