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Paraná

Menos interesse ou mais desvalorização?

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Carreiras com salários altos, estabilidade e trabalho gratificante. Este provavelmente é o sonho de qualquer jovem que está nos anos finais dos estudos, prestes a prestar vestibular e decidir qual será sua profissão.

Ao contrário do que ocorria há quatro ou cinco décadas, quando o professor dos antigos cursos de 1º e 2º graus possuía grande prestígio, as novas gerações não se sentem atraídas pelo magistério. Pelo menos é isso que mostram os dados do Boletim de Conjuntura Econômica Regional do Oeste do Paraná com o tema Educação, lançado pelo Observatório Territorial do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD), que reúne a Itaipu Binacional e outras 60 instituições da região.

De acordo com o levantamento dos dados divulgados no início deste mês, dentre os 11 municípios analisados pela reportagem de O Presente, somente um apresentou alta na procura pelo curso profissionalizante que prepara professores para atuarem nas primeiras séries da educação básica. 

Com 23,81% de alta nas matrículas do magistério, também chamado de “normal superior”, Guaíra é a única cidade que acumula alta entre os municípios de Entre Rios do Oeste, Marechal Cândido Rondon, Maripá, Mercedes, Missal, Nova Santa Rosa, Palotina, Quatro Pontes, Santa Helena, Toledo.

Nos demais, o número de matrículas vem em uma crescente queda e em alguns deles o curso sequer existe, o que pode representar uma subsequente desvalorização da carreira.

Números não condizem

Apesar de os dados divulgados pelo boletim apontarem que Marechal Cândido Rondon teve uma brusca queda nas matrículas para formação de professores na modalidade do magistério, representando -37,50% entre 2012 e 2016, os números do Curso de Formação de Docentes do Colégio Estadual Eron Domingues, única instituição que oferta o curso no município, não condizem com a pesquisa.

O Boletim de Conjuntura Econômica Regional do Oeste do Paraná, que tem como fonte de dados o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apontam que, em 2016, houve 105 matrículas no magistério em Marechal Rondon. Por outro lado, as informações do Curso de Formação de Docentes são de que, no ano passado, havia pelo menos 125 estudantes matriculados na instituição, divididos nas quatro turmas existentes.

Para a diretora auxiliar do Colégio Estadual Eron Domingues, Lisane Rheinheimer, e as coordenadoras do Curso de Formação de Docentes, Mirna Zenker Johansson Wissmann e Andréia Eggers, os números não são fidedignos, pois não estão de acordo com a realidade do município, já que no âmbito da educação profissional a única instituição que oferta o magistério é o Colégio Eron Domingues.

Outras instituições ofertam cursos técnicos de nível pós-médio, como técnico em Enfermagem e em Segurança do Trabalho, todavia, com base nos dados divulgados no boletim, estes estariam na categoria “com Ensino Médio concluído”, que tiveram alta nas matrículas de 36,80% entre 2012 e 2016. “Atualmente estamos com as inscrições abertas para uma nova turma, que encerram nesta quarta-feira (08), e já temos 59 alunos inscritos para 35 vagas. Isso representa claramente que a procura é superior à oferta, então essa não é a realidade local”, aponta Lisane.

Da turma de 35 alunos que ingressou no curso profissional há quatro anos, 28 concluirão o magistério em 2017, porém, ela explica que alguns foram transferidos para outros municípios, sendo que muitos se mantiveram em cursos de formação de docentes. “No âmbito do Núcleo Regional de Toledo, somos uma das instituições que mais mantém os alunos durante a formação”, reafirma Andréia.

Futuros professores?

As profissionais avaliam que, em média, 50% dos concluintes do magistério não seguem a carreira na área da licenciatura, mesmo tendo atuado em Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) ou escolas de Ensino Fundamental no decorrer do curso. “Entretanto, quem tem o magistério e parte para a graduação em alguma outra área possui mais habilidades, maiores competências desenvolvidas, como oratória, organização dos trabalhos, metodologia cientifica, entre outros aspectos”, enfatiza Mirna.

Apesar de o objetivo principal do magistério ser formar professores, nem sempre os estudantes que saem do Ensino Fundamental e partem para o magistério têm o foco em atuar na sala de aula. “A busca primeira é pelo emprego, porque eles querem uma formação profissional, então buscam a formação de docente até porque sabem que poderão trabalhar a partir dos 16 anos e com um bom salário para quatro horas de jornada”, observa Andréia.

Muitos outros, de acordo com Mirna, encaram o magistério por incentivo da família, já que trazem no histórico pais, avós ou tias que são educadores. “Essa influência é somada à consistência do curso e às características que ele apresenta. Alguns não vêm com a mentalidade de ‘eu quero ser professor’, mas ao longo do curso desenvolvem esse gostar pelas atividades que se envolvem, e quando começam a aliar a teoria à prática veem a profissão como uma possibilidade”, pontua.

A professora enfatiza, contudo, que mesmo os estudantes que buscam graduações em outras áreas têm o aproveitamento dos diferenciais do magistério. “Alguém que quer cursar Odontologia, por exemplo, pode se voltar para a área da odontopediatria, porque o curso de formação de docentes possibilita a base de formação para lidar com crianças, a questão do desenvolvimento infantil, psicologia infantil. Muitas coisas que são possíveis de utilizar em diferentes áreas que o jovem vá atuar no futuro”, declara. 

O magistério, complementa Andréia, garante aos futuros profissionais uma preparação em todos os sentidos e, na visão da professora, todos os profissionais deveriam ter essa formação. “Eles amadurecem mais, são mais responsáveis, aprendem a trabalhar em equipe até porque o curso oferta muitos projetos. Desenvolvem a criatividade, organização, aprendem a trabalhar e organizar-se coletivamente, e isso é algo que falta em todas as áreas de atuação hoje”, considera.

Confira a matéria completa na edição impressa desta terça-feira (07).

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