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Separadas há mais de 30 anos, mãe e filhas têm reencontro emocionante em Marechal Rondon

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Trinta e cinco anos. Seis histórias diferentes. Um único sentimento. Reencontro de metades que se completam. Por anos as histórias dessas mulheres tomaram outros contornos, mas a vida se encarregou de unir novamente mãe e filhas separadas há mais de 30 anos.

O retrato do momento emoldura um misto de emoções e sentimentos, entre eles medo, saudades, insegurança e, acima de tudo, a alegria. Se até então o destino havia decidido ditar as regras, agora um novo capítulo da vida começa a ser escrito para Francisca de Jesus dos Santos, ou Bete, como ela mesma dizia se chamar desde o momento em que chegou ao Asilo Lar Rosas Unidas, em Marechal Cândido Rondon, no ano de 1985, e que desde então foi adotado como um apelido carinhosos por aqueles que conviveram com ela durante sua trajetória.

Uma mulher com rosto marcado pela passagem da idade, mas com um olhar profundo, talvez misterioso, mas sempre de esperança. Hoje essa é a imagem de Francisca. Mãe de cinco filhas, porém com vínculos abalados, ou até mesmo quebrados, com o tempo, sentiu uma nova chama de fé nascer ao ver de perto o rosto de duas das filhas, Rosely Marques dos Santos e Rosa Marques dos Santos, que não via há 35 anos.

O reencontro marcado pela emoção aconteceu ontem (13) no Asilo Lar Rosas Unidas. A história, no entanto, tem alguns capítulos anteriores que merecem ser lembrados.

 

O início

Francisca chegou ao asilo em 1985, depois te ter sido encontrada vagando pelas ruas do município de São Miguel do Iguaçu. De lá foi levada para o antigo Hospital Filadélfia, onde permaneceu internada, já que até hoje realiza tratamento para esquizofrenia. Quando recebeu alta, ela era uma mulher sem histórico, documentos e sequer tinha para onde ir. Então foi encaminhada ao Lar Rosas Unidas que, à época, estava em funcionamento há cerca de um ano.

“Desde o dia em que entrei no asilo, que já faz oito anos, ela sempre pedia das filhas dela. Antes de eu entrar, a antiga diretora, Jussara, através do que a Bete dizia, conseguiu encontrar a cidade onde ela tinha casado e conseguiu a certidão de casamento. Soube quem era o marido dela e fizeram todos os seus documentos”, conta a assistente social Dirlene Beatriz Behenck Sabatino, que acompanhou um pouco da trajetória de Francisca dentro do asilo.

O fato de Francisca falar e pedir constantemente das filhas fez com que a direção e funcionários do asilo se empenhassem em tentar encontrar alguma pista sobre sua família. “Tentamos de várias formas. Na época, antes de eu entrar, tentaram até mandar carta para o Ratinho para ver se conseguia, mas não dava certo. Tentávamos através das mídias sociais, mas também não dava”, comenta a assistente social.

Quando recebeu alta do antigo Hospital Filadélfia, Francisca era uma mulher sem histórico, documentos e sequer tinha para onde ir. Foi então encaminhada ao Lar Rosas Unidas onde permaneceu até hoje (14) (Foto: Divulgação)

 

Persistência

Foi então que em certo dia, conversando com um membro da diretoria do asilo, Dirlene pediu se poderia ajudar de alguma forma e, com os documentos de Bete, força de vontade e persistência, conseguiu encontrar o nome de uma das filhas, que reside na região metropolitana de Curitiba. “A partir do momento que consegui encontrar o nome dessa filha, decidi entrar em contato com o CRAS [Centro de Referência de Assistência Social]  daquela cidade para ver se de repente essa filha estava escrita nas redes. E estava mesmo. A assistente social de lá me pediu para que eu contasse um pouco da história, foi atrás da filha e viu que realmente era ela”, detalha Dirlene. “A partir disso entramos em contato com elas e fomos conversando. Para elas foi uma surpresa, porque a mais nova achava que a mãe havia falecido, justamente por terem uma história bem comovente, bem triste. Começou a lembrar da mãe, começou a recordar e foi uma emoção muito grande”, acrescenta.

O contato inicial aconteceu em janeiro deste ano e desde então aconteciam tratativas para possibilitar a vinda das filhas para Marechal Rondon reencontrar a mãe e levá-la para casa. “Em contato com as filhas, elas enviam fotos delas e dos netos para a Bete e nós também enviamos fotos dela para elas. Quando a Bete se perdeu, a Rosinha, por exemplo, era uma criança, tinha em torno de cinco anos, e agora ela está uma mulher adulta, então fizemos todo um trabalho com a psicóloga, conversávamos com ela, mostrávamos as fotos e explicávamos que aquelas eram as filhas e os netos dela. Inclusive mandamos revelar e ela colocou as fotos na parede do quarto dela”, menciona a assistente social.

Ontem o dia foi reservado para que elas vivessem o reencontro de forma particular, respeitando o tempo e a intimidade de cada uma. As filhas conheceram um pouco da rotina da mãe no asilo e na madrugada de hoje (14) partiram junto dela para Curitiba.

A comunidade também abraçou a causa de Francisca, inclusive algumas pessoas levaram presentes para ela e outras disponibilizaram carro e motorista para levar ela e as filhas de volta a Curitiba. “Nossa preocupação era deixar Bete ir embora e não saber como elas iriam cuidar porque a vida dela foi dentro do asilo. Então fizemos todo esse trabalho de acompanhamento. A filha que vai ficar com ela é a mais nova, a Rosinha, que mora em uma casa bem pequena, mas as duas filhas dela já se mudaram para um quarto e deixaram o outro para a avó delas. Compraram tudo novo para ela”, revela Dirlene.

Conforme a assistente social, as outras três filhas de Francisca também residem em Curitiba.

Ontem (13) o dia foi reservado para que as filhas vivessem o reencontro com a mãe e conhecessem a rotina dela dentro do asilo (Foto: Divulgação)

 

Gratidão

O sentimento que prevalece para Dirlene é gratidão. “Falamos que a Bete é o nosso xodó. Desde que eu entrei aqui, conseguimos achar três familiares. Também teve outra reportagem feita pelo O Presente em que descobrimos que dois irmãos estavam aqui, juntos, e nem sabíamos. Um desses irmãos, o Arthur, conseguiu achar os filhos e hoje ele está morando com eles”, expõe. “Para nós é uma realização muito grande poder fazer isso porque sabíamos a história dela. Ela tinha se perdido, não tinha sido abandonada pelos filhos. Foi muito gratificante ver a alegria dela, o carinho das meninas nesses dias”, completa.

Francisca e as filhas acompanhadas dos funcionários do Asilo Lar Rosas Unidas (Foto: Divulgação)

 

Atendimento

Atualmente o Asilo Lar Rosas Unidas atende 35 idosos e necessita de doações e da colaboração da comunidade para preservar o atendimento e manter o funcionamento. “Todo mundo sabe que aqui é uma entidade filantrópica. Realmente necessitamos de doações, principalmente leite, porque eles tomam muito, além de ervas e material de limpeza, por exemplo”, ressalta a assistente social.

 

 

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