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Paraná

Potencial não desenvolvido

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Diante do estabelecimento do leito do novo rio na região, famílias passaram a procurar outros locais para morar e os municípios, vilas e distritos a se acostumar com suas novas formas.

Desde que a Itaipu Binacional passou a funcionar plenamente, outras iniciativas também passaram a fazer parte de seu planejamento, envolvendo os municípios atingidos pela sua construção, como forma de fomentar o desenvolvimento econômico, turístico e socioambiental da região.

Entretanto, a esperança das comunidades ribeirinhas que tiveram expectativas voltadas principalmente de uma fonte de renda tanto por meio da pesca quanto pelo do turismo projetados para o Lago de Itaipu ainda aguardam, 35 anos depois, os “anos de ouro” que seriam proporcionados pelo reservatório.

O empresário Lauro Biesdorf vive no distrito rondonense de Porto Mendes desde 1972 e lembra que na época em que os técnicos da Usina Hidrelétrica começaram a chegar na pequena vila, dizia que queria ver mesmo se a água iria chegar naquela cota que eles haviam calculado. “E veio exatamente naquela cota. Todo dia nós íamos até na barranca do rio olhar quantos metros ela subia por dia”, relembra.

Pouco tempo depois que o Lago de Itaipu se estabeleceu, ele viu no balneário criado artificialmente a oportunidade de renda para sua família, por isso estabeleceu uma lanchonete à beira da praia. Há 31 anos contados desde que abiu sua empresa, Lauro viu Porto Mendes se transformar. Viu a água do Lago chegar até a cota, viu construções, mata e lavoura irem para baixo d’água e viu a população da Costa Oeste se deleitar nos primeiros anos com a novidade das prainhas. “Mas o turismo não chegou nem perto do que foi projetado. Em população, Porto Mendes perdeu mais que 30%. Tínhamos seis escolas no interior e hoje temos uma estadual e uma municipal só na sede. Várias pessoas também investiram aqui na vila achando que o turismo seria tudo o que projetavam, mas viram que não era tudo aquilo e alguns fecharam as portas”, diz.

Apesar dos clientes fiéis que durante a semana passam pelo restaurante, o grande fluxo de clientes recebidos por Lauro é durante a temporada de verão, que ajuda a fomentar o comércio local. “Hoje de Foz do Iguaçu a Guaíra a única lanchonete que está de pé ainda é a nossa, servindo café da manhã e almoço”, enfatiza.

Lauro opina que a chegada de Itaipu para o Oeste paranaense foi bom para a geração de energia e continua sendo até hoje, porém, as prainhas sofrem com a falta de investimentos que proporcionem melhores estruturas e atraiam mais pessoas para fomentar a economia local. “É preciso um investimento maciço nas estruturas de camping e na manutenção disso, para que seja feita a cobrança o ano inteiro, proporcionando o custeio de tudo isso, já que são os municípios que precisam arcar com a manutenção de todas essas estruturas e muitas vezes não dão conta”, entende. 

 Integração

Para tentar transformar esta realidade, estimulando o desenvolvimento do turismo sustentável, em 1990 os 16 municípios banhados pelo Lago de Itaipu fundaram, em parceria com a Itaipu Binacional, o Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu.

A atual presidente da entidade, prefeita de Mercedes, Cleci Loffi, analisa que apesar da perda da área produtiva que foi alagada na região, ao elencar os pontos positivos e negativos do estabelecimento do Lago de Itaipu, prevalecem os positivos. “O Lago projetou a nossa região para o mundo todo. O Brasil hoje é referência na parte de geração de energia elétrica por conta da Itaipu Binacional e pelos 16 municípios também, que tiveram as suas áreas encobertas por água para formar o reservatório e consequentemente a barragem, possibilitando a produção de energia”, menciona. “Além disso, toda a área de terra que foi encoberta está sendo compensada com o repasse dos royalties”, complementa.

Cleci salienta que as expectativas projetadas acerca do turismo e da produção pesqueira, na visão dela, foram muito estimuladas no início do projeto para que as iniciativas dessem certo. “O que eu percebo agora é que, com o passar do tempo, as coisas estão perdendo o encanto para os olhos das pessoas, principalmente na parte do turismo”, pontua.

Por alguns municípios possuírem áreas muito extensas, locais onde foram construídas as praias artificiais, há dificuldade do Poder Público manter uma estrutura boa para que o turismo possa ocorrer nessas cidades. “Na questão pesqueira, diversos projetos a própria Itaipu desenvolveu junto aos municípios lindeiros, com os próprios pescadores locais, permitindo que algumas famílias sobrevivessem por muitos anos apenas da pesca”, menciona.

Por outro lado, a presidente do Conselho observa que o país passou por um momento em que muitos dos pescadores tiveram a oportunidade de melhorar sua condição de vida, deixando de ter a pesca como sua principal atividade. “Não podemos culpar a barragem, o alagamento pela redução do número de pescadores artesanais”, diz. “Na questão turística também a estrutura está disponível, foi repassada aos municípios, tem um potencial muito grande, tem um número de visitação expressivo, mas a dificuldade hoje é o alto custo para manter essas estruturas”, ressalta.

Cleci diz que hoje a principal cobrança dos municípios é justamente pelo custo de manutenção dos balneários, que muitas vezes é inviabilizado por ser de total responsabilidade das prefeituras. “Mas a Itaipu já está tendo uma visão diferente em relação a isso, tanto é que fez a revisão dos termos de cessão de uso e estará cedendo as áreas para cada município de acordo com a necessidade de cada um, possibilitando a exploração de empresas terceirizadas, por exemplo”, pondera.

Divisor de águas

Emancipado em 1993, Entre Rios do Oeste era apenas um distrito na época do estabelecimento do Lago de Itaipu, porém, da mesma forma que os outros municípios, foi impactado quando o rio tomou conta das áreas de terra. Todavia, o prefeito do município, Jones Heiden, considera que o surgimento do Lago foi um divisor de águas para Entre Rios do Oeste. “O número de habitantes diminuiu e perdemos as áreas produtivas, mas que são compensadas pelo repasse dos royalties, contudo, o Lago para nós, que somos um município novo, teve um peso muito significativo e trouxe muita transformação”, avalia.

Mesmo que o potencial turístico e pesqueiro não tenha alcançado a expectativa projetada no passado, o Lago de Itaipu atrai uma quantidade significativa de pescadores e veranistas para a cidade, o que, expõe Heiden, fomenta fortemente o comércio local, gerando impostos, renda e oportunidades de emprego para quem vive no município. “Por dois anos interditamos o balneário para reformas e quando reabrimos, empresários que não davam importância para o Lago sentiram grande diferença com a volta do público que vem para a cidade por conta do balneário”, enaltece.

No período da temporada, pondera o prefeito, o impacto é ainda maior para supermercados, postos de combustíveis, farmácias, panificadoras, lojas de varejo, entre outras empresas que são procuradas pelos turistas. “Para muitas empresas esses quatro meses de verão são muito significativos e esperados o ano todo”, frisa. “Entre Rios talvez hoje é o que é hoje por conta do Lago e talvez o projeto inicial do turismo ainda não deu certo da forma como foi projetado, mas ainda pode acontecer e lá na frente poderemos colher frutos. Vejo que muitas coisas dependem de quebra de paradigmas da questão cultural das pessoas”, conclui Heiden.

Confira a matéria completa na edição impressa desta sexta-feira (13).

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