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Paraná

Tarde demais

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Há pelo menos dez anos o Oeste do Paraná não sofria com um tempo tão seco no inverno. Durante todo o mês de julho, na região de Marechal Cândido Rondon, a precipitação pluviométrica não atingiu um acumulado superior a dois milímetros, sendo que em diversos locais sequer caiu um pingo de chuva. Não são apenas os bombeiros que sentiram os efeitos do clima com as queimadas recorrentes. Existem outras pessoas que também amargam preocupações: os triticultores.

Agosto chegou e com o novo mês vieram finalmente as chuvas. Contudo, não a tempo suficiente de diminuir para todos os prejuízos. Este é o caso do produtor rondonense Wilson Luiz Albrecht, que cultivou quatro alqueires de trigo no distrito de Bom Jardim. “Optei neste ano pelo trigo porque ano passado plantei mandioca e queria uma cultura para fazer a cobertura e evitar a erosão. Me arrependi, porque deu prejuízo. Não vou mais plantar trigo. O preço está ruim e não viabiliza”, declarou ao Jornal O Presente.

Ele, inclusive, já fez o encaminhamento para solicitar o seguro Proagro. “O prejuízo é de praticamente 100%. Nem a chuva resolveu ou amenizou a situação, porque o prejuízo já é certo”, lamenta.

Embora a área ocupada no Paraná seja muito pequena em comparação com o milho safrinha, mas assim como Albrecht, inúmeros outros produtores que optaram em fazer o cultivo de trigo no inverno não andam animados. Segundo levantamento da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), na Regional de Toledo, que possui 17.420 hectares cultivados com a cultura, o que representa 2% do total no Paraná, em 40% da área (6.968 ha) a produção é considerada de média qualidade, em 30% (5.226 ha) ruim e em outros 30% boa.

“A perda maior será por conta da seca. A geada foi um fator a mais, mas não o mais importante e o mais grave. Isto porque havia pouquíssima umidade de solo e de planta, e não chegou a causar o congelamento para provocar perdas. Claro que haverá perdas por conta da geada, sem dúvida, mas o maior agravante é a seca”, enfatiza a engenheira agrônoma do Departamento de Economia Rural (Deral) de Toledo, órgão ligado à Seab, Jean Marie Ferrarini.

De acordo com ela, as perdas ainda não estão consolidadas porque a maior parte da cultura está em fase de floração (60%) e frutificação (35%). “Ainda tem um tempo pela frente, sendo que a colheita é em setembro”, comenta. Porém, ela enfatiza que ainda antes da geada a produção já não vinha se desenvolvendo bem, inclusive com o aparecimento de doenças e deficiências. “Já faltava umidade e chuva. A safra tem sido um pouco atípica porque a secura é normalmente esperada para o mês de agosto, mas não em julho. Possivelmente boa parte deste trigo, para nós (Regional de Toledo), vai virar triguilho”, aponta.

 

 Incerteza

Conforme Hugo Godinho, da Seab, as lavouras de trigo paranaenses tiveram problemas com o clima seco depois do excesso de chuvas em junho. Ele lembra que desde o primeiro decêndio de junho até julho não houve chuvas expressivas em nenhuma região produtora do Estado, o que afeta o potencial das lavouras, reforçando que posteriormente ainda houve geadas. “No levantamento de julho, a estimativa de quebra é de 6% da safra devido a estas adversidades, reduzindo a produção projetada a 2,8 milhões de toneladas. Cabe salientar que para este levantamento ainda há muitas dúvidas quanto à extensão dos prejuízos, especialmente os relativos às geadas”, observa.

 

Preços

Godinho explica que os preços continuam sendo uma preocupação para os produtores, pois os problemas climáticos não tiveram um efeito significativo nas cotações, que continuam abaixo do custo variável. “Mesmo projeções de uma safra mundial mais limitada que a do ano anterior não afetaram os preços internamente até este momento, pois o trigo nacional acompanha as cotações argentinas mais do que as cotações americanas. No país vizinho os valores do trigo estão, atualmente, abaixo dos praticados no mesmo período do ano anterior”, conclui.

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