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Paraná

Ferrugem não deve ser sinônimo de desespero

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Após enfrentar granizo, alagamentos e principalmente vento, as lavouras de soja da região entram em alerta para o aparecimento da velha inimiga: a ferrugem asiática.

Na última quinta-feira (23) foram registradas as duas primeiras ocorrências da doença na safra 2017/18 no Oeste do Paraná em propriedades de Itaipulândia e São Miguel do Iguaçu. Os casos são também os primeiros em todo o Estado neste ano-safra. A informação é o Consórcio Antiferrugem, parceria público-privada no combate à ferrugem asiática da soja. A primeira ocorrência da doença ocorreu em São Paulo, no município de Itaberá, em lavoura experimental, no dia 20 deste mês.

Causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, a ferrugem ainda é a doença mais temida pelos sojicultores em função de sua agressividade e potencial destrutivo nos campos. O principal dano é a desfolha precoce, impedindo a completa formação dos grãos e consequentemente a redução da produtividade. Pela facilidade de disseminação do fungo pelo vento, a doença pode ocorrer em praticamente todas as regiões produtoras de soja do país.

Apesar de os municípios estarem próximos à micror-região de Marechal Cândido Rondon, o engenheiro agrônomo da Agrícola Horizonte, Cristiano da Cunha, afirma que o aparecimento dos esporos da doença nas lavouras dos municípios vizinhos não deve ser motivo de alarde para os agricultores. “Existem áreas como essa que chamamos de áreas sentinela, específicas plantadas mais cedo para detectar a presença ou ausência de ferrugem na região. Quando se encontra um fungo é, claro, um alerta, mas não para assustar ninguém”, ressalta.

O fungo da ferrugem asiática não é novidade para nenhum produtor de soja, afinal, já é conhecido por eles desde 2011. Na região, destaca o especialista, a doença começa a ser problema nas lavouras em meados de dezembro e janeiro, todavia, a orientação aos produtores é para que as aplicações de fungicidas sejam preventivas, a fim de que, quando o fungo chegar e cair sobre a folha, ela já esteja protegida pelo fungicida aplicado. “Nas lavouras que acompanho, as aplicações são 100% preventivas e já iniciaram. Sabemos que o fungo está na região, mas não deve causar desespero em ninguém”, reforça Cunha.

Dor de cabeça

Nas lavouras de Itaipulândia e São Miguel, a ferrugem foi encontrada em lavouras em estágio fenológico R5, que é basicamente o início da formação dos grãos. Nesta fase, o grão está cerca de 10% perceptível dentro da vagem. “Provavelmente essas lavouras onde a ferrugem foi encontrada foram no início de setembro, antecipadas em relação à nossa região, por estarem nesse estágio de enchimento de grão”, considera o engenheiro agrônomo.

Atualmente, a ferrugem asiática é a doença que mais preocupa os produtores por ser a que mais devasta as lavouras. Em uma área de soja descuidada, onde o produtor não tomar cuidado, o fungo pode levar até 90% da produtividade, dizimando a produção. “Podemos considerar que a nossa região é mais tranquila porque não temos chuvas diárias, como, por exemplo, em cidades do Mato Grosso, onde chove toda tarde. Nesses casos a velocidade de infecção é muito maior”, aponta. “Todavia, temos umidade relativa que propicia o ambiente para o desenvolvimento do fungo, com orvalho durante a noite, e tudo isso favorece”, expõe.

Cunha aponta que é de extrema importância que os produtores não se esqueçam das demais doenças que também tiram a produtividade da soja tanto quanto a ferrugem.

Sem trégua

O início da prevenção à ferrugem é a continuidade da preocupação dos produtores de soja da microrregião, que não tiveram descanso nas últimas semanas frente às ocorrências climáticas que deixaram estragos em diversos pontos das lavouras.

O principal problema que atingiu a maior parte dos campos beira-lago foram os fortes ventos, que, conforme Cunha, ocasionam nas plantas o rasgo das folhas. “Este ferimento vira uma porta de entrada para doenças, fungos e bactérias”, alerta.

Ele diz que as bacterioses já estão sendo vistas, bem como outras doenças causadas por fungos que se oportunizam desses ferimentos e causam as injúrias nas plantas.

Outro problema foi o granizo, que atingiu áreas com maior e outras com menor intensidade. Nas duas situações, o fenômeno climático fez com que muitas áreas ficassem subdesenvolvidas em relação às lavouras não atingidas pelas pedras de gelo, uma vez que essas plantas já sofriam com o excesso de chuvas e o ataque de fungos na raiz. “O granizo causou praticamente a desfolha total das plantas e nas áreas de mais intensidade ocorreu o decepamento da haste principal e a soja não conseguiu retomar o crescimento logo após o granizo”, menciona.

Passados alguns dias, as plantas conseguiram colocar alguns galhos abaixo da área decepada, porém, nos locais onde o granizo foi mais severo, a produtividade foi comprometida significativamente. “Algumas áreas que acompanho, posso dizer hoje com certeza que, se tudo correr bem daqui para frente, dificilmente as áreas ultrapassem 100 sacas por alqueire”, lamenta.

Encharcamento

A boa notícia é que não houve em nenhum ponto a perda total das lavouras de soja. No entanto, áreas onde o alagamento causado pelas chuvas intensas permaneceu por muitos dias, mesmo após a pausa das precipitações, em pontos específicos da área, houve perda pela mortalidade de plantas. “Isso ficou muito visível em função principalmente do ataque de fungo de solo causando podridão nas raízes. Em análises laboratoriais para verificarmos quais patógenos estavam causando a mortalidade, encontramos principalmente o Rhizoctonia solani e o Macrophomina phaseolina, dois fungos de solo que têm desenvolvimento favorecido por essa condição de alagamento”, explica. “Há locais onde há perda de 20% a 30% da lavoura por mortalidade das plantas. Em outros pontos, as plantas não tiveram mortalidade, mas também foram atacadas por fungos, conseguiram resistir e agora estão se desenvolvendo”, complementa Cunha.

Plantas pequenas

Todo ano, no período inicial do desenvolvimento da soja, existe certa ansiedade por parte dos agricultores para ver a lavoura crescendo rapidamente e fechando. Neste ano, no entanto, não foi possível acompanhar o crescimento. “O período em que a soja esteve no campo após o plantio foi de muita chuva e pouco sol, então é fácil entender porque muitos produtores estão achando as plantas muito baixas”, pontua o engenheiro agrônomo.

Por ser um ser vivo que faz fotossíntese, expõe, a planta precisa da luz do sol para ter multiplicação celular e conseguir crescer. “Como tivemos em 30 dias uma média de 20 sem sol, logicamente a fotossíntese ficou prejudicada e o agricultor que percebeu que a soja cresceu pouco no período inicial tem razão. Entretanto, isso não ocorreu pelo excesso de umidade, mas, sim, pela falta de luminosidade”, comenta.

Como nos últimos dez dias o sol voltou com força, Cunha garante que as lavouras já se recuperaram totalmente e afirma que o pequeno déficit de crescimento não vai influenciar na produtividade da soja.

Confira a matéria completa na edição impressa desta terça-feira (28).

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