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Policial Operação Hórus

“Evitamos prejuízo de R$ 260 milhões com bloqueio do Rio Paraná em Guaíra”, revela Sanson

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Gerente da Operação Hórus, tenente-coronel Saulo Sanson, durante visita ao O Presente, na quinta-feira (14): “Em Guaíra tivemos protestos de pessoas criticando esse embate fortíssimo com os cigarros. Mas, sabemos que não é só contrabando, tem toda uma questão de cadeia que faz mal à sociedade e ao tributo brasileiro, pois o lucro com o cigarro é grande e a punição pequena. Temos de combater” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

Assumir a função de gerente da Operação Hórus, que integra o Programa Vigia, desenvolvida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, em Brasília, trouxe uma série de desafios ao tenente-coronel Saulo de Tarso Sanson Silva. O ex-comandante do Batalhão de Polícia de Fronteira (BPFron) visitou na última quinta-feira (14) o Jornal O Presente, quando destacou os trabalhos realizados desde janeiro deste ano para com 11 Unidades Federativas.

Ele frisa que o Programa Vigia possui três eixos: o primeiro é a Operação Hórus com sua parte operacional, enquanto os outros são aquisições de equipamentos e capacitações. Nesta semana, o Ministério da Justiça e Segurança Pública iniciou a implantação do sistema de radiocomunicação digital dentro do Programa Vigia, incluindo seis municípios paranaenses da região de fronteira.

“Nossos resultados são fantásticos, temos apreensões de quase 200 toneladas de drogas. Evitamos prejuízo de mais de R$ 260 milhões ao país com o bloqueio do Rio Paraná em Guaíra. Nós sabemos que passavam 250 lanchas por noite do Paraguai ao Brasil, e com bloqueio desde 15 de abril de 2019 até agora isso acabou, o crime organizado precisa arranjar outras rotas”, enfatiza Sanson.

Na entrevista, o tenente-coronel também falou sobre as mudanças no Ministério da Justiça a partir da saída do ex-ministro Sérgio Moro. Confira.

 

O Presente (OP): O senhor foi para Brasília em janeiro para assumir a gerência da Operação Hórus e lá conviveu com a saída do ministro Sérgio Moro. Como foi a sua ida a Brasília e as mudanças que aconteceram no Ministério?

Saulo Sanson (SS): Fomos para assumir uma função estratégica em Brasília, pois recebemos o convite de coordenar a Operação Hórus no Brasil. A operação faz parte do programa Vigia, cuja palavra significa Vigilância, Integração, Governança, Interoperabilidade e Autonomia, um programa que está consolidado. São três eixos. O primeiro é a Operação Hórus na parte operacional, enquanto os outros são aquisições de equipamentos e capacitações. Temos a intenção de comprar muitos equipamentos aos operadores de fronteira, desde optrônicos, armas, munições e fardamento, um eixo importante e muito ativo. O outro é das capacitações, sendo que teremos 56 cursos após a pandemia do novo coronavírus, projetados para iniciar em todos os Estados da Federação. Este é o Programa Vigia. Nós gerenciamos a Operação Hórus em 11 Estados da Federação, temos fronteira em quase todos, faltando Amapá e Pará, onde estamos em tratativas iniciais. Mas todos os outros Estados, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima, ou seja, há operação em nove, mais dois com divisas, casos de Goiás e Tocantins. É uma operação de vigilância permanente. Começamos aqui em 15 de abril de 2019 com o BPFron e a Polícia Federal de Guaíra.

 

OP: O programa tem sido destaque no Brasil. Houve aumento significativo de apreensões em toda a região de fronteira durante esse período. Há dados em relação às apreensões?

SS: Plantamos algo importante, que é essa integração dos órgãos. Não temos um protagonista, mas várias forças: polícias Militar, Civil, Federal, Rodoviária Federal, Receita Federal, guardas municipais que vão entrar na sequência, e Exército, Marinha e Aeronáutica na Defesa. Os órgãos estão se integrando e participando de um esforço coletivo, coordenados pelo Ministério da Justiça. Nossos resultados são fantásticos. Temos apreensões que mudam a cada 20 minutos, e até quarta-feira eram quase 200 toneladas de drogas. Isso é um baque, um prejuízo significativo às organizações criminosas do país. Devido à vigilância nas fronteiras, o Programa Vigia evitou prejuízo de mais de R$ 260 milhões em impostos ao país com o bloqueio do Rio Paraná em Guaíra. O prejuízo às organizações criminosas foi da ordem de R$ 770 milhões. Nós sabemos que passavam 250 lanchas por noite do Paraguai ao Brasil, e com bloqueio desde 15 de abril de 2019 até agora isso acabou. O crime organizado precisa arranjar outras rotas. Estamos articulando forças públicas para prender esses criminosos.

 

OP: O senhor diria que antes isso não era possível porque não havia essa integração entre as forças policiais?

SS: Sempre digo que havia o esforço para a integração. Comparo com uma orquestra. Os músicos estavam no terreno tocando seu instrumento, PM, Polícia Civil e Federal, cada um com seu instrumento, mas faltava um regente para essa orquestra. É estratégico, delicado mexer com interagências. Isso precisa de coordenação, pois são muitas questões de autonomia, e nós não mexemos com isso porque cada instituição tem sua autonomia. Não querem saber o que acontece com BPFron, com PF; cada um possui autonomia total. Fazemos um programa de coordenação e esse regente hoje é o Ministério da Justiça, que coordena e estimula essa integração. Então, as unidades que participam recebem investimento em Brasília e precisam estar integradas. O esforço de integração dá esse resultado.

 

OP: Há preocupação do Ministério com o pós-apreensão de drogas? Gerar prejuízo aos bandidos, em tese, desencadeia um processo de diminuição de renda às pessoas que trabalham para o crime organizado.

SS: O Programa Vigia não é só apreensão, é mudança de ambiente. Temos o programa que é volátil, incerto e ambíguo. Sabemos que o crime atua e chama pessoas para trabalhar e fazer transporte das drogas, e uma parte da sociedade participa, então temos de mudar esse ambiente. Em Guaíra tivemos protestos de pessoas ano passado criticando esse embate fortíssimo com os cigarros. Mas, sabemos que não é só contrabando, tem toda uma questão de cadeia que faz mal à sociedade e ao tributo brasileiro, pois o lucro com o cigarro é grande e a punição pequena. Temos de combater. Existem entrevistas de pessoas que antes não podiam passar com seus barcos no Rio Paraná e hoje há mudança de ambiente e essas pessoas podem pescar e passear.

 

OP: Existe algum risco da Operação Hórus e do Programa Vigia sofrerem descontinuidade com as mudanças recentes no Ministério da Justiça?

SS: Não. É um programa que está em nível de presidência da República. Fizemos uma apresentação do Programa Vigia ao presidente e ele entendeu a estratégia, que é trabalhar na fronteira. Nunca no país tivemos um programa voltado permanentemente. Começamos em 15 de abril e estamos ampliando, trazendo mais órgãos.

 

(Foto: Arte/O Presente)

 

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