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A eleição do ano que vem vai ser totalmente diferente, avalia Elio Rusch

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Joni Lang/OP

Deputado estadual Elio Rusch: É lógico que há muita cobrança por parte de amigos, prefeitos e lideranças para que eu possa postular um outro cargo, mas em princípio eu devo ir para a reeleição de novo

 

 

Deputado estadual ocupando o sétimo mandato consecutivo na Assembleia Legislativa do Paraná, Elio Lino Rusch (DEM) é considerado um dos políticos mais experientes do Estado. Ele já foi presidente estadual do Democratas, líder da oposição no governo Roberto Requião (PMDB) e é um dos principais aliados do governador Beto Richa (PSDB). Em entrevista ao Jornal O Presente, o parlamentar analisa o atual panorama político nacional, estadual e regional.

Rusch destaca que as medidas do ajuste fiscal e administrativo propostas por Beto Richa no fim do primeiro mandato hoje são melhor compreendidas pela população, devido à capacidade de investimentos que o Estado possui. O democrata revela que deve concorrer a mais um mandato de deputado estadual e menciona que a sede própria do Batalhão de Polícia de Fronteira (BPFron) pode ser edificada neste ano. Ele comenta ainda sobre a construção do Contorno Oeste que o município de Marechal Cândido Rondon deve ser contemplado. Confira.

 

O Presente (OP): A delação premiada dos mais de 80 executivos da Odebrecht movimentou o cenário político brasileiro, o que revela que a democracia brasileira precisa de reformas urgentes para que se separe os políticos que querem fazer política republicana daqueles que querem fazer política em benefício próprio. Como o senhor vê esta situação?

Elio Rusch (ER): Eu acho que é estarrecedor. Isso já foi levantado há muito tempo, começou com os anões do orçamento, depois veio para a Lava Jato e acredito que não termine por aqui. Eu acho que mais pessoas serão envolvidas. Considero importante esta fiscalização e que sejam apurados todos os fatos, mas não se pode condenar ninguém sem que haja o direito à sua defesa e que efetivamente fique comprovado que a pessoa tenha praticado ato ilícito. É vergonhoso. Nós não temos dinheiro para a saúde, o Brasil não tem dinheiro para infraestrutura, não encontra recursos suficientes para segurança pública, nem para as questões sociais, e quando você liga a televisão ou acompanha grandes redes de comunicação vê esses desvios que somam milhões. Se fala em milhões como nós falamos aqui em reais. Quem efetivamente praticou esses atos tem que ser penalizado de acordo com a lei e espero que o Brasil possa viver momentos de fazer uma política pura como já se fez no passado. Nós vamos passar o Brasil a limpo, a Lava Jato está prestando um grande serviço. Eu vejo que há necessidade sim de apurar todos os fatos e dar oportunidade para que a pessoa possa fazer a sua defesa. Mas os recursos desviados devem ser devolvidos e as pessoas que cometeram esses atos devem ser responsabilizadas.

 

OP: Nos últimos tempos tentou-se inúmeras vezes fazer reformas partidárias, eleitorais entre outras. O senhor acredita que a atual estrutura partidária e eleitoral do Brasil é responsável por esta situação?

ER: Em grande parte sim, porque não é possível conviver hoje no Brasil com quase 40 partidos. Dos partidos que existem 28 têm representação no Senado ou na Câmara Federal. Temos 36 partidos legalizados e mais de dezenas pedindo o seu registro. O governo precisa ter apoio no Congresso e para isso acontecem essas coisas no Brasil, o toma lá dá cá, e você não pode limitar o número de partidos. Eu espero que possamos viver a reforma política e partidária.

 

OP: O senhor é líder estadual do Democratas no Estado e já falou em uma base de reformas que o seu partido endossa nacionalmente. Quais são as principais mudanças que o senhor imagina que devam acontecer a curto prazo?

ER: Em primeiro lugar devemos ter a cláusula de barreira, porque se um partido não tiver 3% no mínimo de representação no Congresso ele deveria ser extinto. Eu acho que o conveniente deveria ser 5%, e não adianta ter 5%, 10% ou 15% da representação se não tiver também 3% ou 5% em 12 ou 15 Estados da Federação. Portanto, são diversos critérios que devem ser adotados, os quais, automaticamente, acabarão limitando o número de partidos. Em um segundo momento proibir a coligação na proporcional, porque se quiser ter partidos você precisa ter candidaturas em todos os níveis. E a terceira questão que eu defendo é a unificação das eleições: ter uma eleição geral de cinco em cinco anos e sem reeleição para o Executivo, para aí sim moralizar a classe política e, principalmente, os eleitores, e nós sairmos dessa onda. Hoje é muito difícil administrar um município porque tem a eleição de prefeito. Ele leva um ano para formar sua equipe e no outro já tem eleições, aí ele fica impedido de fazer convênios, passa este ano aí vem um novo governo no Estado e depois já vem a eleição para prefeito novamente. Uma eleição de cinco em cinco anos seria o ideal para o Brasil.

 

OP: O senhor também entende que o sistema de financiamento de campanha da forma como está é criado para a Justiça fazer de conta que fiscaliza e os políticos fazerem de conta que prestam contas?

ER: Eu acredito que se nós fizermos uma reforma política, proibirmos as eleições na proporcional, além da proibição que existe da empresa financiar uma campanha, pois o único dinheiro que pode ser usado é o do fundo partidário para a campanha, eu quero ver como as pessoas no ano que vem vão fazer eleição para o Governo do Estado e presidente da República se só podem usar dinheiro do fundo partidário ou doação de pessoa física. No momento que nós vivemos a eleição do ano que vem vai ser totalmente diferente, além de ser uma campanha sem dinheiro.

 

OP: Isso endossa as palavras de Marcelo Odebrecht de que nenhum político pode se eleger sem caixa dois?

ER: Eu não diria caixa dois, mas que é muito difícil por que como a pessoa vai fazer uma campanha? Como um presidente da República vai se deslocar de Brasília ao Rio Grande do Sul e no dia seguinte ele deve estar no Rio Grande do Norte e depois no Ceará? Ou vai ser alguém muito poderoso que usa seus próprios recursos e seu próprio avião? Precisa ser estudada com muita cautela a questão do financiamento para a campanha do ano que vem.

 

OP: Pela sua experiência, o senhor considera que os políticos que foram indiciados ou liberados para serem processados vão perder o mandato ainda antes do fim do atual mandato?

ER: Eu acho muito difícil, mas talvez um sim. Existe um número muito grande, tanto que o Supremo Tribunal Federal (STF) indiciou 108 pessoas com foro privilegiado, o que é julgado pelo Supremo, fora os outros que já foram indiciados e outros que ainda virão. Aí tem outra centena de pessoas que tiveram remetidos seus processos para sua origem, pois não têm mais foro privilegiado e serão julgadas em primeira instância. Quem tem mandato está no Supremo, então talvez um ou outro possa. Devem haver políticos que conseguirão provar sua inocência. Alguns conseguiram provar que receberam dinheiro de forma legal e o TSE entendeu, embora o dinheiro tenha sido dado da empresa para o partido e do partido para o candidato, o que também pode configurar caixa dois. A empresa de uma ou de outra forma seria beneficiada, segundo palavras de Marcelo Odebrecht no depoimento ao juiz Sérgio Moro.

 

OP: O senhor é um dos principais líderes do atual governo desde a sua eleição e vice-líder na Assembleia. Qual avaliação faz após essas crises políticas que o Governo do Estado enfrentou sobre a atual situação política do Paraná.

ER: Eu acho que só existe uma coisa que confirma os atos de cada pessoa: o tempo é a razão de si. O Paraná foi o primeiro Estado e o único que fez o ajuste fiscal em 2014 e 2015, e administrativo também, e nós pagamos muito caro por isso. Na minha cidade, Marechal Cândido Rondon, não fui entendido, mas agora é só ligar a televisão e abrir as páginas dos jornais para as pessoas verificarem que o Paraná fez o dever de casa. O Paraná contratou nos últimos anos mais de dez mil policiais, é o único Estado que concedeu reajuste de salários aos funcionários em 10,67% no ano de 2016, em 2015 foram três e o Paraná estava no meio. Neste ano o Paraná já implantou promoções e progressões, nesta semana  (passada) o governador disse que a partir de junho começa a pagar promoções e progressões que estavam atrasadas – antes de dezembro de 2016. O Paraná está com as suas contas em dia, enquanto outros Estados não conseguem pagar. Tudo isso se deve ao desgaste que nós tivemos, pois o ajuste que fizemos no Paraná custou muito caro. Ele foi explorado através de sindicatos que estão a serviço de partidos políticos e não estão preocupados com o desenvolvimento do Estado. Nós temos 11 milhões de habitantes e não podemos nos dar ao luxo de atender meia dúzia que está a favor de sindicatos. Nós contratamos algo em torno de 25 mil professores no Ensino Básico e Médio e mais de mil professores para as universidades. Nós temos no orçamento R$ 2,6 bilhões para investir nas faculdades, o que é de responsabilidade do governo federal, mas para isso é preciso alguns ajustes e felizmente nós fizemos.

 

OP: Quando o seu grupo político venceu a eleição em Marechal Cândido Rondon, gerou-se uma expectativa de que o município estaria numa situação privilegiada para receber obras do Governo do Estado. Várias obras nos últimos anos ficaram em stand by: o Contorno Oeste, o Batalhão de Fronteira e outras que a comunidade anseia receber. Quais obras de importância do Estado o senhor entende que podem ser concretizadas em Marechal Rondon até o fim do governo Beto Richa?

ER: Podemos dizer que no passado o Paraná foi discriminado pelo governo federal e graças ao ajuste fiscal que nós fizemos é o único Estado no Brasil que tem condições de obter empréstimos no BID. O Paraná se habilitou e já recebeu

US$ 65 milhões para aplicar na segurança. O Batalhão de Polícia de Fronteira está carimbado, os recursos estão depositados, falta concluir o processo para fazer a licitação e iniciar a sede própria do Batalhão. Esperamos que tudo isso possa acontecer ainda este ano, porque a questão pública é muito delicada. O Contorno Oeste está no BID com os US$ 350 milhões do Governo do Estado, que já está habilitado. Os técnicos do BID vieram ao Paraná e devem vir a Marechal Rondon para ver de que forma e onde será construído. São obras que interessam não só a Marechal Rondon, mas em todo um conjunto. Nós conseguimos através dos recursos do Governo do Estado reformar todas as rodovias: Missal a São Miguel do Iguaçu, Missal a Medianeira, Marechal Rondon a Nova Santa Rosa e Maripá, Nova Santa Rosa a Novo Sarandi, Quatro Pontes a Novo Sarandi e agora trabalhamos na recuperação da rodovia de Marechal Rondon a Pato Bragado, Entre Rios e Santa Helena, entre outras rodovias que o Governo do Estado está fazendo a infraestrutura necessária. Graças à eleição que nós tivemos sucesso, o prefeito Marcio Rauber já foi a Curitiba buscar recursos que devem ser depositados na área da saúde, buscou autorização de R$ 3 milhões junto ao Sedu para trocar as máquinas da prefeitura, além de outras obras encaminhadas. Não é só para Marechal Rondon, é assim com todos os municípios que procuram o meu gabinete para liberar recursos junto ao Governo do Estado.

 

OP: O senhor considera que a última eleição em Marechal Cândido Rondon fortaleceu a sua projeção política regional para disputar a eleição a deputado estadual em 2018? Ou o senhor não decidiu ainda se será candidato a deputado estadual ou federal?

ER: Cada eleição é sempre única e falta um ano e meio para as eleições. É lógico que há muita cobrança por parte de amigos, prefeitos e lideranças para que eu possa postular um outro cargo, mas em princípio eu devo ir para a reeleição de novo. É uma questão que a gente deve avaliar e estudar bem com os pés no chão, já que nós vivemos um momento político diferente. O que vai acontecer no Congresso Nacional? De que forma serão conduzidas as eleições, se é em forma de lista, lista fechada, listão ou voto distrital, nós não sabemos ainda, então devemos trabalhar com o que temos hoje. Tudo depende do trabalho que eu vou realizar em cada município e na região.

OP: Como um dos principais aliados do governador Beto Richa, o senhor acredita que ele vai ser candidato a senador?

ER: O Beto Richa está numa situação na qual ele precisa decidir o que vai fazer efetivamente. Se ele ficar no governo automaticamente o irmão e o filho dele não poderão disputar nenhum cargo, porque a legislação proíbe. Se ele se desincompatibilizar, deve buscar uma eleição para o Senado. Tudo isso ainda tem que ser costurado e a gente está trabalhando nesta questão. Por exemplo, o nosso grupo tem duas candidaturas em potencial: Osmar Dias e Ratinho Júnior. Podem surgir outras, mas que estão despontando são essas hoje. Temos quatro vagas, duas ao Senado, governador e vice e mais quatro de suplentes ao Senado. Tudo vai depender de que forma e de que jeito. Eu acredito que o Beto Richa – e ele mesmo sempre tem dito – teve um desgaste muito grande com as medidas que ele tem tomado em favor do Paraná, mas aos poucos a população está sentindo que as medidas feitas no Estado eram necessárias.

OP: O nome do Osmar Dias ter sido citado numa das listas de delações pode embaralhar ou dificultar a disputa do grupo de situação no Estado?

ER: Eu entendo que não. Ele foi apontado como quem teria recebido recursos também, mas é preciso ver de que forma recebeu os recursos. Eu tenho declaração do (Carlos) Lupi (presidente do PDT) dizendo que os recursos doados para a candidatura do Osmar Dias foram via diretório nacional e a responsabilidade o Lupi assumiu 100% como sendo do diretório nacional.

 

OP: Nós já tivemos uma eleição sem o Moacir Micheletto e agora provavelmente teremos uma sem o Dilceu Sperafico, os dois deputados que polarizaram as disputas regionais. O que o senhor acha que vai mudar nesse quadro?

ER: Eu acho que o Oeste do Paraná tem uma representação muito forte. Se tivéssemos o voto distrital teríamos três ou quatro deputados federais no máximo, porque o Oeste tem pouco mais de 700 mil eleitores, enquanto o colégio eleitoral é de quase seis milhões no Paraná. E deputados estaduais da mesma forma, porque se nós fossemos respeitar a proporcionalidade poderíamos ter seis no máximo. O (José Carlos) Schiavinato tem dito que é candidato a deputado, tem alguns que não se sabe se vão ou não. Primeiro tem que definir em Brasília sobre o que vai ser e depois o quadro político no Paraná, sobre quais composições. A gente tem que trabalhar. Eu não abandonei a minha base, estou mantendo, tanto é que toda semana estou na região. Se não for em um município, estou no outro.

 

OP: Na região o senhor fez dobradinhas com os deputados Sperafico, Evandro Roman, Alfredo Kaefer e Fernando Giacobo. Quais deles são os seus candidatos que terão maior projeção na região onde o senhor atua?

ER: Eu não tenho nenhuma candidatura ou dobradinha fechada em todos os municípios. Eu deixo que cada município possa fazer a sua escolha, a sua opção, até pelas próprias alianças e coligações que existem. No caso do Sperafico – que já tornou público que não é mais candidato a deputado federal – eu não tinha como dobrar com ele em Marechal Cândido Rondon porque o grupo político e o partido é adversário do meu grupo político no município. Mas, na região toda a minha maior dobradinha foi com o deputado Sperafico e a mesma coisa pode acontecer. Quem sabe eu dobre em Marechal Rondon com determinado candidato a deputado federal e em Quatro Pontes nós sejamos adversários, ou em Santa Helena, então é preciso respeitar muito essa coligação que existe em cada município. Por essa razão eu digo que sou a favor de proibir as coligações.

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