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Política

“Meu voto não é pró-Temer, mas de responsabilidade com o país”, afirma Roman

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O deputado federal Evandro Rogério Roman (PSD-PR) tem sido um dos parlamentares que está na linha defensiva do presidente Michel Temer (PMDB) para que a Câmara rejeite, na próxima semana, quando encerra o recesso legislativo, a denúncia por corrupção passiva apresentada pela Procuradoria Geral da República (PGR). Se isso ocorrer, o Supremo Tribunal Federal (STF) não poderá investigar o presidente enquanto ele ocupar o cargo. Caso contrário, ele poderá se tornar réu – se isso acontecer automaticamente será afastado da Presidência por até 180 dias.

Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Roman já votou contra a admissibilidade da denúncia, mesmo posicionamento que terá quando o assunto será levado ao plenário da Casa, possivelmente na quarta-feira (02). Em entrevista ao Jornal O Presente, ele garante que sua decisão em prol do peemedebista visa apenas manter o país na sua estabilidade econômica e política, e que não pode condenar alguém por “achismo” e evidências. No entanto, o parlamentar garante que se houver nova denúncia que comprove algum envolvimento direto de Temer seu posicionamento será contrário ao presidente. Confira.

 

O Presente (OP): O senhor foi relator do projeto de suplementação orçamentária para destinar R$ 49,5 milhões para a duplicação da BR-163 entre Marechal Cândido Rondon e Toledo. A matéria ainda não foi aprovada pelo Congresso, mas é possível ter uma expectativa de quando a obra será concluída?

Evandro Rogério Roman (ERR): Este projeto estava para passar agora pelo plenário do Congresso, mas houve a obstrução de um deputado da oposição. É uma obra que está orçada em aproximadamente

R$ 300 milhões. Até agora foram garantidos em torno de R$ 100 milhões com este aporte, mas restam mais R$ 200 milhões para concluir a obra. Vamos trabalhar para incluir esse recurso no orçamento para que o projeto possa ser concluído. O objetivo é que se não for possível terminar até o fim do ano que vem, que seja possível concluir em 2019. Mas a própria empreiteira garantiu que se houver recurso é possível concluir a obra em um ano, um ano e meio. O principal objetivo agora é não parar os trabalhos. Eu assumi a relatoria deste projeto para que os recursos que foram alocados sejam mantidos com esta finalidade, pois senão o dinheiro poderia ser redistribuído. Rejeitei nove emendas que queriam fatiar esse recurso e mantivemos de forma integral a este projeto de duplicação. Temos a garantia de que a obra terá continuidade. Agora a briga começa para garantir no orçamento do ano que vem mais recursos para que seja possível terminar a obra no menor espaço de tempo possível.

 

OP: O município tem hoje o senhor como um dos principais deputados que atendem Marechal Rondon, sendo o mais próximo do governo. O que representa essa nova formatação? Como está sendo para o senhor ter uma presença mais marcante no município?

ERR: Primeira coisa, mais responsabilidade e comprometimento. O prefeito Marcio Rauber (DEM) é uma pessoa que conheço desde quando cheguei a Marechal Cândido Rondon, em 1992. Crescemos juntos dentro das nossas escolhas acadêmicas. Eu conheço o prefeito numa linha bem certa do que ele pensa, dos valores que tem, dos princípios. É uma pessoa muito voltada às decisões da razão, mas tem um lado humano muito forte. Isso nos aproximou e fez com que tivéssemos essa afinidade. Hoje ele é prefeito e eu deputado federal. Tenho compromisso com Marechal Cândido Rondon para trazer o maior número de emendas e recursos para melhorar a qualidade de vida. Eu me identifico com o município, pois morei aqui quatro a cinco anos e possuo laços de amizade muito fortes. E digo que a palavra é comprometimento com o cidadão. Pode ter certeza que essa afinidade resultará em um excelente trabalho. 

 

OP: O senhor está na lista dos deputados que, recentemente, votaram na CCJ da Câmara contra a denúncia envolvendo o presidente Michel Temer, acusado de corrupção passiva. O que tem feito o senhor defendê-lo tão abertamente e incisivamente?

ERR: O Brasil não pode passar por uma situação dessa. Eu ouvi inúmeros prefeitos, presidentes de cooperativas, eu ouvi o Brasil que produz, que gera emprego, e todos foram unânimes no sentido de que acham que não é o momento de mexer nesta situação. Se ainda houvesse uma ação jurídica que ligasse diretamente a ação do Rodrigo Rocha Loures (ex-deputado federal) com o presidente, mas diretamente. No entanto, nem de forma indireta temos. Existem deduções, suposições, evidências, mas não existem provas materiais. Não sou da área jurídica, mas temos uma instrução muito grande neste aspecto e sou uma pessoa que foca pautado em provas. Em achismo não dá para condenar ninguém. As pessoas dizem que daríamos somente ao Supremo Tribunal Federal a possibilidade da investigação, mas se ele se tornar réu precisará ser afastado por até 180 dias do cargo. Se houver nova eleição, ela deve ocorrer em 30 dias, então aí já se vão sete meses. Pensando no Brasil e no Oeste do Paraná, bem como na instabilidade que isso iria gerar de forma econômica e financeira, penso que não podemos pagar esse preço por uma vaidade. Dois grandes amigos viveram juntos em uma amizade de 14 anos, PT e PMDB, e usufruíram das benesses de toda uma estrutura. Como várias amizades, de repente brigam. Nesta briga um saiu e como se sente magoado quer arrastar o outro ao preço da economia e do custo de uma nação. Não posso fazer um negócio como esse. Não morro de amores por Michel Temer, mas para que o PT o escolhesse de vice, pode ter certeza que alguma coisa tinha no ar. Mas agora tenho que ter a responsabilidade com o meu país. Tenho que ouvir as pessoas que me colocaram lá (na Câmara). Ouvi muitas pessoas e elas disseram: não dá. O Fundo de Participação dos Municípios (FPM) aumentou em junho 12%; a exportação está crescendo, a economia está reagindo. Mostrou-se que há uma cola entre a questão política e econômica. Então vamos deixar como está a questão política, sabendo que o presidente Temer terá que responder essa acusação depois. Meu voto não é pró-Temer, mas de responsabilidade com o país.

 

OP: O senhor é um dos poucos deputados do Paraná que já declarou voto contra a admissibilidade da denúncia. O senhor acredita que o presidente vai conseguir os votos necessários para barrar isso no plenário da Câmara?

ERR: Diria que o presidente faz entre 240 e 260 votos. Pode fazer mais, mas menos que 240 não acredito, pois várias pessoas têm a mesma linha de entendimento que eu. Nem todos votam com o Temer. Na verdade a grande maioria vota com o Brasil, com responsabilidade de um país que produz e gera empregos.

 

OP: Há muitos comentários de que após o senhor adotar essa postura de defesa incisiva ao Temer e ao governo teria conseguido emplacar ao menos dois nomes da região na Itaipu, em cargos relevantes. Isso confere?

ERR: As pessoas que foram indicadas aos cargos não têm nenhuma relação direta comigo, mas sim com o partido. As indicações ocorreram em abril, quando não havia nem chegado a denúncia ainda e ninguém sequer sabia. Os cargos foram levados ao partido, que fez o encaminhamento. Com o aval final, fizemos a distribuição dentro do PSD. Ninguém me chamou para discutir cargos na Itaipu ou sobre questão da liberação de emendas. 

 

OP: Na semana passada o governo decidiu elevar o tributo sobre os combustíveis. O senhor acredita que aumentar impostos é o caminho para melhorar o Brasil?

ERR: Imposto é péssimo e não há possibilidade de alguém gostar. Porém, é difícil em um país que não quer cortar privilégios. A partir do momento que houver a reforma da Previdência e cortar as superaposentadorias de servidores públicos e de políticos, pode ter certeza que isso irá diminuir. O que a população precisa entender é que enquanto não houver uma reforma tributária, previdenciária e política, tendo em vista que a reforma trabalhista já foi aprovada, por ter certeza que não há outra saída. Isto porque não podemos mais viver em um país em que há pessoas que recebem R$ 200 mil, R$ 250 mil em aposentadoria. Há um grupo de 37 milhões de pessoas no Brasil que são aposentadas. Destas, 34 milhões são da estrutura privada e recebem um total de R$ 900 bilhões, enquanto outras três milhões de pessoas eram do funcionalismo público e recebem R$ 1,3 trilhão. A diferença é muito grande. Então de servidor público não tem nada, porque servidor é para servir, e não ser servido. É um beneficiado da estrutura pública. Temos que rever essa situação, pois é impossível manter algo que o Brasil não aguenta mais. Se não mudar isso vai ter que aumentar impostos, seja um governo de direita, de esquerda ou de centro. Portanto, precisamos passar pelas reformas, caso contrário podem ter certeza que passaremos por dificuldades enormes pela frente. Ou faz ou quebraremos.

 

OP: Na sua opinião, Temer continua até o fim do mandato?

ERR: Diria que para o bem do Brasil. E se nada vir à tona que desabone ele diretamente e que aconteça diretamente com o presidente, o Temer tem que ficar. Caso surjam novas situações, como delações que o liguem diretamente a um crime, não existem condições. Agora nos indícios, achismos, evidências, como têm hoje, não dá para condenar alguém.

 

OP: Depois de tudo o que o Brasil passou nos últimos anos, tanto em termos de turbulências políticas como econômicas, é possível criar uma expectativa diferente na eleição do ano que vem?

ERR: Acredito que vamos passar por uma dificuldade muito grande pensando em eleições. Já se mostrou que o recurso privado não deu certo. Na verdade era recurso público, mas passava pela Odebrecht, JBS e por inúmeras outras empresas e que custava bilhões mais caro. No mundo só existem duas formas de fazer financiamento político: o privado, que está totalmente rechaçado, e o público. Mas como votar uma ação que vai tirar alguns bilhões de reais limpos de um caixa para colocar em uma campanha? Vai ficar anos-luz mais barato do que era anteriormente, mas é um dinheiro limpo que está ali. Então não sei ainda como vou me posicionar. A proposta não chegou, mas a população precisará entender que só existem duas formas de financiamento de campanha. Sobre o cenário político, temo a polarização da possibilidade do Lula (PT) ser candidato a presidente juntamente com o Bolsonaro (PSC). Eu temo isso, porque temos que buscar candidatos que representem equilíbrio e que deem segurança. Os extremos não são bons, porque os extremos dividem entre o “nós e eles”. Isso não é bom em nenhum lugar do mundo. Estamos carentes de nomes e isso é verdadeiro.

 

OP: O PSD tem como pré-candidato a governador em 2018 o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano, deputado licenciado Ratinho Júnior. Há comentários de que ele poderia deixar o Governo do Estado para disputar o Palácio Iguaçu de forma independente caso não tenha apoio do governador Beto Richa (PSDB). Há conversas neste sentido?

ERR: Existem, mas o PSD não coloca faca no pescoço de ninguém e não joga deste jeito. O que existem são tratativas e boatos. O Ratinho é 100%, definido em novembro passado, pré-candidato e está firme nisso. Ele será o nosso candidato ao Governo do Estado. Quem será nosso adversário aí depende. Agora avalia o seguinte: como um secretário vai permanecer no governo se ele não é o candidato apoiado pelo governador? É uma questão de sensatez. Caso em algum momento isso for divulgado por parte do governador Beto Richa de que o Ratinho não faz parte, ele tem que sair. É uma questão até visando deixar o governador livre para tomar seus posicionamentos.

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