O Presente
Editorial

Do céu ao inferno

calendar_month 20 de fevereiro de 2018
3 min de leitura

É uma tarde de sol e calor, o Lago de Itaipu está cheio, banhistas com boias coloridas em formato de pato e outros bichos engraçados dividem espaço com cadeiras na parte mais rasa das prainhas de toda a região Oeste. Embaixo de uma grande figueira e sob um gramado verde vida, uma família prepara o churrasco de domingo. A mesa é posta carinhosamente com uma toalha que logo recebe compotas, pão, cuca e outras guloseimas. Nesse mesmo tempo, os carros passeiam pelas ruas e o som contagia os grupos de amigos. O colorido e agradável cenário é de um dia qualquer de veraneio no extremo Oeste paranaense, banhado pelas águas represadas do Rio Paraná.

Os dias passam. Restam apenas algumas fogueiras e lâmpadas insistindo com fracasso quebrar o breu da noite escura. Muitas pessoas deixam os parques, a temporada já não está mais tão atrativa para os banhistas, mas está chamando a bandidagem para transformar o cenário de alegria em insegurança, medo e prejuízos. O que era festa agora é uma zona do crime. Tráfico de drogas e armas, de anabolizantes e agrotóxicos invadem o Lago de Itaipu à noite. As quadrilhas e suas lanchas superpotentes dominam as águas que antes serviam aos patos e outros bichos. A polícia, (des) estruturada como está, pouco pode fazer. Não bastasse esse tipo de situação comum na fronteira, uma modalidade de crime voltou à tona nos últimos meses: o roubo de embarcações.

O crescente número de furtos e roubos de barcos, motores e equipamentos dessas embarcações no Lago de Itaipu tem preocupado autoridades de segurança e os proprietários desses veículos náuticos. Só no ano passado, 20 motores e embarcações, com seus equipamentos de bordo, foram levados por bandidos apenas em Porto Mendes, interior de Marechal Cândido Rondon, Guaíra e Santa Helena, três das principais prainhas artificiais formadas pelo reservatório. A onda de crimes, rotineira, mas acentuada nos últimos meses, causa grandes prejuízos, medo e insegurança, colocando na mira de bandidos não somente os proprietários das embarcações, mas a polícia e qualquer outro que cruze o caminho dessas quadrilhas.

É mais uma modalidade criminosa que, além de causar prejuízos e insegurança, pode com certeza alimentar o tráfico e o contrabando com essas embarcações, seja na troca por materiais ilícitos, seja na venda no mercado negro, seja até mesmo no transporte de drogas, armas e tudo mais que em minutos sai do Paraguai e chega à margem brasileira, geralmente em portos clandestinos que se multiplicam mesmo com o esforço das forças de segurança em desvendá-los e destruí-los.

O Lago de Itaipu é um importante instrumento para o desenvolvimento do Brasil. Afinal, é com ele que a hidrelétrica binacional ostenta o título de maior geradora de energia do planeta. É ainda um recanto para as famílias da região, que usufruem dos esportes náuticos, da pesca, do contato com o meio ambiente. Mas é também um antro de crimes das mais diversas naturezas que acontecem cada vez mais seguidamente. Por um lado, colorido e alegre, por outro, obscuro e sinistro.

 
Compartilhe esta notícia:

Este website utiliza cookies para fornecer a melhor experiência aos seus visitantes. Ao continuar, você concorda com o uso dessas informações para exibição de anúncios personalizados conforme os seus interesses.
Este website utiliza cookies para fornecer a melhor experiência aos seus visitantes. Ao continuar, você concorda com o uso dessas informações para exibição de anúncios personalizados conforme os seus interesses.