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Fátima Baroni Tonezer

Autoconhecimento: a incrível viagem ao interior de si

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Você já deve ter ouvido a frase “Conheça a ti mesmo”. Esse aforismo é uma das máximas délficas e foi inscrita no pátio do Templo de Apolo em Delfos, de acordo com o escritor Pausânias. A sua autoria é questionada até os dias atuais, mas o filósofo Sócrates já estimulava seus conterrâneos na Grécia Antiga de 400 a.C. a buscarem o autoconhecimento como forma de compreender melhor a vida e, consequentemente, melhor viver.

Talvez você esteja se perguntando qual a importância disso, e pensando que você já tem tantas coisas para se preocupar que não tem tempo de ficar refletindo sobre o autoconhecimento, seja lá o que isso seja.

Dias desses, conversando com uma paciente sobre uma situação que se repete na vida dela, chegamos a um impasse, que para ela é cheio de crenças e conceitos disfuncionais: como posso me valorizar? Como me amar se isso é egoísmo? Não seria arrogância da minha parte investir no amor-próprio?

VALORIZAR-SE OU SER VALORIZADA?

Nessa conversa, assim como em tantas outras com pacientes ou não, escuto muito que “estou cansada de tentar me relacionar e me decepcionar. Porque parece que ninguém mais quer nada sério”! Aqui é a hora em que entra o jargão da “internês” dizendo “também estamos vivendo em tempos líquidos onde os relacionamentos são líquidos”.

É interessante perceber que sendo esta reclamação tão frequente, ela contém uma pegadinha, pois muitos reclamam da “liquidez” dos relacionamentos, mas todos querem um relacionamento sério, onde está o furo?

Podemos concordar que enquanto algumas pessoas realmente não querem nada sério, só diversão, outras pessoas, muitas na verdade, estão em busca de um relacionamento afetivo real e duradouro. E o nó da questão está aí! Como assim, Fátima?

Pensa comigo, se você quer um relacionamento legal, com troca de afeto, o que precisa acontecer? Ser uma partilha, concorda? Ou um dar e receber. Ou seja, ao mesmo tempo que recebo, eu entrego. Me colocar no lugar de vazio, carente, aquele(a) que será preenchido pelo amor e cuidado do outro é a receita certeira da frustração.

O NOME DISSO? DEPENDÊNCIA EMOCIONAL!

Nesses mais de 30 anos escutando pessoas, não foram poucas as vezes que me deparei com seres que não sabem do que gostam, que não se conhecem a ponto de não saber coisas simples como o sabor de sorvete preferido. Tem uma comédia romântica estadunidense de 1999, Noiva em Fuga, onde a personagem principal, vivida pela Julia Roberts, já fugiu de três noivos literalmente na hora do casamento, daí o nome do filme, e está prestes a repetir pela quarta vez. Numa cena emblemática, Maggie (Julia Roberts) está em frente de vários tipos de ovos – frito, cozido, mexido, omelete … – com o objetivo de descobrir qual é o seu preferido, já que ela sempre “gosta” do tipo que o namorado do momento gosta.

Se não assistiu, é uma boa indicação de filme. Mas voltando ao ponto dessa reflexão: quantas vezes estamos buscando um relacionamento e nos frustramos com o que conseguimos (ou não) sem perceber que o relacionamento é uma via de mão dupla. Buscamos alguém para preencher nosso vazio, a nossa “cara metade” e esquecemos que o outro pode estar fazendo a mesma coisa. Para resolver isso precisamos olhar como anda nossa autovalorização. A compreensão de qual é a minha postura frente ao outro. Reconhecer quais são os meus recursos, interesses, necessidades. O que de fato estamos buscando.

Porque enquanto nosso estímulo for o reconhecimento no olhar do outro, a validação externa, que o amor é responsabilidade do outro, me colocando na posição de mero receptáculo, um buraco sem fundo, que não consegue perceber os próprios sentimentos e atendê-los, vamos viver na frustração. Acreditando que tem “o dedo podre” para escolher alguém. E mesmo acompanhada, a sensação de estar sozinha.

Um comentário que sempre acompanha essa conversa é que “como tenho baixa autoestima não vou conseguir me relacionar”. Na verdade, tem muita gente se relacionando e a autoestima é baixa e o relacionamento é disfuncional. Aliás, é ali que os diversos tipos de abusos acontecem. Não é só uma questão de relacionamento, mas da qualidade dele.

 A autoestima é o quanto tenho de estima por mim. Fazendo uma comparação meio maluca, buscar relacionamento tendo uma baixa autoestima é como ir fazer compras no mercado com fome. A fome vai me levar a comprar no impulso, coisas fora da lista e de consumo rápido, que prejudica o bolso e a saúde. A carência e baixa autoestima agem da mesma maneira, ou seja, dão espaço para pessoas que não estão em sintonia com as necessidades; é o “fast food”, rápido e descartável.

Quando falamos de autoestima, precisamos olhar para os quatro pilares que lhe dão sustentação: autoconfiança, autoimagem, auto reforço e autoeficácia. Em outro momento vamos voltar a esse tema. Mas sem esses quatro pilares, a base que é o amor-próprio não existe. E a carência bate forte, nos colocando nesse lugar de dependentes, onde precisamos do outro para manter nosso equilíbrio emocional e nos reconhecer, validando nossa vida e escolhas.

É importante olhar para a dependência, porque, muitas vezes, esse é o ponto de resistência que está impedindo de avançar e alcançar resultados, não só afetivos como profissionais e em outras áreas da vida. Vamos entender o que é dependência emocional, de onde vem e como trava nossa vida?

Até a próxima.

Fátima Sueli Baroni Tonezer é psicóloga, formada em Psicologia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua maior paixão é estudar a psique humana. Atende na DDL – Clínica e Treinamentos – (45) 9 9917-1755

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