Hoje é o Dia Internacional da Mulher e queria primeiramente parabenizar todas as mulheres. Bebam e sejam felizes!
O tema desta vez não é somente vinhos, mas uma coleção de fatos interessantíssimos sobre a história das bebidas e a participação da mulher nela, claro que de forma breve, porque é um tema longo.
Até pouco tempo atrás o mercado de bebidas era bastante masculino, e acredito que ainda é, mas bem menos do que já foi.
Você sabia que as mulheres foram muito importantes na elaboração da maioria das bebidas alcoólicas?
Cervejeiras, inventoras e destiladoras.
A história das mulheres e do álcool é longa e fascinante.
Na antiguidade, por volta de 4000 a.C., acredita-se que a cerveja foi inventada por mulheres. Do Egito ao Peru e à Holanda, as mulheres fermentavam a cevada para fazer a bebida, cada uma com suas próprias receitas especiais e níveis de popularidade.
Inclusive, eram donas de tabernas na antiga Suméria, e isso está escrito no próprio código de Hamurabi, no qual cita TABERNEIRAS no feminino mesmo.
Os egípcios e os sumérios tinham suas DEUSAS de cerveja, Tenenit e Ninkasi, respectivamente, e que eram muito adoradas. A fabricação da cerveja era algo relacionado à mulher.
Por outro lado, nas sociedades gregas e romanas, a mulher, por não ser considerada cidadã, não podia beber vinho!
A história fica ainda mais bizarra para nossos olhos hoje ao lermos que as mulheres eram proibidas de entrarem em adegas, pois acreditava-se que elas faziam o vinho estragar!
De alguma forma, acreditavam que a sexualidade feminina e o sangue da videira não combinavam. Mulheres somente serviriam o vinho.
Na Idade Média, as mulheres também eram responsáveis pela elaboração de cerveja para seus lares, na verdade era esperado que a esposa cozinhasse, limpasse, cuidasse das crianças, fizesse a cerveja e ainda fiasse (coitada!).
A cerveja era considerada um alimento, e quando a produção era maior que o consumo da casa, o que sobrava era vendido.
Elas costumavam usar chapéus pontudos nas feiras para que fossem identificadas com mais facilidade e transportavam sua cerveja em caldeirões. Era uma forma de trazer renda extra para a família.
Essa época também foi um período muito sombrio, no qual muitas pessoas foram perseguidas acusadas de bruxaria, e muitas cervejeiras foram cruelmente mortas durante as inquisições, além de serem proibidas de venderem suas cervejas.
Por inveja ou competição, muitas mulheres foram falsamente acusadas de vender poções em seus caldeirões, ao invés de cerveja.
E com essas proibições, o mercado cervejeiro foi dominado pelos homens.
A cerveja antigamente estragava em um ou dois dias; o que aumentou o tempo de conservação dela foi a adição do lúpulo. Foi uma grande revolução, e acredita-se que tenha sido ideia de uma mulher.
Por volta do século IV (400) d.C foi criado um dos primeiros aparelhos de destilação, o alambique, que é usado para a elaboração de muitos destilados, como a cachaça, whisky entre outros. O inventor creditado foi uma alquimista chamada Maria Hebraea, que viveu em Alexandria entre os séculos I e III, e que é considerada a primeira verdadeira alquimista do mundo ocidental.
Do outro lado do globo, na China, Yi Di, esposa de Yu, o Grande, foi creditada por fazer o primeiro álcool a partir de grãos de arroz.
A elaboração de vinhos, na maioria das vezes, é algo familiar, então a mulher esteve presente principalmente na forma de matriarca da família.

Mas os vinhos espumantes que conhecemos hoje se devem, em parte, à Viúva Clicquot, da Casa de Champanhe Veuve Clicquot. Ela desenvolveu um método chamado remuage, que consiste em deixar as garrafas de espumante de cabeça para baixo para eliminar resíduos acumulados durante a segunda fermentação. Dessa forma, conseguimos um vinho cristalino. E esse processo é utilizado até hoje em vinhos feitos pelo método tradicional (champenoise).
Na história um pouco mais recente, durante a Lei Seca, um grande fracasso que proibiu a produção, comercialização e transporte de bebidas nos Estados Unidos durante os anos 20, muitas mulheres foram grandes destiladoras e contrabandistas de garrafas.
Outro fato curioso é que por serem proibidas de beberem publicamente ou por ser considerado algo feio, as mulheres foram grandes inventoras de coquetéis, pois estavam acostumadas a beberem em casa fazendo misturas em suas cozinhas.
Se antigamente as mulheres eram proibidas de beber, estudar e até mesmo de trabalhar, depois de muita luta as coisas são diferentes. Apesar de todas as dificuldades impostas, as mulheres nunca deixaram de estar presentes na fabricação de bebidas.
Há muito espaço para se conquistar, mas hoje as mulheres têm forte participação na indústria, são referência no desenvolvimento e pesquisa de produtos. Inclusive, por serem consumidoras mais interessadas, acabam criando e ditando fortes tendências.
Um brinde a todas as mulheres!
Se você tem interesse nesses assuntos aqui estão algumas sugestões:
Uma breve história da bebedeira – Mark Forsyth
Why Did Women Stop Dominating the Beer Industry? – Smithsonian Magazine
Girly Drinks: a world history of women and alcohol – Mallory O’meara
A Viúva Clicquot – Tilar Mazzeo
Leticia Zigiotto
Nasci e cresci em Marechal Cândido Rondon. Sou apaixonada pelo universo dos vinhos e me formei em Enologia pela Universidade Federal do Pampa.
*O enólogo é o profissional que estuda o vinho desde a preparação do solo para o cultivo da videira até a comercialização do vinho pronto. Em geral, conhecemos ele como o encarregado por tomar todas as decisões em relação aos vinhos dentro de uma vinícola.

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