Até pouco tempo atrás produzir peixes no Oeste do Paraná era sinônimo de risco iminente, quando não de calote. Muitos produtores, depois de longos períodos engordando os animais e com custos elevados, vendiam suas produções para frigoríficos de outros Estados, mas na hora de receber ficavam a ver navios. Era um calote em cima do outro, o que desanimou muita gente que lidava com a atividade nas pequenas propriedades rurais.
O cenário mudou drasticamente com o envolvimento das cooperativas agropecuárias, que assumiram papel de protagonistas no sistema de integração. A cooperativa dá o alevino, a ração e a assistência técnica e garante a compra dos peixes, enquanto o produtor tem custos com energia elétrica e mão de obra, basicamente, recebendo seus lucros no fim de cada ciclo. A imersão das cooperativas mudou o cenário, transformando o Oeste paranaense no maior produtor de tilápias do Brasil.
Mais que gerar renda extra no campo, empregos na indústria, a carne de peixe vem ganhando mercado por sua destacada saudabilidade. O filé de tilápia, que acabou com os intragáveis espinhos que tanto incomodam quem come peixe, revolucionou o mercado e vem conquistando clientes de Norte a Sul.
Mesmo assim, o brasileiro consome menos peixe que o recomendado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A média fica em torno dos 10 quilos/per capita/ano, sendo que o mínimo recomendado é de 12 quilos. No entanto, há regiões em que o consumo é muito maior, como o caso do Norte, onde a média chega a 50 quilos por ano, o que quer dizer que tem muita gente que come pouco ou quase nada de peixes. Ou seja: há muito espaço para crescer.
As vendas crescem mesmo no período da Quaresma, quando muitos católicos abdicam de outras carnes sob a ótica da penitência. Trocam carnes vermelhas, por exemplo, por peixe, dando mais celeridade às vendas e mais lucros aos produtores e à indústria. É a alta temporada dos pescados, que só deve acabar na Páscoa.
Há, no entanto, obstáculos que precisam ser transpostos para que o consumo de peixes seja maior no Brasil. O primeiro deles é o preço: via de regra, os peixes são caros no Brasil, especialmente em locais distantes das costas brasileiras. Até o filé de tilápia produzido no quintal de casa ainda tem um custo bastante “salgado”. O outro é a disponibilidade. Além do filé de tilápia, são raros os peixes encontrados. Quando são, são congelados. De maneira geral, produtos frescos não chegam às gôndolas rondonenses.
A cadeia da tilápia está em franca expansão, crescendo dois dígitos por ano no Brasil, mas o país ainda precisa melhorar sua relação com o peixe. É um alimento seguro, rico em importantes nutrientes necessários para a alimentação dos seres humanos, mas ainda está distante do prato das pessoas. O caminho vem sendo trilhado, mas é preciso popularizar mais o peixe, investindo em tecnologia de produção para reduzir seu custo e, assim, melhorar a aceitação pelo mercado consumidor. O Oeste do Paraná e o Brasil têm tudo para operar a multiplicação dos peixes.
