O Presente
Editorial

Frangos e outros frangos

calendar_month 6 de março de 2018
3 min de leitura

A BRF, maior exportadora de frangos do mundo, perdeu nada menos que R$ 4 bilhões no dia de ontem (05). Após as notícias da Operação Trapaça divulgadas na manhã desta segunda-feira, com a prisão do ex-presidente e mais dez acusados de fraudar laudos laboratoriais que atestam a qualidade dos alimentos, o preço das ações da gigante dos alimentos caiu quase 20%.

Mais uma vez, meia dúzia de corruptos e corruptores colocam em xeque um dos mais importantes setores do agronegócio brasileiro. É mais uma traulitada para o ramo de proteína animal. Para todo o setor, isso porque quando o assunto é agronegócio o imaginário popular coloca tudo e todos em um mesmo balaio.

Diferente de outros negócios, como a moda, a medicina etc, o agronegócio é julgado – e condenado – de maneira generalizada. Se um errou, todos são culpados. Pelo menos para uma ampla maioria desinformada e alienada. Se comprovadas as irregularidades, a BRF e as pessoas terão que pagar pelos seus atos exemplarmente, mas é preciso sustentar todo o restante da cadeia que trabalha de forma honesta, ordeira e ética de Norte a Sul do país.

Prova concreta desse senso comum é que outras grandes companhias do setor alimentício, que não têm nada a ver com as tramoias ontem descortinadas, também tiveram tombos significativos no preço de suas ações na Bolsa de Valores. Tudo deveria estar descolado, mas isso não acontece.

De toda forma, a imagem mancha o setor de carnes, um ano após a primeira fase da Operação Carne Fraca, que investiga o envolvimento de agentes públicos e alguns frigoríficos em atos ilegais. Isso invariavelmente vai afetar, mesmo que por poucos dias, o consumo interno e as vendas externas, especialmente do frango.

Justamente o frango, barato, acessível e líder nos embarques brasileiros de carnes, para mais de 150 países. A carne de frango é disparada a mais consumida no Brasil. Em 2017, a média per capita ficou em 42 quilos da ave, contra cerca de 30 quilos de carne bovina e 15 de carne suína. Grelhado, assado inteiro, ao molho, em pedaços, à passarinho, ele é íntimo de toda população. Vale ressaltar: pode comer frango à vontade. Ele não causa riscos à saúde pública, pois os processos de cozimento e/ou fritura eliminam quaisquer possibilidades de agentes infecciosos promoverem malefícios à saúde do consumidor.

O setor avícola, do produtor rural à indústria, precisa agir rapidamente para evitar que os danos à cadeia sejam ainda mais acentuados. Por trás da produção de frangos, aliás muito ligada à região Oeste do Paraná, uma das principais produtoras dessa proteína no Brasil, não está apenas a BRF, estão milhões de produtores integrados, profissionais das linhas de produção, dirigentes de empresas e cooperativas idôneas, fabricantes de equipamentos, veterinários, entre tantas outras pessoas que dependem diretamente da avicultura.

É preciso cobrar respostas, punir envolvidos em trapaças, mas especialmente blindar um setor que se fragiliza rapidamente com qualquer infortúnio, mesmo tratando-se apenas de questões pontuais.

 
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