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Fátima Baroni Tonezer

Rolar na lama não é a melhor maneira de ficar limpo!

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Essa frase de Aldous Huxley no prefácio da reedição do seu livro “Admirável mundo novo”, que foi escrita em 1946, e fala do reconhecimento de que se cometemos um erro, “procedemos mal”, é importante o arrependimento e a reparação, conforme for possível reparar. E agir de forma melhor da próxima vez, isto é, aprender com o erro e não o repetir mais. Aí entra o final da frase dele, que é o título deste artigo.

Jogar-se na lama – da recriminação e da culpa – não vai ajudar a limpar a sujeira, nem terminar com ela, ou seja, ficar limpo. Vai sim sujar mais e mais, indefinidamente. Ficar preso a uma concepção, uma crença, porque foi assim que aprendi, vai nos tornando surdas ao que o mundo ao nosso redor, assim como nosso mundo interno está gritando desesperadamente.

AFUNDAR-SE NA CULPA NÃO É O CAMINHO

Manter-se presa na culpa não leva ninguém à redenção, à clareza e aos sonhos que um dia sonhou. Porque cultivar a culpa não nos torna dignos e livres. Lidar com a culpa que nos corrói é a diferença entre ajudar e apoiar. Mas isso é assunto para outra hora. Neste momento é importante perceber que, além das concepções e crenças que adquirimos enquanto crescíamos, hoje nos deparamos com uma infinidade de “autoridades” na internet, nos ensinando como ter sucesso profissional e pessoal: ser uma boa mãe, ser uma profissional fantástica, ser a MELHOR. E quando não conseguimos, por exemplo, “estourar” nas redes sociais, conseguir milhares de seguidores, trabalhar pouco e ganhar muito, transitamos entre a raiva de ter sido enganada e a culpa de não ter conseguido.

E começa a caça às bruxas, encontrar os culpados. E nome para culpar, não falta. A culpa rouba energia porque nos distancia das expectativas, nos levando a falhar conosco e com os outros, pois não atingimos o padrão que foi estabelecido. Quantas vezes nos culpamos por não estudar para a prova do concurso, mas não olhamos para a nossa realidade no momento, o excesso de trabalho, outras atividades e pessoas exigindo serem resolvidas e vistas. Ou muito difícil de ser aceito: me inscrevi porque era isso que esperam de mim, mas não é isso que eu quero. No caso, passar no concurso e ter estabilidade no trabalho, é vontade de quem? Atende as expectativas de quem?

É muito comum pessoas – adolescentes ou adultos – que carregam a culpa pelo divórcio dos pais e guardam essa culpa para si. O mix de culpa que carregamos é bem grande. Desde doutrinas e práticas religiosas, escolhas profissionais, práticas culturais, por exemplo, nascer numa família que não vive sem carne e preferir vegetais e legumes. Os exemplos são infinitos, mas o ponto é o mesmo: desafiar padrões, quebrar convenções, rever valores, fazer escolhas diferentes, atrai a pressão social, a opinião alheia cheia de críticas e julgamentos.

FAZER DIFERENTE TRAZ CULPA!

Pensar diferente. Agir diferente. Sentir diferente. Pode nos colocar no campo da culpa que paralisa. A culpa que retira a permissão de ser quem você é e acreditar e fazer por você. Nesse lugar de culpa vem a punição, “o rolar na lama”. E a culpa pode nos levar a uma visão negativa de nós mesmas que desemboca na ansiedade, estresse, depressão… pois afeta a nossa saúde mental. Esses sentimentos aparecem e florescem quando a pessoa se sente incapaz de reparar o erro. Há erros que pedem e podem ser reparados. Mas há outras situações em que não há erro, apesar da culpa. Isto porque está falando da expectativa do outro.

Há pouco tempo vi um vídeo, mostrado num curso, onde dois colegas da escola primária se reencontram depois de 20 anos. Um deles, de terno, todo alinhado, conta suas conquistas – terminou o colegial, passou em primeiro lugar no vestibular superconcorrido, trabalhou em grandes empresas multinacionais e o tempo todo chamava o colega de “burrão”. Lembrando como ele era atrasado, como tinha dificuldades na escola etc. Comentou que estava ali para uma entrevista de emprego, já que havia sido demitido da multinacional onde trabalhava. Então perguntou para o colega “burrão” como estava a vida, ao que ele respondeu, parei de estudar na quinta série e hoje sou dono de várias empresas. Sem julgamento, quem atendeu as expectativas de quem? Onde a culpa agiu, em qual resultado?

Essa pequena história, desse corte de um vídeo, pode ajudar com muitas reflexões. Vamos continuar na próxima semana? Vou te mostrar sete passos para superar a culpa.

Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

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