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Política

Se eleito, Bolsonaro poderá ter ministro liberal na Fazenda

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Se dependesse só do deputado Jair Bolsonaro, virtual candidato à Presidência em 2018, ele levaria, provavelmente, a vida toda para tentar convencer os eleitores de que a sua propalada conversão ao liberalismo econômico é para valer. Ainda assim, ao final, talvez ele não conseguisse se dissociar totalmente do nacional-desenvolvimentismo, de viés estatizante, que marcou a sua trajetória política, cujos traços ainda estão presentes em suas declarações mais recentes sobre a economia. Mas, na semana passada, a guinada liberal de Bolsonaro recebeu um impulso inesperado. De repente, deixou de ser apenas um discurso eleitoreiro para ganhar mais consistência.

Ao revelar que estava "namorando" com o economista Paulo Guedes e que ele poderá ser seu ministro da Fazenda caso vença as eleições, Bolsonaro conseguiu criar um fato novo, para lhe render preciosos dividendos em sua tentativa de se apresentar como um "cristão novo" do liberalismo. Pode representar também um atalho importante para ele conquistar parte da classe média e da direita liberal, que resistem à sua candidatura.

É difícil dizer, hoje, se esse "noivado hétero", como armou Bolsonaro, ou o "encontro da ordem com o progresso", como declarou Paulo Guedes, vai virar casamento. Alguns analistas, como o economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e atualmente responsável pela fundação do Partido Novo, dizem que Guedes "conversa com todo mundo" e que os contatos com Bolsonaro darão em nada. Ideias liberais Outros questionam se, num eventual governo Bolsonaro, Guedes teria a autonomia necessária para implementar suas ideias liberais, embora quem o conheça arme não acreditar que ele se sujeitaria a ir para a Fazenda sem ter carta branca para trabalhar.

De acordo com o economista Rodrigo Constantino, um dos trombones da chamada "nova direita" – que surgiu no País nos últimos anos – e seu pupilo no Banco Pactual (BTG Pactual), do qual Guedes foi um dos fundadores, em 1983, ele "não aceitaria ser marionete de ninguém". Por ora, o que dá para armar com segurança é que Bolsonaro não poderia ter escolhido um nome melhor para tentar dar alguma credibilidade à sua conversão liberal.

Presidente do Conselho de Administração da Bozano Investimentos, voltada para a compra de participações em empresas, Guedes, de 68 anos, é talvez o mais liberal dos economistas brasileiros, embora não goste de se definir como tal. Ph.D. em Economia pela Universidade de Chicago o templo do liberalismo global, e um dos fundadores do Instituto Millenium, um centro de divulgação do pensamento liberal no país, ele poderá conferir um verniz à candidatura de Bolsonaro, inimaginável alguns dias atrás. "O Paulo Guedes é um craque", diz o economista Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, do Planejamento e da Agricultura.

Antes de se aproximar de Bolsonaro, Guedes estimulou o apresentador Luciano Huck, com quem manteve contato permanente desde 2016, a entrar para a política, por acreditar que a desconfiança da população nos políticos tradicionais e os escândalos em série de corrupção envolvendo autoridades dos mais altos escalões da República deverão favorecer a eleição de um "outsider". Mas Huck, pressionado pela TV Globo, que exigia uma rápida definição entre a sequência de sua carreira artística e o seu ingresso na política, anunciou a decisão de não se candidatar à Presidência em 2018. Sua desistência, que vinha amadurecendo nas últimas semanas, talvez possa fortalecer a aproximação de Guedes e Bolsonaro.

 

‘Sociedade aberta’

Apesar de acreditar que a liberalização da economia é a melhor forma de promover o aumento da riqueza das nações e a prosperidade geral, Guedes não se considera discípulo de Milton Friedman, Friedrich Hayek e Ludwig von Mises, que ocupam lugar de destaque na galeria dos grandes economistas libertários do século 20. Ele cultiva uma independência que o afasta das ideias convencionais dos liberais brasileiros e nunca se liou a um partido político. "Eu não me confino em nenhuma caixa", arma. "A liberdade intelectual é o valor que mais prezo”.

 

Band com inf. Estadão Conteúdo

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