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Arno Kunzler

Produtores de outrora

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Onde foram parar os milhares de pequenos agricultores que cultivavam suas lavouras e criavam suínos, vacas leiteiras e galinha caipira?

Milhares de propriedades com quatro ou cinco familiares trabalhando simplesmente foram extintas ao longo das últimas cinco décadas.

Para tudo hoje necessitamos de “escala” para sobreviver.

Os pequenos produtores de leite foram excluídos pelos programas de melhoramento genético e, especialmente, pela necessidade econômica.

Os pequenos produtores de suínos seguiram o mesmo destino. Aliás, leite e suínos estavam próximos, quase sempre produzidos na mesma propriedade.

É assustador quando olhamos os gráficos de cinco décadas sobre a evolução do número de animais produzidos em cada propriedade e a redução do número de propriedades.

O consumidor não quer pagar nenhum centavo a mais pelas coisas que compra no mercado, que, por sinal, já estão quase todas muito caras.

O consumidor exige que a indústria modernize seu sistema de produção para sobreviver.

A indústria exige que seus fornecedores melhorem seu sistema de produção, sob pena de não mais querer o seu produto.

Assim, o número de propriedades que produziam leite e suínos, que há cinco décadas eram contadas em milhares, agora são contadas em dezenas.

E onde foram parar as pessoas que antes produziam, com seus filhos, nas pequenas propriedades?

Quase todos foram morar nas cidades. Os jovens foram estudar e arrumaram bons empregos; os mais velhos foram trabalhar no serviço braçal, que é o que sabiam fazer.

As cidades cresceram, as indústrias ofertaram novos empregos e as famílias, antes rurais, agora são urbanas.

No interior os mais antigos ainda conseguem visualizar alguns chiqueiros virando taperas ao lado de casinhas que abrigavam famílias enormes, também abandonadas.

Às vezes, ainda resistem alguns pés de bergamota ao redor das antigas instalações já em desuso.

Mudamos nossa fotografia rural e urbana e mudamos nosso jeito de produzir e ganhar a vida.

O tempo vai nos dizer se esse processo é saudável ou se nos levará a extremos que nos conduzirão a novas crises.

Com a velocidade que as coisas mudam, é possível que em cinco décadas tudo que estamos fazendo hoje seja completamente ultrapassado.

O que estamos construindo para ser moderno hoje serão as taperas do futuro que os jovens de hoje poderão contemplar com saudosismo visitando os locais por onde andavam quando jovens, adolescentes.

E não há como se afastar do passado, especialmente quem viveu no interior.

Quem pisou na terra que tratou e conviveu com animais quando criança, quem pescou nos pequenos rios de águas limpas.

A vida matuta do campo era cercada de dificuldades, mas ver essa transformação, ainda que para melhorar a vida, é profundamente nostálgico para a maioria dos que hoje representam o passado.

 

Arno Kunzler é jornalista e fundador do Jornal O Presente, da Editora Amigos e da Editora Gralha Azul

arno@opresente.com.br

 

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