Fale com a gente

Paraná Entrevista ao Pitoco

“Salário não é vergonha”, afirma diretor da Unioeste

Publicado

em

Alexandre Webber: setores críticos da Unioeste não abriram canais ao diálogo (Foto: Vanderson Faria)

 

Alexandre Webber era líder estudantil da Unioeste no início do novo milênio. Graduou-se em Odontologia e rapidinho vestiu o jaleco de professor. Ainda embalado nos reclames dos estudantes, foi advertido na reunião do colegiado: “Você agora é professor, Alexandre. Não é mais estudante! Porte-se como tal”.

A historieta foi relatada pelo próprio Webber no Café com Pitoco, cujos principais trechos estão aqui reproduzidos. Faz sete anos e meio que o ex-líder estudantil é diretor do maior campus da Unioeste, o de Cascavel, e vislumbra a cadeira do Cascá, em eleição para a reitoria que acontece no segundo semestre de 2019.

Aqui ele busca desmistificar a universidade como ninho de marajás fartamente comissionados, nomeados por influência política. E defende o salário do professor: “Salário não é vergonha”. Segundo o diretor, o campus de Cascavel vive tempos de penúria, e a administração “luta há dois anos para não fechar a Unioeste”.

 

O início

Recém-investido da condição de professor, os alunos pediram para eu me candidatar a coordenador do Curso de Odontologia. Permaneci quatro anos na coordenação. Recebia R$ 800 a mais para ocupar o cargo. Implantei a Clínica de Odontologia o Centro de Especialidades Odontológicas, mas não me afastei da sala de aula, embora pudesse abrir mão de 50% da carga horária.

 

Vacas magras I

Em 2010 fui desafiado a disputar a direção do campus de Cascavel, o maior da instituição, que representa 35% da Unioeste. Fui eleito com 63% dos votos, embora disputasse com dois professores experientes. Na eleição seguinte, fui candidato único. Não porque eu fosse um candidato imbatível, mas, sim, porque os possíveis concorrentes perceberam o que estava para vir. Não há nada tão ruim que não possa piorar.

 

Vacas magras II

Luto há dois anos para não fechar a Unioeste. É duro quando os críticos não lidam com os números reais. Disseram que o custeio da universidade é de R$ 60 milhões. Dizer isso é um desserviço. Venham conhecer os números. O custeio, ano passado, foi de R$ 13 milhões, agora é de R$ 9 milhões. O do campus de Cascavel é de R$ 1,5 milhão. Somente com zeladoras terceirizadas que eu precisaria ter aqui, o custo seria de R$ 1,2 milhão.

 

Orçamento preso

Tenho agora menos recursos que tínhamos em 1996, quando estávamos naqueles blocos antigos. De 19 coordenações de cursos, 17 são tocadas por estagiários. A limpeza e manutenção está sendo feita com presidiários do regime semiaberto, em troca de redução de pena. Temos R$ 600 mil bloqueados no SUS e não podemos emitir um empenho de R$ 170 mil para órteses e próteses a pacientes atendidos aqui.

 

20 anos de existência

Se tem problemas na gestão, vamos corrigir os defeitos. Mas não estraguem tudo o que foi construído. Atendemos mais de 150 pacientes por dia na Odontologia. Administramos, proporcionalmente, o maior hospital universitário do Paraná. A Unioeste tem apenas 20 anos. É muito pouco para uma universidade chegar onde chegou. É a 33ª do país e está entre as 40 melhores do Brasil na pós-graduação.

 

Parceiros privados

Não somos concorrentes das faculdades privadas. Não podemos ser olhados assim. Boa parte dos professores das privadas fez doutorado e mestrado na Unioeste. Antes, as faculdades privadas traziam professores de Curitiba e São Paulo. A Unioeste não concorre, é parceira. Temos parcerias com instituições privadas.

 

IDH baixo

Temos sete universidades estaduais no Paraná. As regiões que figuram fora da abrangência destas instituições estão entre os menores IDHs do Estado. As universidades são molas propulsoras do desenvolvimento. Para cada real injetado, as universidades geram 2,1 reais para a sociedade.

 

Revisão de cargos

O resultado de um ano de auditoria do Tribunal de Contas na Unioeste concluiu que os cargos ocupados estavam previstos em decretos baixados pelo próprio Estado. Se há algum excesso em cargos comissionados de indicação externa, é preciso rever. Eu não faria algumas nomeações, pois estamos carentes de recursos humanos em outras áreas.

 

Quadro enxuto

No campus que dirijo não há excessos, pelo contrário. Um ano atrás o governo mandou cortar 140 cargos. Eu não tenho funcionários, está aberto para quem quiser ver. Tirei a chefia da segurança para poder manter o chefe do financeiro. Tenho um efetivo só no financeiro, um apenas na licitação e somente um engenheiro para tocar R$ 40 milhões em obras em Francisco Beltrão e no HU.

 

Sem voz

Se tem político nomeando gente, não sei quem é. Se tem tudo isso, não acredito. Se esta prática existe, é preciso blindar a universidade de nomeações políticas. Para isso, é preciso que a sociedade se envolva mais e ajude nisso, as pressões não são fáceis… Já me dispus a explicar os números da Unioeste, mas alguns setores críticos não quiseram nos ouvir.

 

Problemas existem

Meu sonho, quando estudante, era ser professor da Unioeste. Agora sonhamos que a nossa universidade seja reconhecida na região, da mesma forma que é reconhecida no Brasil. Tem problemas? Sim, tem, como tem problemas na gestão de empresas privadas e até mesmo no ambiente familiar.

 

Pesquisa tem custos

Vale lembrar que as universidades públicas desenvolvem 99% das pesquisas no país. Até em razão disso, elas têm custos mais elevados. Uma residência em neurologia é extremamente cara e leva quatro anos para concluir a formação do profissional. Porém, mais caro para a sociedade é não ter este profissional formado e à disposição.

 

Eleições 2019

No próximo ano teremos eleição para a reitoria da Unioeste. Possivelmente, pela condição que construímos, eu seja candidato. Espero que este ambiente polarizado não contamine a eleição. Para provar que sou bom, não preciso dizer que o Zonin, meu eventual concorrente, é um cara ruim. De toda forma, não é esta a minha preocupação neste momento.

 

Emendas parlamentares

Minha relação com os políticos é transparente. Fui a Brasília pedir emendas parlamentares para a Unioeste. Falei com o Frangão e disse: “Você foi acadêmico nosso, peço para a universidade a mesma atenção que você dá para a Uopeccan. Assim também conversei com os deputados federais Giacobo, Kaefer e Roman. Que contrapartida ofereci? Divulgação das emendas deles. Fizemos um jornal interno para divulgar.

 

Salário I

Há quem ache um absurdo um professor doutor chegar ao final da carreira ganhando R$ 25 mil, ou o plantonista chegando a R$ 30 mil. Mas não se assustam com um superintendente do Banco do Brasil, cuja exigência é a graduação em Administração, chegar com R$ 24 mil. Ou um médico da rede privada ganhar R$ 60 mil.

 

Salário II

Salário não é vergonha. Não me envergonho do meu salário de R$ 27 mil. Pago 11% de previdência e 27% de imposto de renda. Sou professor com especialização, mestrado e doutorado. Continuo dando aula, sou diretor do maior campus da Unioeste e ainda faço plantão atendendo na Penitenciária.

 

O Pitoco

 

 

Copyright © 2017 O Presente