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Municípios 27 dias sem chuva

Por conta da estiagem, safra deve ter quebra de 30% na região

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Foto: Leme Comunicação

 

No ano-safra 2017/2018, foi a chuva que não deu trégua para uma safra tranquila: bolsões d’água se formando em meio à lavoura, focos de ferrugem asiática na maioria das áreas e um inimigo desconhecido por muitos, a antracnose, conhecida como “fungo das podridões”, que levou produtores a roçarem significativa parte de suas áreas.

Neste ano, o “inimigo” é outro: a estiagem. Há 27 dias sem chuva significativa e uniforme na microrregião Oeste do Paraná, as lavouras vão perdendo a cada novo dia sua capacidade produtiva. Conforme o engenheiro agrônomo Cristiano da Cunha, da Agrícola Horizonte, as áreas semeadas no início deste ciclo estão em 60% a 70% de sua capacidade produtiva devido aos dias sem a irrigação natural. “Essa fase do enchimento de grão é uma das mais críticas para o desenvolvimento da soja. A maioria das áreas que foram semeadas mais adiantadas terão diminuição no peso de grão, grão esverdeado e baixa qualidade, tendo em vista que estas já estão em cerca de 70% na fase de enchimento de grão”, menciona.

Em duas áreas que estão lado a lado na estrada que passa em frente ao Clube Lira, em Marechal Cândido Rondon, a diferença é nítida: a que foi semeada mais cedo, por volta do dia 15 de setembro, apresenta folhas que dessecaram ainda verdes e não passaram pelo processo correto de maturação, sendo que primeiro amarelam e depois dessecam; já a que foi semeada mais tarde, por volta do dia 25 de setembro, ainda está verde, mas com alguns sinais de falta de chuva. “Se a seca permanecer, as melhores áreas vão ser essas que foram plantadas mais cedo e hoje já estão bastante prejudicadas, no entanto, se a chuva voltar a cair, as áreas mais atrasadas têm chance de recuperação, sendo possível colher 60% a 70% do potencial produtivo”, declara Cunha. “Se a estiagem permanecer, essas áreas mais tardias poderão colher 20% a 30% do potencial produtivo”, prevê.

De acordo com o agrônomo, para a microrregião já é possível prever um impacto significativo na economia regional relacionado à safra deste ano. “Da forma como as lavouras se apresentam hoje podemos falar tranquilamente em 30% de quebra na safra”, comenta.

 

Índices pluviométricos

A última chuva significativa que atingiu de forma mais uniforme toda a microrregião ocorreu em 23 de novembro, quando foi registrado em Marechal Rondon entre 35 e 39 milímetros. Nesses 25 dias de estiagem, de 24 de novembro a 18 de dezembro, o acumulado de chuvas soma 65 milímetros, praticamente a metade do índice de chuva no mesmo período de 2017, que foi de 122 milímetros.

Em novembro do ano passado, os pluviômetros marcaram 320 milímetros e em 2018 menos da metade do ano anterior: 120 milímetros.

Segundo informações do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), há previsão de que nesta semana volte a chover na região. Amanhã (21) há probabilidade de 70% de chuva, porém hoje (20) pode ocorrer chuvas isoladas a qualquer hora do dia. “Caso volte a chover, que é o que está previsto para esta semana, a chance de recuperação das lavouras tardias é bastante grande, contudo as mais adiantadas estarão neste índice de colheita com 60% a 70% de produtividade”, salienta o engenheiro agrônomo.

 

Alerta

Ele diz que quanto mais baixa a região, como nos municípios beira lago, pior está a situação das lavouras. “Se olharmos para as lavouras de Quatro Pontes, Toledo, indo em direção a Cascavel, a situação já muda, porque essa é uma região com mais altitude, mais fresco, o que faz diferença para a planta”, pontua.

Na semana passada, o engenheiro agrônomo conta que um termômetro foi colocado no campo, marcando 50.2ºC. “Para a cultura da soja a temperatura ideal é entre 25ºC e 32ºC. As plantas toleram bem até 35ºC, mas acima disso já temos uma situação de estresse”, informa.

Por trabalharem na “indústria a céu aberto”, os agricultores estão suscetíveis a situações como essas enfrentadas nos dois últimos anos-safra, seja excesso de chuva ou falta dela.

A estiagem, no entanto, não é novidade para os sojicultores. Conforme Cunha, na maioria dos anos há um período de estiagem de 15 a 20 dias, contudo, o que determina o quanto a falta de chuva vai afetar as lavouras é o período em que ocorre. “Se essa seca tivesse ocorrido no início de novembro, por exemplo, o dano seria muito menor”, expõe.

Apesar de ser inevitável aos produtores terem impacto por conta das condições climáticas, o agrônomo afirma que há ações que podem ser feitas pelos produtores para que em situações de estiagem como esta os danos sejam diminuídos.

Uma delas, cita, é o manejo do solo, que deve ser preparado tanto física quanto quimicamente, por meio de matéria orgânica e adoção de rotação de cultura. “Essas ações fazem parte do plantio direto, mas como a região trabalha hoje basicamente com duas culturas, da soja e do milho safrinha, os produtores deixaram de olhar para esse cuidado com o solo visando à parte econômica do milho safrinha”, aponta.

Para o agrônomo, muitos agricultores não querem deixar de plantar o milho na segunda safra para fazer uma adubação verde, tendo em vista que não haverá retorno financeiro direto. “Mas vemos que hoje as áreas que estão com o manejo mais acertado terão perda, mas significativamente menor”, declara.

As ações de manejo de solo, diz Cunha, deveriam ser adotadas pelos agricultores todos os anos em pelo menos uma parte da área de plantio, fazendo uma espécie de rotatividade em pelo menos 20% a 30% da lavoura para evitar problemas significativos. “Estávamos há pelo menos seis anos sem ter um problema significativo de estiagem como esse, tanto verão como safrinha, então o produtor acaba deixando de lado essas ações que são de extrema importância para prevenir grandes perdas de produtividade”, reforça.

 

Colheita

Com a alteração na calendarização do cultivo da soja no Paraná, que estabeleceu o fim do vazio sanitário para 10 de setembro e o plantio da cultura até 31 de dezembro do ano agrícola, conforme a portaria nº 202 de 2017 da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), a expectativa é de que neste ano-safra a colheita inicie entre o período do Natal e ano novo. “As áreas mais adiantadas devem estar colhidas até 05 de janeiro aproximadamente”, estima Cunha.

Já as áreas mais tardias, segundo ele, deverão sair do campo entre o dia 15 e 31 de janeiro, completando a janela de 120 dias esperada com as alterações no calendário.

A estiagem, de acordo com o profissional, não altera a expectativa dos produtores para o plantio do milho safrinha. O período de falta de chuva, no entanto, deve ser motivo de alerta para que os agricultores façam o manejo do solo, tendo em vista que o calendário deste ano permitirá a adubação verde, por exemplo. “Até mesmo após a colheita da safrinha ele pode parar para realizar essas ações de conservação do solo”, indica.

 

Linha divisória de duas áreas é nítida pela condição das plantas: de um lado, a soja mais adiantada não passou pelo processo correto de maturação, com folhas verdes, que dessecaram e vagens em cores diferentes e de outro a soja tardia ainda verde, mas que já sofre com o longo período de estiagem

 

 

Engenheiro agrônomo Cristiano da Cunha: “Se a estiagem permanecer, essas áreas mais tardias poderão colher 20% a 30% do potencial produtivo” (Fotos: Leme Comunicação)

 

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