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Marechal Inspiração

Renan Schroder: uma história real do bem vencendo o mal

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Renan com o irmão Rafael, a mãe Marlene, o pai Wilson e a irmã Daniele, com as sobrinhas Lívia, no colo, e Ana Sofia: família unida é alicerce na vida de Renan (Foto: Giuliano De Luca/OP)

A vida não tem sido nada fácil para o Renan nos últimos dois anos. As dores profundas e agudas na cabeça, a paralisia que lhe mantém em um leito hospitalar dentro de casa, a traqueostomia que dificulta sua comunicação são algumas das marcas deixadas pelo tiro covarde que ele levou em 22 de janeiro de 2018.

O trio armado que invadiu sua casa não levou um objeto sequer, mas roubou os sonhos de um jovem amado e querido pela família, pelos incontáveis amigos, pela comunidade. Renan não pedala mais com sua bike, amiga inseparável que de hobby passou a promissor empreendimento. Renan não vai a churrascos com os amigos, não trabalha mais na sua bicicletaria, não pode mais fazer sozinho coisas básicas, como se coçar ou falar em voz alta.

As sessões de fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia fazem parte da rotina, assim como os irritantes, mas necessários remédios para evitar espasmos, ansiedade, depressão, além de vitaminas e fortificantes.

Mas os bandidos que deixaram para trás um rastro de sangue e medo não conseguiram roubar três preciosidades que Renan guarda bem trancadas em seu peito: amor, fé e vontade de viver. Amor para perdoar, fé para suportar as dificuldades e vontade de viver para derrotar o mal e, como ele mesmo diz, “ser feliz”.

É esse tripé que sustenta a longa recuperação de um menino vítima da mais absurda violência, na fatídica noite daquele janeiro, quando Renan chegava na casa da família, depois de um dia qualquer em Marechal Cândido Rondon. Com a ajuda da família e dos amigos, ele dribla as dores e a paralisia, sorri, toca a vida. Quando muitos se debruçariam em ódio, rancor e tristeza, Renan é puro agradecimento pela segunda chance que teve para viver.

“Esses dois anos, às vezes acho que passaram muito rápido, às vezes acho que passaram devagar. Tive dias muito sofridos, com dores, mas também dias felizes. No começo tinha muitas dores na cabeça; não sinto nada da cabeça pra baixo. Hoje as dores estão mais controladas. Deixei de fazer muita coisa que eu amava: pedalar, pescar, trabalhar e brincar com as minhas sobrinhas. E isso estressa. Mas estou feliz. E espero ser feliz. Se eu tiver que ficar a vida toda no leito, tenho que aceitar. Tenho a minha família e os meus amigos do meu lado”, conta Renan Francisco Schroder para a reportagem do Jornal O Presente.

O jovem, hoje com 27 anos, tem na rotina diária as boas lembranças do passado. “Não fico pensando no que aconteceu. Vivi 25 anos perfeitamente, uma vida cheia de bons momentos, coisas boas que fiz, momentos felizes. É nessas lembranças que penso”, expõe.

Ele lembra do dia em que tudo aconteceu, mas não se recorda do momento em que foi atingido pelo disparo da arma de fogo. No entanto, tem muito bem definido em sua cabeça: o perdão a seus algozes. “Deus sabe o que faz. Eles vão pagar pelo que fizeram, mas não somos nós que vamos julgar, é Deus. Se hoje eu encontrasse ele (o atirador), o perdoaria”, diz. É, na vida real, o bem vencendo o mal!

A paz no coração e na alma, certamente, abre em Renan espaço para sentimentos poderosos de amor pela vida e pelas pessoas. “Tem muita gente lá fora que tem todos os movimentos, tem saúde, mas está triste. Eu não posso me mexer, preciso de alguém 24 horas perto de mim, e busco sempre ser feliz. Eles não me tiraram a força e a vontade de viver”, conta o rondonense.

 

ROTINA

Renan conta que acorda por volta das 09 horas e assiste TV até perto do meio-dia, quando o cheirinho daquela comida caseira da mãe e guerreira dona Marlene invade os cômodos da casa. Comer é outra conquista que Renan alcançou na sua recuperação. “O primeiro ano era tudo por sonda, agora o Renan tem uma alimentação quase perfeita”, conta o pai coruja, Wilson. “Hoje eu como de tudo, arroz, feijão, churrasco. É uma grande bênção eu conseguir me alimentar”, diz.

O irmão e parceiro Rafael, com quem Renan montou a bicicletaria, conta que a rotina da família mudou radicalmente depois do que Renan chama de acidente e a polícia chama de tentativa de homicídio. “Mudou completamente nossa rotina. Tivemos muitos dias difíceis, muitos dias complicados, mas tudo isso é recompensado quando vemos esse sorriso no rosto, essa vontade de viver que o Renan tem”, diz Rafael ao observar um sorriso do irmão, em um momento emocionante da entrevista. “Nossa família já era unida, agora é muito mais”, menciona.

Renan respira com a ajuda de aparelhos, por uma traqueostomia. Assim, precisa de alguém por perto o tempo todo para tarefas simples, como coçar a cabeça, já que não consegue falar em voz alta ou movimentar os braços. “Fico com ele o tempo todo. Minha vida é ele. Quando ele está bem, está feliz, eu estou feliz. Quando está mal, também fico triste”, confidencia dona Marlene. “Com a ajuda de Deus, a gente consegue superar todas as dificuldades”, garante.

O dia a dia reserva ainda uma boa soneca e a companhia das pessoas amadas. “À tarde tomo banho e durmo até pelas 16 horas. Depois, se estou bem, com a respiração boa, vou para a cadeira de rodas. À noite recebo visitas todos os dias, da minha família, do meu irmão, da minha irmã (Daniele). Quase todos os dias também recebo visita dos amigos. As pessoas veem aqui em casa sempre com muito amor e carinho para dar. Fico muito feliz com isso, por saber que estão torcendo por mim, que gostam de mim, que estão orando por mim”, conta Renan.

 

A VIDA E A MORTE, O BEM E O MAL

Rafael lembra que um dos momentos mais angustiantes e difíceis para toda a família aconteceu no mês de novembro do ano passado, quando Renan teve complicações de saúde. “Esse foi o momento mais crítico. O Renan estava entre a vida e a morte”, recorda Rafael. Renan explica: “Tive duas infecções urinárias bem graves. Foi difícil, mas com a ajuda de Deus fiquei bem”.

Quase encerrando a entrevista, Renan vira a cabeça em direção das sobrinhas Ana Sofia e Lívia: mais um sorriso para a conta. Questionado sobre o que quer para elas, o jovem é categórico: “Quero que mantenham a pureza, que sejam pessoas honestas, que façam o bem para as pessoas”. É o bem, na vida real, vencendo o mal!

 

A JUSTIÇA

Os criminosos que invadiram a casa da família Schroder nunca foram identificados. Dois anos depois, o paradeiro deles ainda é desconhecido. Para Renan, a fé o conforta: “Deus vai fazer justiça”.

 

O Presente

 

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