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Índice de hepatites virais na região Oeste é um dos mais altos do Paraná

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As hepatites virais constituem um enorme desafio à saúde pública em todo o mundo. Elas são responsáveis por cerca de 1,4 milhão de óbitos anualmente, como consequência de suas formas agudas graves ou, principalmente, pelas complicações das formas descompensadas crônicas ou por hepatocarcinoma. No Brasil, esse cenário se repete.

Dados do Ministério da Saúde revelam que os óbitos por hepatite C representam atualmente a maior causa de morte entre as hepatites virais no país. Evidenciam, também, que o número de óbitos devido a essa etiologia vem aumentando ao longo dos anos, em todas as regiões. Entre 2000 e 2015, foram identificados 46.314 óbitos relacionados à hepatite C.

Especificamente na região Oeste do Paraná, o índice de detecção de hepatites virais é um dos mais altos do Estado, principalmente as etiologias B e C. A hepatite A é a que tem o menor número de casos registrados. No Paraná foram 43 casos em 2016.

Em Marechal Cândido Rondon, o cenário não é diferente e os números preocupam. Somente neste ano, de janeiro a julho, foram registrados 22 casos de hepatite B e um caso de hepatite C. Se comparado com anos anteriores, o aumento no número de casos é evidente, visto que ao longo de 2016 foram registrados 16 casos de hepatite B e três de hepatite C. Em 2015 foram 18 casos de hepatite B e três de hepatite C.

Outros municípios da região também apresentam altos índices de hepatites. Conforme dados da 20ª Regional de Saúde, que compreende 18 cidades, em 2015 foram registrados 34 casos de hepatite C e 135 de hepatite B e em 2016 32 e 126 casos, respectivamente. Já neste ano, somente até 21 de julho, já haviam sido confirmados 12 casos de hepatite C e 61 de hepatite B.

 

Doença silenciosa

Caracterizada como uma inflamação do tecido hepático, as hepatites podem ser provocadas por inúmeros agentes. Além das virais, há as hepatites gordurosa, alcoólica, medicamentosa, por doença autoimune, doenças parasitárias, entre outras.

As chamadas hepatites virais são classificadas basicamente em cinco tipos: A, B, C, D e E, sendo as duas últimas com maior incidência nos países da África e Ásia e com pouco registros no Brasil. O tipo viral mais comum é o B, responsável por 71% das notificações, seguido pelos casos de hepatite C (25,1%), hepatite A (3,5%) e hepatite D (0,4%).

“Em grande parte dos casos, as hepatites virais são doenças silenciosas, o que reforça a necessidade de ir ao médico regularmente e fazer os exames de rotina que detectam os vários tipos de hepatites”, destaca o médico do Setor de Epidemiologia da Unidade de Saúde 24 Horas, Rafael Mauro Dias.

Segundo ele, quando os sintomas aparecem, os mais comuns são febre, fraqueza, mal-estar, dor abdominal, enjoo/náuseas, vômitos, perda de apetite, urina escura (cor de café), icterícia (olhos e pele amarelados) e fezes embranquecidas. “Nós temos um grande problema com as hepatites virais porque na maioria das vezes elas passam sem sintomas e quando começam a aparecer, são sintomas que qualquer outra doença também poderia causar”, menciona.

De acordo com Dias, isso dificulta o diagnóstico e a procura pelo paciente, que deixa de buscar atendimento médico porque acha que se trata apenas de uma virose.

 

Contágio e transmissão

As hepatites virais são transmitidas por contaminação sanguínea, ou seja, pelo uso compartilhado de materiais cortantes, como agulhas, aparelhos de barbear e alicates de unha, mas também pela ingestão de alimentos contaminados. O médico do Setor de Epidemiologia do 24 Horas diz que as hepatites do tipo A e E são transmitidas através do contágio fecal-oral, ou seja, condições precárias de saneamento básico e água, de higiene pessoal e lavagem e cozimento dos alimentos. Já as hepatites B, C e D, informa ele, são, na maioria das vezes, transmitidas por meio de transfusões de sangue, relações sexuais desprotegidas, compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas de barbear, alicates de unha e outros objetos que furam ou cortam. “Hepatites dessas etiologias também podem ser transmitidas durante a gestação, seja no parto ou no período de amamentação”, expõe. 

Conforme Dias, o diagnóstico das hepatites virais pode ser confirmado através de testes bioquímicos, sorológicos ou até mesmo com biopsia hepática. “Usa-se principalmente os testes sorológicos, buscando anticorpos ou antígenos que tenham se desenvolvido para combater o vírus”, salienta.

 

Hepatites crônicas

Em termos de tratamentos, o médico menciona que não existem medicamentos específicos para a hepatite A. “Este tipo de hepatite trata-se, essencialmente, com repouso, medidas de suporte, hidratação e nutrição necessária”, aponta.

Em relação à hepatite B, o profissional comenta que a maioria dos pacientes elimina o vírus e evolui para a cura definitiva. “Aproximadamente 95% dos pacientes se recuperam sozinhos da fase aguda e ficam sem sequelas”, aponta.

No entanto, a hepatite do tipo B pode se tornar crônica e persistir no organismo em quase 5% dos casos. “Em casos graves da fase aguda e na hepatite crônica em que houver dano hepático ou replicação, opta-se pelo tratamento principalmente com antirretrovirais ou imunomoduladores, que estimulam o sistema imunológico a combater o vírus”, explica Dias.

O tratamento para a hepatite C também é realizado com medicamentos antirretrovirais ou imunomoduladores, entretanto, pessoas com esta etiologia da doença, geralmente em torno de 60% dos portadores, desenvolvem a doença hepática crônica, ou seja, quando o paciente não conseguiu eliminar espontaneamente o vírus dentro do período de seis meses. No restante dos casos ocorre o clareamento viral espontâneo após a infecção aguda. “O fato do paciente se tornar um portador crônico da doença, o que também acontece com a hepatite B, mas em menor porcentagem, é porque o vírus C é mais resistente, dificultando que o organismo faça a eliminação”, explica.

Outro fator que contribui para que o paciente se torne um portador crônico da doença é que existem quatro genótipos do vírus da hepatite C. “Ele é um RNA vírus, com uma estrutura menor. Além disso, também há a questão da suscetibilidade do paciente, que às vezes possui um sistema imunológico mais fraco e acaba não conseguindo eliminar o vírus”, pontua, emendando: “O tipo C tem mais tendência a gerar o hepatocarcinoma, que é o câncer do fígado, e cirrose, então nesse ponto ele é mais agressivo”, destaca.

 

Prevenção

A prevenção das hepatites A e E se dá por meio de saneamento básico, evitando o contato com alimentos contaminados.

Por sua vez, a hepatite B tem como método principal de prevenção a vacina. “Além disto, usar camisinhas em todas as relações sexuais e evitar compartilhamento de objetos de uso pessoal, bem como equipamentos para uso de drogas, confecção de tatuagem ou colocação de piercings também são métodos de prevenção”, ressalta Dias.

Ao contrário da hepatite B, para o tipo C não existe vacina, por conta da composição diferente do vírus. Sendo assim, é recomendado evitar as formas de contágio, geralmente por transmissão sanguínea.

 

Evolução na medicina

De 1999 a 2016 foram detectados no Brasil 319.751 casos de hepatite C que apresentaram um dos marcadores – anti-HCV ou HCV-RNA – reagente. Considerando-se os casos que possuíam ambos os marcadores anti-HCV e HCV-RNA reagentes, foram detectados 155.032 casos.

Mesmo diante desses números, o médico da Unidade de Saúde 24 Horas afirma que a medicina tem evoluído, principalmente nos últimos três anos, na busca para o tratamento da hepatite C. “Hoje, com os novos medicamentos desenvolvidos, como os antivirais, há uma chance de cura de até 90% da hepatite C, dependendo do genótipo do vírus e o esquema terapêutico”, comemora. 

 

Teste rápido é fundamental

Uma das formas de diagnosticar o vírus da hepatite é através do teste rápido, disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “O teste rápido, como o próprio nome diz, permite a detecção rápida e o diagnóstico precoce da doença, evitando complicações futuras e diminuindo a transmissão com o tratamento adequado para cada caso”, expõe Dias.

Contudo, mesmo com os índices de detecção altos, Dias afirma que a busca espontânea para a realização dos testes rápidos ainda é baixa. “Mais de 20% dos portadores não sabem que têm a doença”, lamenta.

Tal fato se agrava visto que, conforme ele, a faixa etária com maior número de diagnósticos de hepatites é entre 20 e 40 anos. “Nessa faixa etária são evidenciados e praticados com mais facilidades os comportamentos de risco, que são relações sexuais desprotegidas, uso de drogas injetáveis, realização de tatuagens e colocação de piercings sem a esterilização adequada dos equipamentos”, enfatiza o médico.

 

Baixa procura

Levando em conta o alto índice e o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais, celebrado em 28 julho, a Secretaria de Saúde de Marechal Rondon realizou, em parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc), ações de prevenção à hepatite A, B e C na Unidade de Saúde 24 Horas, no último sábado (29).

Durante toda a manhã a equipe do Sesc ofereceu oficina de lavagem de alimentos para a prevenção da hepatite A, bem como prestou informações e orientações sobre as doenças.

Já nos consultórios do 24 Horas foram realizados testes rápidos gratuitos de hepatite B, C, HIV e sífilis. “Fizemos a coleta de sangue dos pacientes e encaminhamos para o laboratório. Dentro de 20 dias teremos a confirmação sobre os casos que atestaram positivo para hepatites, HIV ou sífilis”, informa a enfermeira do Setor de Epidemiologia do 24 Horas, Franciele A’Costa Perez. 

Segundo ela, a procura pelos testes foi alta e ao todo 50 pessoas realizaram exames. Destes, a princípio, em duas situações foi detectado o vírus da hepatite B. Para hepatite C e HIV não houve nenhum caso específico. Já para sífilis houve cinco casos positivos. Inclusive, um paciente foi diagnosticado previamente com hepatite B e sífilis.

“Neste ano realizamos os testes rápidos na Unidade de Saúde 24 Horas em um dia específico, mas os testes estão disponíveis em todas as unidades de saúde durante o ano todo”, frisa Franciele. Para ela, apesar da maior realização de testes rápidos, se houvessem mais campanhas seria possível atingir um público ainda maior.

Conforme a enfermeira, a maior procura por testes rápidos é feita pelas gestantes, por ser um dos exames de protocolo no pré-natal. “Muitas vezes estamos detectando o vírus na gestação, tanto na gestante quanto no seu companheiro. No entanto, não estamos conseguindo alcançar os demais grupos, porque eles não vêm até a unidade de saúde fazer o teste”, lamenta.

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