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Arno Kunzler

Discussões periféricas

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Estamos sendo contaminados a debater a urna eletrônica x voto impresso.

Vemos tantas bobagens sendo divulgadas como fatos verdadeiros que parece mais uma guerra de versões e factoides do que discussão de um tema relevante como é o voto para a democracia.

Um dia é a vacina chinesa que está na pauta, outro dia a urna eletrônica e assim vamos perdendo tempo debatendo coisas que não mudam nada nossas vidas.

Só promovem atritos, discussões sem-fim e, às vezes, brigas.

Voto pode ser impresso ou apenas eletrônico, sempre haverá quem possa perturbar um pleito alegando ter sido roubado.

E mais ou menos como pênalti, bola na mão ou mão na bola, é uma discussão interminável.

Mas o que realmente importa não está sendo discutido.

Essa esperteza dos nossos políticos de nos fazer massa de manobra não é de hoje e pelo jeito jamais vai acabar, simplesmente porque permitimos que nos usem.

Enquanto toda nossa energia e sabedoria desagua na discussão pelo voto impresso, o Congresso triplicou a verba eleitoral dos partidos políticos.

Ao invés de discutirmos nossos sistemas político e partidário, promovemos acalorados debates pelo voto impresso, tão inútil quanto discutir qual é a melhor vacina.

Passamos a vida inteira sendo vacinados sem jamais nos perguntar de onde vem a matéria e eliminamos do mapa doenças que matavam aos milhares.

Enquanto discutimos se o voto deve ser impresso ou não, estão, como num passe de mágica, encontrando R$ 6 bilhões de dinheiro público para financiar as campanhas eleitorais.

Ao mesmo tempo, estão encaminhando para votação um projeto de reforma tributária que não foi discutido, nem apresentado para todos os deputados.

Enquanto estamos preocupados com o voto impresso, estamos mergulhando numa inflação que pode passar fácil de dois dígitos e prejudicar enormemente grande parte da sociedade.

Enquanto estamos nos enervando com o voto impresso, não se fala em fim do foro privilegiado, nem da prisão em segunda instância, nem do fim das reeleições, sem contar que a Lava Jato virou munição sem pólvora.

Isso, sim, importa e vai interferir na vida de muitos brasileiros, a maioria com razoáveis perdas.

Mas o que importa é dar ouvidos para essa discussão inútil, se o voto deve ser impresso ou não.

Se antes de palpitar nos preocupássemos um pouco mais sobre o funcionamento da urna eletrônica, poderíamos até contribuir com essa discussão.

Mas o que estamos repercutindo não passa de achismos e palpites sem nenhuma fundamentação técnica.

A urna eletrônica foi desenvolvida no Brasil para acabar com a desconfiança de que as eleições eram manipuladas na contagem dos votos.

E com a urna eletrônica as eleições ficaram infinitamente mais seguras, mais tranquilas e mais ágeis. Não há nada que prove o contrário.

 

Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Editora Amigos

arno@opresente.com.br

 

 

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