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Economia do Oeste deve ganhar impulso no segundo semestre

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A um mês do término do primeiro semestre, quando as nuvens que sopravam incertezas começavam a dissipar dando  lugar aos ventos da confiança, eis que surge novamente um cenário confuso, principalmente no setor político, após as delações dos executivos do grupo JBS. Desta vez o principal alvo atingido é o presidente Michel Temer, que se vê em apuros tentando se defender na Justiça e, ao mesmo tempo, manter sua base aliada. Como o novo escândalo pode culminar com uma eleição indireta à Presidência da República, os mercados estão receosos, o que pode afetar a recuperação da economia brasileira. Além disso, há dúvidas quanto ao andamento das reformas da Previdência e Trabalhista, que estão em análise no Congresso. Até mesmo o ritmo de queda da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia, pode ser afetado pelas incertezas na economia e política.

Apesar das turbulências nacionais, a expectativa é de que o cenário econômico da região Oeste do Paraná continue em processo de retomada e se consolide ainda mais a partir do segundo semestre do ano. A projeção é do professor universitário e economista Jandir Ferrera de Lima. “A retomada da economia vai se alavancar a partir de julho, impulsionada pela perspectiva de uma safra muito boa de milho. Mesmo porque a nossa economia está baseada no agronegócio e o setor não está em crise, então esperamos que este cenário se consolide. O Oeste do Paraná está com uma posição bem diferenciada do restante do Brasil”, amplia.

Conforme Lima, de janeiro a abril o saldo do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foi positivo na região. “Em Cascavel, onde houve a maior perda de empregos, o saldo foi positivo em 60 vagas”, diz. Os números para Marechal Cândido Rondon também são representativos, cujo saldo positivo atinge 140 novos postos de trabalho de janeiro a março. “Ou seja, a economia deu uma retomada significativa devido à safra muito boa em fevereiro e março”, menciona.

No entendimento do professor, o comportamento da economia também melhora no tocante às questões envolvendo inflação e juros, o que deve contribuir para expandir as vendas de imóveis e veículos. “Caindo a taxa de juros, todo tipo de financiamento vai ficar mais atrativo”, garante.

 

Veículos

De acordo com o economista, a taxa de juros do veículo zero quilômetro está mais atrativa, porém tudo varia, dependendo do valor financiado. “Para oferecer taxa zero ou reduzida, abaixo de 1%, as montadoras querem que o cliente dê pelo menos 50% do valor do veículo. Dependendo da entrada que o cliente tem é mais interessante a taxa das revendas de carro zero. Para aqueles que preferem carro usado (ou seminovo), a taxa direto no banco está mais atrativa do que a taxa das financeiras que atuam diretamente com as revendas”, expõe.

No caso de servidor público, Lima diz que é mais atrativo fazer um empréstimo consignado para comprar um carro. “Além da taxa de juros ser mais interessante, o carro não fica alienado. Dessa forma você fica com o bem liberado no caso de uma necessidade para negociar. É mais interessante empréstimo consignado pelas taxas e também empréstimo via banco do que via financeiras que atendem diretamente as montadoras/revendedoras”, reforça.

O professor salienta que a taxa de juros e depreciação do veículo devem ser levadas em consideração no momento da compra do carro zero. Ele cita ser um diferencial adquirir um carro com depreciação baixa. Além disso, emenda, a pesquisa é essencial, mesmo porque a taxa de juros na compra pode oscilar de 0,26% em 24 vezes até 1,72%. “Isso varia muito de revenda para revenda, de perfil e ano de carro. No mês de junho os carros zero com ano 2017 tendem a ter mais promoções nas montadoras. O que eu aconselho para quem vai comprar carro zero é pesquisar preços em revendas de marcas diferentes, comparar quais os opcionais e verificar o custo do seguro do veículo. São três coisas: taxa de juros e financiamento, perfil do veículo e seguro”, orienta, acrescentando: “Da mesma maneira que o consumidor procura antes de comprar outros produtos, também deve pesquisar antes de comprar um veículo, porque ele tem diferença de opcionais, manutenção, taxa de juros e seguro. O cliente deve buscar essas três informações para definir o que ele quer, sendo fundamental negociar valores, revisões, emplacamento, entre outros no caso de automóvel zero”.

Segundo Lima, alguns veículos antes comercializados na faixa de R$ 90 mil agora são liquidados por R$ 70 mil porque seus modelos devem ser reestilizados em 2018.

 

Perícia

O economista pondera que a vantagem dos carros seminovos e usados é de que ambos já sofreram desvalorização, todavia a taxa de juros para compra do carro usado é bem maior que a do carro zero, sem contar a garantia do zero que envolve procedência. “O carro usado deve ser comprado com procedência garantida, para não pegar um carro sinistrado ou com problema de outra cidade, que foi reformado e revendido como carro bom. Há uma série de fatores que colocam em dúvida a venda do carro usado”, observa.

A preferência, segundo ele, é adquirir carros que já foram periciados. “No caso de dúvidas, aconselho emprestar o carro e periciar no Inmetro em Cascavel por R$ 70, além de ser uma perícia que vale para as seguradoras. O interessado também deve procurar o seu mecânico de confiança para avaliar o veículo”, sugere.

 

Corte nos juros

Lima também analisa o panorama nacional da economia a partir das taxas de juros, que são definidas pelo Banco Central. Ele menciona que a meta de inflação é de 4,5%, sendo que a inflação prevista até o escândalo político de duas semanas atrás estava próximo de 4% com viés de baixa.

“Frente a este cenário o mercado aguarda o corte na taxa de juros na próxima reunião do Copom (Conselho de Política Monetária), inclusive não se admira se o corte for na faixa de 1%. Se a inflação for 3,98% e taxa de juros de 11%, você tem taxa de juros 7% acima da inflação. Se há expectativa de corte na taxa de juros, então quem deseja financiar casa, veículo e imóveis deve esperar, porque o mercado acompanha quando o Banco Central corta a taxa de juros, a não ser que no caso de veículo tenha taxa zero e a pessoa necessita antecipar o consumo e considera atrativo”, pontua, lembrando que a tendência é de manutenção dos cortes na taxa de juros enquanto a inflação estiver abaixo da meta.

 

Crédito atraente para imóveis

Com o cenário de queda na taxa de juros, o professor menciona que o crédito imobiliário tende a ficar mais atraente. “Contudo, nós temos um problema hoje no Brasil que é a disponibilidade de dinheiro para o crédito imobiliário. Com a autorização do governo federal em sacar as contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), o saque da caderneta de poupança tem sido bem significativo porque as pessoas têm retirado para pagar suas contas e fazer frente às necessidades, já que a taxa de desemprego no Brasil foi para 13% ao ano. Isso fez com que diminuísse o dinheiro para o crédito imobiliário”, alerta.

Para ele, a retomada do crédito imobiliário vai depender da queda da taxa de juros e da disponibilidade de recursos. “Então, para aqueles que forem financiar um imóvel, é interessante esperar um pouco mais até haver queda na taxa de juros ou negociar um bom desconto na venda do imóvel, porque há muito imóvel disponível e poucos compradores. Este é outro bem que cabe uma boa negociação”, exemplifica.

 

Ebulição

Conforme Lima, o mercado financeiro entrou em ebulição porque o presidente Michel Temer estava conduzindo uma série de reformas que o mercado financeiro via como positivas e frente a este cenário acenava com o retorno de investimentos no Brasil por conta de algumas mudanças na legislação. “Alguns desses investimentos voltariam com as reformas, no caso ligados ao agronegócio devido à boa safra. O mercado de veículos retomou um pouco aqui na região por conta da boa safra que tivemos, agora também há perspectiva de colheita muito boa no milho safrinha nas culturas de inverno, portanto há muitos negócios que os agricultores retomaram por conta disso. Quem comprou veículos e caminhonetes foram os agricultores”, diz.

 

Agronegócio e exportações

Todavia, existe um entrave no horizonte: o custeio agrícola joga contra a retomada do agronegócio na região de forma mais acelerada. “Hoje o custeio do produtor rural está com taxa de juros muito alta, porque ele pagava 6,5% de juros ao ano quando a inflação era 7%. Agora que a inflação está em 3,98% ele continua pagando 6,5%. Ele saiu de uma taxa de juros negativa para uma taxa de juros real. O custeio se torna mais caro e há poucos recursos por conta da crise financeira do Brasil”, declara.

O economista enaltece que o modelo de agronegócio cooperativo apresenta uma pauta de exportações interessante, cujas cooperativas estão investindo, mas o agronegócio acabou afetado pela Operação Carne Fraca. “Nenhum frigorífico da nossa região está envolvido nos escândalos, o que atesta a qualidade da proteína animal do Oeste do Paraná. Como foi colocado em dúvida todo sistema de proteína animal brasileiro, muitos contêineres das nossas cooperativas ficaram parados nos portos estrangeiros por conta do escândalo, o que gerou um impacto que as cooperativas estão tentando reverter a curto prazo. A hora que as exportações normalizarem e tudo for resolvido em termos da Carne Fraca, a tendência é de aumento da produção no Oeste do Paraná. O fato positivo do escândalo foi a desvalorização do dólar que chegou a R$ 3,31, desvalorização cambial esta que vem sendo positiva para as exportações aqui do Oeste”, assegura.

Por outro lado, o professor menciona que de um lado o cenário é negativo devido ao stand by do mercado financeiro e não se sabe o que vai acontecer, se o escândalo do presidente Michel Temer vai ou não afetar a inflação. “Tudo vai depender do desenrolar dessa crise política, por isso nesse momento nós estamos num ambiente de muita incerteza. Qualquer previsão se torna difícil por conta desse ambiente de incerteza que estamos vivenciando no cenário político brasileiro”, opina.

 

Política e reformas

“Se a tendência da queda da taxa de juros se mantiver, com certeza o nosso cenário de retomada vai se concretizar. Mesmo que seja pequena a economia brasileira parou de cair e agora está escalando o fundo do poço. O que aprendemos com a recente crise política é de que no Brasil o fundo do poço as vezes tem um alçapão. Eu acredito que a crise política vai se resolver, preferencialmente pela via Constitucional de eleição indireta para haver alguém que faça a transição para 2018”, expõe.

De acordo com o economista, é importante que o calendário das reformas, sejam elas positivas ou não para a população – visto que algumas são questionáveis -, continue para não brecar a modernização da legislação em alguns setores. “A reforma que eu considero extremamente importante, que é a reforma tributária, era a próxima na pauta. Enquanto não fizermos a reforma tributária a questão fiscal vai ficar problemática no Brasil e frente ao que aconteceu com as reformas trabalhista e previdenciária, por mais que eu não concorde com alguns pontos, era preciso fazer algum tipo de reforma”, frisa.

Lima entende que há risco da reforma tributária não ocorrer mais uma vez. “E ela é muito importante para dar competitividade às nossas empresas. Eu diria o seguinte: é melhor nós entrarmos pela solução constitucional, termos eleição indireta e que se faça transição tranquila e continue o calendário de reformas que vai chegar até a tributária, que é uma das mais importantes a curto prazo para o Brasil voltar a crescer”, finaliza.

 

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