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Fátima Baroni Tonezer

Achei que era amor, mas era só dependência emocional!

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Você já prestou atenção nas letras das músicas atuais ou antigas? Geralmente falam de amor e desilusão amorosa. Marilia Mendonça foi eleita a “rainha da sofrência” pelas suas letras. Essa ideia de amor romântico nos é servido quase que ao mesmo tempo que o leite na infância. Quantas de nós crescemos embaladas pelos contos de fada, que dá notícias do príncipe encantado que virá nos salvar do sofrimento e nós seremos “felizes para sempre”.

Mas só seremos “felizes para sempre” se ele estiver ao nosso lado, pois ele é a “cara metade” que falta para me completar. Logo, sem o príncipe sou incompleta e vazia. E para esperar pelo príncipe, abdicamos da nossa vida e colocamos a responsabilidade pela nossa felicidade na mão do outro.

E nessa transferência de responsabilidade deixamos de perceber quando o príncipe vai se transformando em sapo ou tornando-se um ser de carne e osso, qualidades e defeitos, necessidades e desejos. E se o outro não cumpre a tarefa que lhe delegamos ou, pior, vai embora, o mundo desaba, porque o meu poder pessoal está nas mãos dele.

ONDE NASCE A DEPENDÊNCIA EMOCIONAL?

Ela pode aparecer a qualquer momento em nossa vida. Mas uma das possibilidades está ligada à nossa infância e ao nosso relacionamento com nossos pais ou cuidadores, com o desenvolvimento do apego na infância, além de fatores culturais e genéticos. A dependência emocional caracteriza-se como um padrão crônico de demandas afetivas insatisfeitas, que buscam ser atendidas através de relacionamentos interpessoais caracterizados pelo apego excessivo. Geralmente aparece junto com outras patologias como depressão, ansiedade e transtornos alimentares.

COMO IDENTIFICAR AS CARACTERÍSTICAS DE DEPENDÊNCIA EMOCIONAL?

O dependente emocional tem urgência em ser amado, reconhecido e valorizado. Costuma ter baixa autoestima e pouco apreço por si, isto é, seu autoconceito, a maneira como se percebe é negativa. Está sempre atrás dos outros para preencher o vazio emocional dentro de si. Coloca nas mãos do outro a responsabilidade de completá-lo, e quando isso não acontece, faz uso da persuasão para convencê-lo a ficar ao seu lado.

O dependente emocional é excessivamente inseguro, acreditando que ficará sozinho para sempre se o outro não estiver ao seu lado. Isso o leva a dedicar-se cegamente aos outros, a manter-se a disposição do outro. E ao se colocar nesse lugar pode sofrer abusos emocionais e psicológicos. Geralmente a falta de afeto ou valorização vem da infância, isto é, a pessoa pode ter sido abandonada física ou emocionalmente ou ter vivido experiências negativas na adolescência, e isso se transformou em traumas e crenças limitantes.

Para compensar essa falta de amor, esse medo do abandono e da rejeição, quem sofreu traumas emocionais na infância ou adolescência tem uma autoestima baixa e aceita ser “amada” por qualquer um que demonstre um pouco de interesse. E se contenta com qualquer farpa de afeto. Se apega a essa pessoa – cônjuge ou namorado – transformando-o em sua única fonte de afeto e apoio, a sua “tábua de salvação” da solidão e do abandono.

QUEM PODE PREENCHER O VAZIO PRESENTE EM MEU PEITO?

Quem procura satisfazer as suas pendências afetivas no outro raramente obtém sucesso. Essa busca pela segurança e amor se torna perpétua, uma vez que ninguém é capaz de preencher o vazio de ninguém. Mesmo assim, a busca continua. Descobrir de onde vem esse apego emocional, a dependência é essencial para conseguir livrar-se dela.

Isto significa confrontar nossas memórias, mergulhar no “porão” e remexer nas lembranças. E é impossível fazer isso de forma rápida e sem dor. É um processo longo e penoso, de autoconhecimento baseado na introspecção, como foi sentido e vivido aqueles eventos. E a partir daí, construir o amor-próprio. Vai requerer força e paciência para superar os limites emocionais, desconstruir crenças limitantes.

Viver plenamente por si próprio pode ser bastante assustador. Ao trilhar esse caminho, o do amor-próprio, no lugar de apoio externo, a mão do outro, você será seu próprio porto seguro. É um longo caminho que vai precisar de acompanhamento psicológico. Aliás, o acompanhamento psicológico é um pré-requisito para elevar a autoestima de uma pessoa dependente emocional, que terá como contribuição ajudá-lo a desapegar de traumas e memórias de sofrimento e alcançar a saúde mental, através da ressignificação e construção do amor-próprio e crenças fortalecedoras.

A autoestima é a base do amor-próprio e da liberdade emocional. Vamos conhecer seus pilares?

Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

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