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“Com a graça de Deus, vou me recuperar”, enaltece padre Sérgio

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Quarenta e cinco dias depois do primeiro sintoma, uma febre simples, com 17 dias sedado, missão do padre é se restabelecer da Covid-19. Segundo ele, oração e fé foram fundamentais para a graça alcançada (Fotos: Divulgação)

A comunidade da Diocese de Toledo esteve de olhos abertos, atenta e acompanhando o quadro de saúde do padre Sérgio Augusto Rodrigues desde fevereiro, quando o pároco apresentou os primeiros sintomas e testou positivo para o coronavírus.

A infecção aconteceu justamente em um momento de mudanças, quando o religioso seria transferido da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Tupãssi, para a Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Marechal Cândido Rondon. “Aconteceu no meio do caminho. Eu estava no processo de deixar a paróquia em Tupãssi, mas não tinha me despedido. Também não tinha chegado a Marechal Rondon”, lembra ele em entrevista ao Jornal O Presente.

Quarenta e cinco dias depois do primeiro sintoma, internação e dias sedado, na sexta-feira (02) padre Sérgio estava em Tupãssi, na casa de amigos, se recuperando após ter superado a doença. “De acordo com os médicos, nem 20% das pessoas que passam pelo que eu passei conseguem se recuperar. Então, a primeira coisa a exaltar agora é a nossa fé e das pessoas que pediram por essa graça”, enaltece.

À reportagem, o religioso compartilhou um pouco da sua experiência nesses dias de dor e, sobretudo, superação. Confira.

 

FEBRE COMO 1º SINTOMA

No dia 16 de fevereiro, uma Quarta-Feira de Cinzas, o padre relata ter sentido o primeiro sintoma: uma febre, aparentemente inocente, que após ser medicada não foi impedimento para que rezasse uma missa, ainda na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes.

No dia seguinte, todavia, aquilo continuou. “Fiz um teste rápido que já constatou a presença do vírus. Depois, eu fiz o teste RT-PCR, um exame mais definitivo, e no dia 18 veio o resultado confirmando”, relembra, contando que se recolheu em quarentena e tomou a medicação prescrita.

Três dias depois, mesmo seguindo as orientações, o padre ainda se sentia mal e apresentava febre. “Fui para o HGU (Hospital Geral da Unimed), em Toledo, e fiz diversos exames. Me deixaram internado, porque o quadro não era bom”, menciona.

Acontece que, mesmo internado, os médicos notaram que o pulmão, bastante sintomático pelo vírus, não reagia ao tratamento. “Fui sedado no dia 25 e fiquei praticamente 17 dias assim. Meu despertar aconteceu entre os dias 13 e 14 de março. Fiquei internado até o último dia 20, quando recebi alta, porque o hospital tem um foco muito grande de contaminação e o médico achou melhor eu cumprir o tratamento em outro lugar”, expõe.

 

INTUBAÇÃO: “OUTRA REALIDADE”

No extremo do tratamento, o religioso, natural de Assis Chateaubriand, ficou mais de 15 dias intubado e afirma que a experiência é difícil. “Você pode reagir positivamente à sedação como também não resistir, se algum complicador aparecer. É uma incógnita. Muitos perguntam o que eu vivi esses dias e somente agora começo a ter algumas lembranças. A gente pensa ter vivido, mas na verdade não viveu, é a mente que fica trabalhando”, compartilha.

Sem palavras que expliquem pelo que passou, padre Sérgio alega que a experiência é de estar em outra realidade. “Não tem como explicar direito, mas as imagens minhas eram em outro lugar, algumas pessoas que eu conhecia surgiram na minha memória. É uma sensação diferente. Eu nunca estava andando, caminhando ou fazendo coisas nessas lembranças. Sempre estava deitado em uma maca, em uma cama ou com alguém que me carregava. Sentia muita sede no meu sono, porque a gente não consegue se alimentar ou tomar líquidos. Eu tinha essas sensações e achava que estava vivendo. Não é como nos sonhos que você faz coisas, tem a ver com o que eu estava passando”, compara.

 

SEM SEQUELAS

Em recuperação, padre Sérgio afirma não ter tido nenhuma sequela mais grave da Covid-19. “O pulmão está bom, o coração está bem e o rim está bem. Não perdi olfato e nem paladar. Por ficar muito tempo parado, surgiu uma escara. A única dificuldade que tenho hoje é a questão de caminhar, porque a gente perde muita musculatura, fica bastante frágil e é assim. A fraqueza é um dos sintomas”, comenta, acrescentando que se locomove com ajuda: “Uso cadeira de rodas e uso um andador para firmar o corpo. Segundo o médico, é natural de quem passou por isso perder a firmeza e o equilíbrio”.

Para auxiliar na recuperação, o padre tem uma rotina de fisioterapia e outros cuidados. “A alimentação foi regulada e as visitas limitadas. A imunidade está baixa e é preciso se cuidar. É um processo lento e progressivo, mas, com a graça de Deus, as sequelas não são graves e vou me recuperar”, enaltece.

 

RETORNO AOS TRABALHOS

Como a infecção aconteceu às prévias de mudar de paróquia, a Diocese de Toledo reorganizou a situação para que o pároco tivesse o tempo à sua disposição nesse momento de se recuperar. O padre Solano Tambosi, antes atuando em Marechal Rondon, assumiu a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Tupãssi, onde estava o padre Sérgio. Na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Marechal Rondon, assumiu como administrador paroquial interino o padre Marcelo Ribeiro da Silva, também reitor do Seminário São Cura D’Ars, em Quatro Pontes.

Mesmo com o ocorrido, padre Sérgio deve voltar aos trabalhos e assumir a paróquia rondonense assim que a condição permitir. “O bispo pediu para eu me restabelecer e me recuperar. O médico não deu uma previsão de recuperação integral, pois depende de cada pessoa e cada caso. Não sei quanto tempo vai levar para estar plenamente recuperado e poder assumir o trabalho, mas não deve levar muito tempo. Vamos evoluindo a cada dia, mas não há uma data precisa”, pondera.

A saúde recuperada, reforça o padre, é essencial para o bom andamento das atividades paroquiais. “Preciso me cuidar e recuperar bem, porque a paróquia exige uma condição física para realizar os trabalhos e atender as pessoas”, ressalta.

 

Padre Sérgio Augusto Rodrigues estava prestes a deixar a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Tupãssi, para assumir a Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Marechal Rondon

 

FORÇA DA ORAÇÃO

Perguntado sobre como a vivência dos últimos dias agiu na vida do padre, ele afirma: “Muda muita coisa”. Mais do que vivenciar pelas palavras e depoimentos de terceiro, o padre destaca que a oração foi a força motora de sua recuperação. “Eu acredito que a fé das pessoas, a oração que muitos fizeram pela minha recuperação foram importantes para alcançar essa graça, porque é uma graça ter retornado”, engrandece.

Mesmo que saiba que a saúde é fundamental, o religioso avalia que a volatilidade da vida é testemunhada nesses momentos. “A vida é muito rápida, a saúde é importante e a gente precisa cuidar dela. A lição que tiro de tudo isso é que a vida é preciosa e frágil. Ao mesmo tempo que estamos aqui, podemos logo não estar mais. Com o vírus, tudo ficou ainda mais evidente: a fragilidade e, ao mesmo tempo, a força que temos”, frisa.

 

CUIDAR DE QUEM CUIDA

Diante dos muitos dias sob cuidados médicos, padre Sérgio comenta ter sentido de perto a situação em que se encontram os sistemas de saúde. “Estive bem acompanhado do pessoal do hospital e de amigos que estão do nosso lado para ajudar na recuperação. A própria ciência, hoje questionada e colocada em dúvida, é quem está salvando as pessoas com a vacina. É preciso ter todo o cuidado para prevenir, mas a vacina hoje é o meio mais eficaz de prevenir o contágio”, considera, emendando: “Ficamos sentidos, porque fazemos o que podemos para prevenir e acabamos contraindo. Os profissionais de saúde estão cansados, se expõem ao risco de contágio a cada momento, precisam da nossa valorização e da nossa oração”.

 

DOMINGO DE PÁSCOA

A recuperação do padre Sérgio acontece entremeio à Quaresma e, neste domingo (04), acontece a grande festa cristã que relembra a morte e celebra a ressurreição de Jesus Cristo. Passado por um sofrimento tamanho nos últimos dias, o religioso vê um reflexo de sua condição nas dores desses dias. “Nos sentimos frágeis e dependemos das pessoas. Na Páscoa, sentimos o sofrimento de Jesus unido ao nosso”, menciona.

É natural, segundo ele, que o ser humano passe por sofrimentos, motivados pela própria condição humana. “Toda pessoa passa por isso, eu passei e tantas outras passarão. Nessas situações conseguimos entender melhor o que é a Paixão de Cristo, sempre crendo na ressureição, com confiança de que precisamos lutar e não podemos desistir”, expõe.

Segundo ele, as graças da recuperação são dirigidas para Deus. “É Páscoa, tive a graça de me recuperar, de poder estar aqui hoje e dar sequência na minha missão. Graças a Deus vencemos esse momento difícil. Assim como Cristo vence a morte, não podemos deixar de lutar para vencer as nossas batalhas”, finaliza.

 

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