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Unila ou Universidade Federal do Oeste do Paraná? Debate está aberto

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Uma sugestão apresentada pelo deputado federal Sérgio Souza (PMDB-PR) anda repercutindo na região e tem dividido opiniões. O governo federal enviou à Câmara Federal uma medida provisória (MP) que trata sobre o financiamento estudantil. O parlamentar, por sua vez, elaborou uma emenda a esta MP que transforma a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) em Universidade Federal do Oeste do Paraná (UFOPR). A sede da instituição permaneceria em Foz do Iguaçu, mas o objetivo seria expandi-la para o Oeste do Estado.

Conforme a emenda, “a UFOPR terá como objetivo ministrar Ensino Superior, desenvolver pesquisa nas diversas áreas de conhecimento e promover a extensão universitária, tendo como missão institucional a formação técnica e social de recursos humanos aptos a contribuir com o desenvolvimento regional”.

O texto também prevê que o Ministério da Educação (MEC) deve promover consulta aos campi de Toledo e de Palotina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) para saber se as unidades têm interesse em serem incorporadas à UFOPR.

Em entrevista concedida ao Jornal O Presente, o deputado federal explicou os motivos da sua proposta, enalteceu a importância de sua aprovação e avalia que a reação negativa à emenda envolve mais um posicionamento partidário ideológico. Confira.

 

O Presente (OP): Por que o senhor apresentou esta proposta e em forma de emenda a uma medida provisória, cuja tramitação é diferente de um projeto de lei?

Sérgio Souza (SS): É indiferente se foi por medida provisória ou não. Essa proposta não é nova. Essa conversa de mudar um pouco a finalidade da Unila e o propósito dela, que seja mais nacionalista e uma universidade que atenda parâmetros brasileiros, bem como da necessidade do Brasil atual, se estende há muito tempo. Tanto que o governo tinha inicialmente a intenção de enviar isso junto na medida provisória, mas acabou ficando de fora por uma razão ou outra, e tivemos pouquíssimo tempo para apresentar a emenda – cinco dias -, pois já ia entrar em recesso legislativo. O debate pode ser feito agora porque a medida provisória é uma proposta legislativa. A proposta legislativa pode sofrer adequações e adaptações durante o processo de sua tramitação, que leva quatro meses. Inclusive já me propus com a comunidade de Foz do Iguaçu, Cascavel e com lideranças do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD) de conversar a respeito, pois a Unila pode extravasar os muros da Itaipu. Ela pode ser uma universidade que atenda o desenvolvimento de uma região importantíssima para o Brasil e para o Paraná principalmente, que é o Oeste. Hoje temos uma universidade que não está dentro dos planejamentos do Oeste e do desenvolvimento oestino. Ela é uma universidade continental para atender em muitos casos uma ideologia bolivariana, que não sei se é isso que o Brasil quer e o que o Brasil precisa necessariamente. Há cursos excelentes e que devem continuar, como o de Medicina.

 

OP: O senhor mencionou a respeito de sair um pouco dos muros da Itaipu. Já houve uma conversa neste sentido com o diretor-geral da hidrelétrica, Luiz Fernando Vianna?

SS: Sim, no sentido da expansão. Conversei com o Vianna e ele esteve em Brasília, onde foi até o MEC para tratar sobre este assunto. Ele também esteve no meu gabinete e igualmente dialogamos a respeito disso. A Itaipu tem um papel fundamental para ajudar a Unila a se formar, mas a instituição é um órgão público independente e não vinculado à Itaipu.

 

OP: A Unila banca hoje o estudo de alunos estrangeiros?

SS: Em torno de 35% a 40% dos alunos são de outros países. O governo brasileiro suporta 100% do custo de ensino e mais a manutenção deste aluno no Brasil, mas neste caso não saberia dizer o percentual. E depois que este aluno se forma ele volta para o país dele.

 

OP: Isso significa que o aluno estrangeiro estuda às custas do governo brasileiro e depois vai embora sem dar nenhuma contrapartida ao Brasil?

SS: É justamente este debate que queremos travar também. São dois os pontos: o primeiro ponto é por que não a Unila sair dos muros da Itaipu e instalarmos campi da instituição no Oeste do Paraná, como, por exemplo, em Marechal Cândido Rondon, que ainda não possui nenhuma universidade federal. O ponto dois: será que o Brasil tem condições de suportar este modelo hoje? Quantos você conhece que tentam estudar em uma universidade federal e nunca conseguem garantir uma vaga por que não há (vagas) suficientes? E muitos que não têm condições precisam buscar uma universidade privada e custear o estudo. O que queremos é que no Oeste do Paraná tenha mais universidades e que estas instituições ajudem a região no seu desenvolvimento. Eu sei que não é possível garantir que as vagas fiquem para alunos que residem no Oeste, mas com toda certeza é possível garantir que a universidade fique no Oeste e que ajude no desenvolvimento regional.

 

OP: O senhor já conversou com lideranças do governo federal, como do MEC, a respeito desta proposta? Houve sinalização positiva?

SS: Conversei com lideranças do MEC por diversas vezes, inclusive com o ministro (Mendonça Filho). Vamos instalar um debate agora também com a comunidade da região Oeste do Paraná.

 

OP: Os campi da UFPR já instalados no Oeste do Paraná, como de Toledo e Palotina, serão incorporados à nova instituição?

SS: No texto da emenda eu sugeri que fossem consultados os dois campi – Toledo e Palotina – se há o desejo de pertencer à nova Universidade Federal do Oeste do Paraná ou não. É uma decisão deles. Até recebi uma manifestação da Universidade Federal (UFPR) que considero deselegante, informando que nós queremos amputar um braço, uma perna da instituição. De forma alguma. Poderia ter ocorrido uma conversa comigo, uma ligação, pois não tem nada disso. A intenção é abrir um espaço que já é da Universidade Federal para saber se os campi desejam permanecer como estão ou se preferem pertencer à Universidade Federal do Oeste do Paraná, o que é legítimo. A decisão é da instituição, e não minha como parlamentar. Eu só abri a possibilidade de uma consulta. E disse para alguns que me procuraram para falar sobre isso que este é um projeto de lei que está sendo discutido e pode ser moldado e modificado durante o seu processamento no Congresso Nacional.

 

OP: O senhor já esteve em Marechal Cândido Rondon para acompanhar um pleito de algumas lideranças locais no que se refere à busca da instalação de um campus da UFPR no município. Essa proposta de criação da UFOPR pode prejudicar ou beneficiar o município nesta reivindicação?

SS: Marechal Cândido Rondon é um dos grandes municípios do Oeste do Paraná e não tem nenhuma instituição federal. Entendo que precisamos e temos condições de trabalhar neste sentido. A Unila tem uma estrutura gigante, e essa estrutura pode ser difundida em outras cidades que não apenas Foz do Iguaçu. Uma das maneiras mais rápidas de levarmos uma universidade federal para Marechal Rondon é abrindo a possibilidade de expansão da Unila para o Oeste como um todo.

 

OP: Obviamente que quando se apresenta uma proposta a expectativa é que seja aprovada, mas o senhor imaginava que haveria uma reação tão rápida e de certa forma negativa de alguns setores?

SS: Vou dizer com toda tranquilidade: a manifestação é mais partidária ideológica contrária do que outro sentido. Eu vi, por exemplo, a ex-presidente Dilma (Rousseff, PT) gravando um vídeo e que cita inclusive meu nome ao falar sobre este assunto. Eu vi muitas manifestações de petistas com relação a essa proposta. Agora se você consultar a população do Oeste do Paraná para saber se ela deseja uma instituição que atenda a região como um todo ou não, eu duvido se não temos a grande maioria apoiando a expansão universitária para todo Oeste.

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